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    Contra a Parede
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Contra a Parede

    “Obrigado pela audiência”

    por Taiani Mendes

    Fernando Collor de Mello virou presidente do Brasil apoiado na alcunha “Caçador de marajás” e Antonio Fagundes apresenta a poucos meses de aguardadas eleições nacionais o “Caçador de corruptos”. Esqueça O Doutrinador, que só estreia em setembro, pois o justiceiro aqui não tem preparo físico para agitar protestos, porte legal de armas ou uma máscara preta no rosto em nome do anonimato. Influência, fama, prestígio, contatos e a bancada de um telejornal diário em horário nobre são os poderes de Cacá Viana (Fagundes), protagonista de Contra a Parede.

    Produzido pelo ator e dirigido por Paulo Pons (Vingança), o longa-metragem chega à TV Globo e ao streaming “em cima do lance”, apresentando trama sobre ética e corrupção que se passa meses antes de nebulosas eleições presidenciais em que os grandes partidos PMB e PG perdem espaço para uma terceira via. Não é difícil desvendar os códigos (fala-se em marolinha e vice manipulador), tampouco identificar o Brasil do filme como o Brasil atual que boa parte da sociedade enxerga: empesteado pela corrupção em todas as esferas, sem qualquer político confiável, uma nação em que nada funciona. O Dr. Gregory House (Hugh Laurie) tinha como frase-assinatura o “todo mundo mente” e Cacá repete com semelhante regularidade o “todo mundo é corrupto”.

    Às vésperas de se aposentar, o dinossauro do jornalismo tem esperança de anos melhores porque dois amigos seus são os favoritos das eleições, mas vê tudo ruir ao se ver envolvido, junto com os candidatos, num dilema ético. Num intervalo de dias sua vida vira 180 graus: a relação com a emissora muda, o casamento entra em crise, as redes sociais vão de vilãs a aliadas e de certa maneira todas as certezas são questionadas.

    É compreensível o desconforto de Cacá na sinuca de bico e crível sua indecisão sobre o que fazer e em quem confiar, mas acaba ficando exagerada a pressão exercida pelo jornalista mais jovem (Caio Blat) e não corrompido, responsável por lembrá-lo nos mínimos detalhes da missão da profissão. Diálogos expositivos, um caso de novela, conclusões explicadas diversas vezes para não restar dúvidas e a repetição de certos mantras bem diretos – “quem mente, rouba”, “criminoso não pode ser presidente”, “vote com sabedoria” – afastam Contra a Parede da sutileza que rege o melhor cinema e em várias cenas a obra assemelha-se a uma peça teatral filmada, tanto pela mise-en-scène quanto pelos monólogos estrelados por Fagundes. O embate de leões entre Cacá e Igor (Emílio de Mello) é outro momento que evoca os palcos e, falando na interpretação de Emilio, pouco convence sua mudança radical de tom no decorrer do drama.

    É possível ver ecos de Boa Noite e Boa Sorte e até do clássico absoluto do cinema telejornalístico Rede de Intrigas neste modesto longa-metragem, o último especialmente lembrado pelo clima de suspense bem construído por Pons. Cercado por familiares e com uma direção claramente a serviço de seu star power, Antonio Fagundes parece responder em mais de noventa minutos e com grande elenco à pergunta que a TV Globo há tempos faz aos espectadores, na campanha “O Brasil Que Eu Quero”. Confirmar ou não o voto de confiança em seu jornalismo idealista, quase uma história com o selo Marvel tamanha a fantasia em determinado ponto, cabe ao eleitor. Digo, espectador.

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    Comentários

    • Filipe Solé
      Me caiu o cú da bunda com essa crítica. No bom sentido. Esse filme, que só vi 20 minutos, obviamente é subversivo até aonde seus donos permitem que seja. O filtro evidente, como uma película de maquiagem, retrata a podridão da elite brasileira que põe a culpa das mazelas sociais no indivíduo q fura a fila, comete pequenos delitos, no famoso estilo do jeitinho brasileiro. O problema com esse filme e esse argumento, é que ele isenta de culpa nossos representantes legislativos. Uma doutrina que convence o povo a votar contra seus próprios interesses. Idolatria ao rico, ódio ao pobre. E a pobreza oriunda do formato novelístico. Fale, não mostre. O clímax é um anti clímax. Satélites? Quero uma continuação desse filme focado só nos satélites.
    • Alexandre Marcello de Figueire
      Modesto demais.
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