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    Entrevista exclusiva - Diretor Carlos Gerbase fala sobre o filme brasileiro Menos que Nada

    Filme chega hoje aos cinemas, na TV fechada, na internet e também em DVD.

    por Francisco Russo

    Após ter dois filmes lançados pela Casa de Cinema de Porto Alegre - Tolerância e Sal de Prata -, o diretor Carlos Gerbase resolveu deixar a empresa e lançar uma produtora própria, a Prana Filmes. É através dela que rodou 3 Efes e Menos que Nada, que chega aos cinemas brasileiros em 20 de julho. Em visita ao Rio de Janeiro para a pré-estreia na cidade, o diretor concedeu uma entrevista exclusiva ao AdoroCinema. O resultado você pode conferir logo abaixo.

    Da esquerda para a direita: Rosanne Mulholland, Felipe Kannenberg, Branca Messina, Carlos Gerbase e Elisa Volpatto

    Tudo ao mesmo tempo agora

    Menos que Nada segue a mesma proposta explorada por Carlos Gerbase em seu filme anterior, 3 Efes, com o longa-metragem sendo lançado simultaneamente nos cinemas, na TV fechada, em DVD e na internet. O diretor contou como surgiu a ideia. "Esta proposta tem origem na experiência da Casa de Cinema de Porto Alegre com lançamentos tradicionais. Acho que este tipo de lançamento para filmes que não tem dinheiro e mídia suficientes é um tiro no pé, pois a grande maioria nasce na sexta-feira e está morta na segunda. Isto é muito triste, para os realizadores inclusive, que ficam quatro anos fazendo um filme e, quando vão lançá-lo, recebem um balde de água fria. O que deveria ser um momento de alegria acaba sendo de decepção."

    "90% dos filmes brasileiros não dão certo"

    Gerbase comentou ainda sobre a incoerência do atual modelo de lançamento do cinema nacional. "90% dos filmes brasileiros não dão certo. Os que dão certo são aqueles que recebem um apoio de marketing suficiente para fazer com que estes primeiros três dias tenham público. Ou seja, importamos para o Brasil o modelo norte-americano do primeiro fim de semana. Só que temos que importar também todo o dinheiro usado no lançamento para que um filme possa se sustentar neste período. Do jeito que fazemos aqui considero uma burrice sem tamanho."

    Cinemas x internet

    O diretor contou ainda como nasceu a proposta das múltiplas plataformas ao fazer seu filme anterior. "Fiz em 2007 um filme chamado 3 Efes, muito pequeno, bem menor que Menos que Nada. Era um filme que não teria nenhuma chance no mercado de salas. Estou repetindo o modelo porque acho que deu certo. 3 Efes fez 2.500 pessoas nas salas de cinema e 135 mil na internet. Qual plataforma você vai privilegiar quando for lançar outro filme?", perguntou.

    "É claro que quero que as pessoas vejam o filme na sala de cinema, mas na realidade do mercado brasileiro sei que vou conseguir atrair mais gente na internet e na TV. E não é só público, financeiramente também é melhor. O Terra entrou no projeto ainda no roteiro do filme e este dinheiro colocado foi fundamental na finalização", complementa o diretor.

    Gratuito por 45 dias

    Apesar da proposta ser a mesma, algumas mudanças foram feitas no lançamento na internet de Menos que Nada. Gerbase explica. "O que fizemos um pouco diferente agora foi que o filme entra em streaming, gratuito, por 45 dias. Qualquer pessoa que quiser vai lá, clica e assiste. Depois deste prazo será preciso pagar uma taxa, como os demais filmes disponíveis. Imagino que nestes 45 dias ele já fará um público bem legal, com certeza bastante superior ao das salas de cinema." Clique aqui para assistir online ao filme Menos que Nada.

    A (in)utilidade dos festivais

    Menos que Nada chega ao circuito numa época em que blockbusters como O Espetacular Homem-Aranha, Valente e A Era do Gelo 4 dominam as salas de todo o país. O diretor explicou o porquê de lançar seu filme exatamente nesta época. "Acredito que um filme pequeno como este não pode ficar muito tempo enrolando antes de lançar. A primeira alternativa é rodar os festivais, mas para que? Para apresentar o filme? Para que as pessoas vejam? Você ganha um festival e é lançado sete meses depois, de que adianta ter ganho o prêmio? Os festivais ajudam diretores e cineastas em início de carreira, que querem marcar seu lugar, para mim não faz diferença mais."

    Apesar da posição cética, ainda assim Gerbase pensou em lançar Menos que Nada em um festival de cinema. "A nossa estratégia era lançar o filme em Paulínia, que seria em junho. Assim aproveitaríamos o marketing do festival e lançaríamos o filme rapidamente, em julho. Algo que cansamos de fazer em Gramado, na época do super 8." Vale lembrar que a edição deste ano do Festival de Paulínia foi cancelada pela prefeitura local.

    Psicanálise

    Um dos aspectos do filme que mais chama a atenção é o fundo psicanalítico da pesquisa realizada pela personagem de Branca Messina, a doutora Paula. Carlos Gerbase explicou como nasceu a ideia. "A origem de tudo é um conto do Arthur Schnitzler, 'O Diário de Redegonda', que é contemporâneo do Freud. Gostei do conto porque ele falava de um cara que se apaixonava perdidamente por uma mulher e não tinha a menor chance que esta paixão fosse real. (...) Para mim o grande lance do filme é ser uma investigação. Ela é um detetive que está indo atrás das razões, que é o que um psicanalista faz. Esta personagem não existe no conto, eu é que criei no roteiro", revela o diretor.

    "Não sou um grande conhecedor de psicanálise, apesar de ter lido bastante, mas tentei fazer com que o filme não fosse didático. Até porque não tem muito como ser didático na psicanálise, são um monte de interrogações."

    O diretor nos sets de filmagens de "Menos que Nada"

    Pesquisa de campo

    Carlos Gerbase contou como foi a preparação do elenco antes das filmagens. "Reuni o elenco em Porto Alegre, onde falei bastante a respeito e vimos filmes. Um deles foi O Nome Dela é Sabine, um documentário feito pela Sandrine Bonnaire sobre a irmã dela, que tem um caso de autismo regressivo. Aquilo já causou um certo impacto."

    "Tanto o Felipe (Kannenberg) quanto a Branca (Messina) foram pro hospital São Pedro, onde a gente filmou. Damos outro nome porque aquela instituição não existe, o prédio não tem trabalho clínico, mas está lá. Há muitos internos lá ainda, que passeavam pelo set. Eles ficaram uma semana na ala dos esquizofrênicos, o Felipe dentro da ala e a Branca grudada em uma psiquiatra. Então eles tiveram acesso a um mundo real, que é triste, complicado, mas ao mesmo tempo fascinante. Foi uma entrega muito grande deles", disse o diretor.

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