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    A Garota do Armário
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    A Garota do Armário

    O perverso mundo empresarial

    por Bruno Carmelo

    A pré-adolescente Anouk (Jeanne Jestin) está prestes a descobrir as dificuldades da vida adulta. Ela poderia se confrontar às dificuldades do primeiro amor, à competição nas provas ou ainda às brigas de seus pais divorciados, mas o choque acontece com uma estrutura social mais cruel: o mundo empresarial. No caso, ela efetua um estágio na companhia de seguros Serenitas, na qual os adultos são, no melhor dos casos, frios e distantes, no pior dos casos, tirânicos e desumanos.

    O diretor Marc Fitoussi efetua um retrato unilateral do amadurecimento. A empresa é representada como uma versão adulta dos cruéis colégios americanos separados em castas, com os jovens populares atormentando os mais introspectivos, pessoas se aproximando em amizades falsas e um descontentamento geral. Não existe um único adulto feliz ou honesto em A Garota do Armário.

    Consequentemente, o filme carece das nuances necessárias a qualquer discurso político. Para discorrer sobre a mesma crise do capitalismo, o drama O Valor de um Homem, de Stéphane Brizé, acompanhava o impacto do trabalho precário nas famílias, dentro dos casais, na comunidade. O escopo de Fitoussi é muito mais restrito: ele se concentra apenas na empresa, onde se passam 90% das cenas, com um único caso de patrão abusivo, outro caso de pessoa explorada, e mais um de funcionária ignorada, para dar conta do painel geral. Os personagens se tornam exemplos narrativos ao invés de pessoas de carne e osso.

    Politicamente, apresenta-se uma única mensagem: a configuração do trabalho empresarial está falida, desencadeando exploração e conflitos éticos. Trata-se de uma ideia válida, porém limitada à constatação. Fitoussi não investiga as causas do problema nem suas eventuais consequências mais amplas, tampouco busca uma relação dialética entre diferentes modos de enxergar o trabalho. Os funcionários da Serenitas são, basicamente, a mesma pessoa. A Garota do Armário também carece de alguma forma de metáfora visual: quando a cena do aeroporto finalmente traz um respiro ao discurso, já estamos na reta final da história.

    Isso não quer dizer que o filme não tenha qualidades. A jovem Jeanne Jestin está muito bem dirigida, e a direção de arte consegue desenvolver um espaço de escritórios verossímil, aliando-se aos bons diálogos reservados à adolescente. As talentosas Emilie DequenneSabrina Ouazani têm pouco a fazer em cena, vistas as limitações de suas personagens, porém não comprometem o resultado. Fitoussi valoriza os espaços como convém à trama, mesmo que não consiga pensar em alternativas aos planos de conjuntos e planos próximos. Ainda assim, o tema e o cenário permitiriam o uso expressivo do espaço extra-quadro, da profundidade de campo, da profusão sonora. O filme se conclui como uma denúncia modesta, embora bem-intencionada.

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