Dogville (2003) de Lars von Trier, trata-se de co-produção dos países Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Reino Unido, França, Alemanha e Países Baixos que entrou para a história como um dos melhores e mais inusitados filmes do século XXI. Usando como cenário um palco em que as marcações são feitas a giz no chão, o diretor provou que a força de um filme está em seu enredo bem elaborado e na maneira como contá-lo. Um filme bem longo para os padrões, que se estende por quase três horas , mas de maneira alguma é cansativo ou retórico, o espectador fica hipnotizado com os personagens que vão se mostrando cada vez mais e circulam por aquele cenário simples e, ao mesmo tempo, bem inusitado. Uma jovem chamada Grace (Nicole Kidman, irretocável), é perseguida por mafiosos e pela polícia se refugiando em Dogville. O diretor expõe de forma brilhante a hipocrisia, insensibilidade e as vantagens servis que a jovem forasteira pode proporcionar à comunidade. Uma sociedade perversa, ignorante e violenta. Há várias referências críticas aos Estados Unidos, que vão desde nomes como Tom Edison, James Caan na pele de um mafioso, a presença da própria Nicole Kidman. Em 1995 junto aos seus colegas dinamarqueses, Las von Trier assinou o Manifesto Dogma, com propostas de retirar o cinema de seu torpor e fascínio desmesurado e escravizado pelos efeitos especiais. Em Dogville atingiu de maneira crucial seu objetivo, câmera na mão, ausência de trilha sonora e de deslocamentos temporais ou geográficos. Quem não se afeiçoar a essa aula de cinema quase teatral, não pode ser considerado um cinéfilo. Dogville foi indicado a Palma de Ouro no festival de Cannes e somente rendeu ao diretor o Prêmio do Cinema Europeu de melhor realizador. Uma grande injustiça desconcertante para uma obra-prima inigualável.