O capítulo dois de "O DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO", de 1986, consegue ser melhor que o original. Trata-se de uma reunião de amigos do professor universitário Rémy (Rémy Girard), o mesmo grupo do primeiro filme, pois ela sofre de câncer e está à beira da morte. Em suma, uma espécie de "O REENCONTRO", filme no qual as antigas utopias da época da juventude são confrontadas com a realidade nua e crua. O cerne do filme está no choque entre a realidade e a ideologia, entre teoria e prática. Rémy sempre defendeu uma sociedade socializada ao longo de sua vida. No entanto, o que ele enfrenta nos estertores de sua vida é um hospital superlotado, com leitos espalhados por todos os corredorres, os médicos não sabem o nome dos seus pacientes, além da falta de condições de infra-estrutura. Notem: estou falando do Canadá e não de nenhum país de terceiro mundo. Foi pela utopia de uma sociadade melhor e mais igualitária que Rémy lutou toda a sua vida. E os espectadores se certificam da derrocada desse projeto. O seu filho, Sebastien (Stéphane Rousseau), um yuppie de carteirinha, que trabalha no mercado financeiro e pouco lê (para desespero do pai) é que chega e resolve a situação do pai. Ele suborna alguns membros do sindicato que dirige o hospital, cria uma suíte para o pai passar os seus últimos dias junto dos amigos. Sébastien consegue - através do dinheiro, é claro - que o pai faça uma ressonância magnética por emissão de prótons nos EUA. Também "compra" alguns dos ex-alunos do pai para que o visitem no hospital. O capitalista do mundo globalizado do século XXI é que resolve as questões práticas do seu pai, cujo idealismo de sua geração se esvaiu pelos ralos dos serviços públicos canadenses. O título do filme se refere aos ataques terrorista de 11 de setembro de 2001. E a melhor parte são os diálogos entre os amigos reunidos no quarto de hospital de Rémy quando eles discutem que a história do homem está intimamente ligada a atrocidades infinitamente maiores do que as de 11/9. A aniquilação indígena da América, dos presos políticos da URSS de Stálin e o holocausto da segunda guerra mundial. O personagem principal faz uma revisão de sua vida, os momentos importantes, as imagens que o marcaram, as mulheres que teve e de suas conquistas. No final, o que fica para a posteridade são as nossas obras, pois os homens passam. Um filme brilhante, de um diretor que não é tão prolífico quanto deveria. Se o declínio do império americano é irreversível, que ao menos nos forneça filmes como "AS INVASÕES BÁRBARAS".