Mesmo que o David Fincher que dirigiu este Alien³ fosse o David Fincher que dirigiu obras-primas como Se7en, Clube da Luta, Zodíaco, A Rede Social ou Garota Exemplar, acredito que seria muito difícil conseguir bons resultados em cima de um roteiro tão mal desenvolvido e pouco aprofundado na concepção de tantos personagens que deveriam ser supostamente complexos – e ainda repleto de soluções e erros gritantes. A verdade é que para este primeiro longa-metragem para cinema do estreante diretor (que até então era reconhecido apenas como um dos maiores diretores de videoclipes do mundo da música) o que realmente mostra-se o maior problema é o fato dos produtores confiarem no projeto – ou seja, muito provavelmente, a ambição do novato cineasta foi diminuída em meio às pressões dos executivos do estúdio – embora, visualmente, este terceiro filme da saga seja um dos mais belos – em enquadramentos e fotografia que refletem bastante o estilo de Fincher.
Com a ideia de voltar ao clima e tensão do filme original, sem o ritmo acelerado de ação do segundo longa, o roteiro de David Giler, Walter Hill, Dan O’Bannon e Vincent Ward (muitas mãos no mesmo roteiro nunca são um bom sinal) tenta encurralar os personagens dentro de um ambiente só - contra apenas um alien, ao invés de dezenas como em Aliens, O Resgate. Aparentemente, é mais difícil combater um alienígena do que vários, como este filme tenta mostrar. Mas a história é tão desmotivada e carente de novos personagens interessantes que fica difícil apreciar melhor a obra.
Ripley, na capsula em que fugiu no filme passado, cai em um planeta prisão, onde cerca de 24 criminosos da terra cumprem pena por seus crimes. Ao acordar, ela nota que foi a única sobrevivente, já que a menininha Newt e o capitão Hicks faleceram na viagem – misteriosamente. Sem ter certeza se o alien veio junto, Ellen não revela inicialmente a ameaça, mas logo ela vai descobrir que o terrível xenomorfo deixou um ovo na nave, que logo nasce e começa a matar os prisioneiros na base – muito longe da terra para uma equipe de resgate chegar a tempo.
Os furos já começam logo de cara – e por favor não leia este paragrafo se você ainda não assistiu o filme – como o Alien infectou Ellen se ela esteve o tempo todo dentro da câmera de hibernação? E por quê ela não tentou avisar logo os prisioneiros de que o alien poderia ser o responsável pelas primeiras mortes e tentar ajuda-los? Apesar de ser curiosa a forma como o Alien agora evita matar Ripley por ela estar carregando um Alien dentro dela, o tom de sacrifício que a narrativa quer passar jamais é sentido totalmente – ou seja, o momento que era para ser um dos mais importantes do filme (e da série) torna-se quase ridículo – seja por sua encenação ou má elaboração.
Ainda da época “pré-Jurassic Park”, os efeitos digitais do longa se mostram irregulares, até para a época – a primeira aparição do Alien é bacana, com ele saindo da barriga de uma vaca morta – mas outros momentos, como os movimentos falsos para mostra-lo escalando paredes e tetos, mostram-se bem inconvincentes – com o uso do velho “chroma key” escancarado – salve-se alguns momentos devido ao cuidado do diretor em tentar garantir um clima de tensão – como a clássica cena em que o Alien encara Ripley de frente – otimamente enquadrada pelo diretor – com os cabelos raspados, o visual de Weaver neste filme é chamativo, e condizente com o estado triste em que sua personagem passa – a força da atriz é o que garante garra e urgência a Ripley ainda.
Isso seriam apenas detalhes caso não estivéssemos diante de um roteiro tão ruim em criar personagens – e, pior ainda, não ter a menor noção de como inserir questionamentos sobre religião e crença em Deus diante dos protagonistas, soando maçantes várias vezes – o Dillon de Charles S. Dutton consegue ser o destaque, por ser um homem que tem apenas a fé em Deus como alimento para sua vida na cadeia – mas os roteiristas deixam o resto à deriva, como as razões absurdas do problemático Golic de Paul McGann ver o Alien como um tipo de deus; além do romance mal resolvido de Ripley com o médico Clemens de Charles Dance.
Enfim, é um filme chamativo para quem gosta da série, por tentar aprofundar os sentimentos de sua ótima protagonista, mas uma experiência pouco agradável para os demais – sua longa (e desnecessária) duração mostra como é um projeto aborrecido e pouco elaborado, tornando-se o primeiro deslize da franquia.