É O HORROR, É O HORROR!
A expressão que dá título ao post é dita pelo capitão Willard, no Filme "Apocalypse Now" (1979), de Francis Ford Coppola. A expressão, ou melhor o estado de ânimo também pode ser encontrado no livro "Coração das Trevas", de Joseph Conrad, publicado em 1902.
O filme, cuja livre inspiração no livro, se passa no contexto da Guerra do Vietnam. O livro trouxe a luz a história da exploração de marfim, na África, na virada do século XIX para o Século XX. A força do livro é comprovada também por Mario Vargas Llosa, em seu magistral "O Sonho do Celta", cujo personagem central o embaixador Irlandês, que serviu ao império britânico também no período do final do Século XIX e primeiras décadas do século XX, toma contato com o livro quando de suas andanças pelo Congo, como embaixador do Reino Unido.
Roger Casement, é esse personagem, que também esteve na África, mais especificamente no Congo e para além do serviço de representação diplomática, impregnou seus relatórios sobre a exploração e barbárie contra os africanos praticadas pelo serviço de exploração de látex, pelo governo Belga, comandado pelo rei Leopoldo II da Bélgica, então detentora de grandes extensões do território do Congo, na partilha colonialista do território africano nos estertores do século XIX. A extração do látex e outras riquezas naturais, mais a vida de milhões de congoleses foram relatadas e documentadas pelo embaixador.
Esses relatórios ao Foreign Office, impactaram o mundo quando ganharam manchetes nos noticiários internacionais. A tal ponto, que o serviço diplomático do governo britânico encomendou um novo serviço ao celta Roger Casement. Seguir viagem para a América Latina, chegar ao Peru, e no coração da selva amazônica, em Putumayo, verificar com seus olhos e apurar como a "Peruvian Amazon Company", empresa de Julio C. Arana, um peruano a serviço do império, realizava os trabalhos visando a extração, mais uma vez do látex, destinado ao fabrico de uma infinidade de itens com a borracha, para o mundo desenvolvido. Mais uma vez, o horror constatado e relatado por Roger Casement, causou furor e ganhou as páginas da imprensa internacional, promovendo protestos e mudanças em mais uma página negra do colonialismo, responsável aqui pelo massacre de inúmeras nações indígenas na selva amazônica, no Peru, país, como sabemos, onde nasceu Mario Vargas Llosa.
As duas passagens, que consumiram a saúde e décadas de trabalho de Roger Casement, levaram ao Irlandês tomar consciência de que o Império Britânico fizera o mesmo com o povo do "Eire", a Irlanda atual também conhecida como a "Esmeralda do Atlântico". Enfim, os celtas, na expressão de Casement, retratada por Vargas Llosa, foram "os índios da Irlanda" e sofreram ao longo de séculos, o atroz processo de violência institucionalizada e destruição da liberdade e da cultura irlandesa, tal qual, o procedimento perpetrado pelo colonialismo, na África e na América Latina. Diante disso Casement passou a ser um membro ativo da luta pela libertação da Irlanda do jugo do Império Britânico. A trama da vida, trabalho e luta estão magistralmente trazidos à luz pelo "O Sonho do Celta", do prêmio Nobel de Literatura, Mário Vargas Llosa; uma obra prima da literatura, humanismo e compromisso com a justiça e a verdade.
Pois bem, o capitão que vai à selva do Camboja para matar o Coronel Kurtz, desertor do exército americano na Guerra do Vietnam, ao cabo, parece ter enlouquecido. Lidera e pratica atrocidades comandando um exército de nativos na selva cambojana. O enviado realiza literalmente uma viagem ao coração das trevas, cuja câmera de Coppola retrata de forma soberba; é o horror da Guerra do Vietnam.
O horror, retratado por Joseph Conrad, nas histórias do Congo e Potumayo, no Peru, reveladas ao mundo pelos "report's" de Roger Casement, que foi morto enforcado por "alta traição" ao Império Britânico, quando deixou de servir ao império para lutar pela independência e liberdade da Irlanda. Enfim, todas essas histórias que se entrelaçam e estão intimamente relacionadas, demonstram como ainda é viva a expressão nos tempos atuais e, infelizmente, atualíssima.
Não seria assim se toda a barbárie e genocídios já tivessem sido efetivamente superados no continente africano, nas nações do extinto império soviético, no leste europeu (quem não se lembra do horror da guerra dos Balcãs?), ou no mundo árabe, cuja primavera, na verdade escancara ao mundo, o inferno de horrores que grupos de assassinos sem causa,como o Isis cometem.
O horror, é uma obra permanente do ser humano, cujo ventre continua fértil, desova víboras cuja capacidade de destruição é insondável. Ainda bem que há a literatura e o cinema não apenas para denunciar, mas fomentar consciências nesta luta sem tréguas e sem fronteiras para aplacar a ira dos infames! (PA)