Sou fã de carteirinha de Scorsese desde que assisti "Alice não vive mais aqui", em 1975. O homem é um mestre da sétima arte, e sempre acalentei o sonho de poder ter aulas com ele no curso de cinema da New York University. A devoção que Scorsese tem pelo cinema é a mesma que Howard Hughes (Leonardo di Caprio) nutria pela aviação. Isto não significa que o transtorno obsessivo-compulsivo do multi-milionário norte-americano excêntrico também seja aplicável ao diretor de "O touro indomável". As filmagens de Hell´s angels, o primeiro filme de Hughes, que custou $ 4 milhões, uma quantia exorbitante para a época, cheia de problemas devido ao número excessivo de aviões, a falta de nuvens foram meticulosamente colocados por Scorsese. Por sinal, a opção do diretor foi pela ligação de Hughes com a aviação, além de seus relacionamentos com algumas das estrelas da época (décadas de 20, 30 e 40 do século passado). Os filmes de Howard Hughes assumiram um plano secundário na trama de "O aviador". A recriação dos clubes de Los Angeles onde Howard Hughes passou boa parte de sua vida é simplesmente sublime. Os adereços, o clima, os intrépidos, como, por exemplo, o astro Errol Flynn (Jude Law, num pequeno papel), tudo é extraordinário. A aventura amorosa mais retratada envolveu a atriz Katherine Hepburn (esplendorosamente vivida por Cate Blanchett). Ao que parece o sr. Hughes teve uma série de amores, porém, nunca se recuperou do fato de ter sido abandonado por Kate Hepburn. Vieram Faith Modergue (Kelli Garner), uma menina de 15 anos de idade, Ava Garner (Kate Beckinsale) e algumas outras até a reclusão completa de Howard Hugues. A obsessão do milionário com a criação de aviões que pudessem ser utilizados pela aviação americana na segunda guerra mundial, a luta entre ele e Juan Trippe (Alec Baldwin em ótima performance) da PAN AM pela liderança no mercado de aviões, com a intermediação do senador corrupto Ralph Brewster (Alan Alda). As duas melhores cenas são a queda do avião pilotado pelo milionário em Beverly Hills, que quase lhe custou a vida, e o almoço que ele teve com a família de Kate Hepburn, onde ele foi humilhado pela sua falta de cultura. O filme poderia sofrer alguns cortes, sem que houvesse perda de qualidade. Leonardo di Caprio jogou todas as cartas nesta empreitada que deve resultar no Oscar de melhor ator. O filme está longe de ser o melhor da obra seminal de Scorsese, mas nos mostra com uma vividez incomum o que foi a vida de Hughes e, secundariamente, os EUA da primeira metade do século passado.