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    Maria Madalena
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Maria Madalena

    O evangelho feminista

    por Taiani Mendes

    Mulher mais controversa da Bíblia, Maria Madalena é uma personagem tão importante quanto misteriosa, descrita de diferentes maneiras ao longo dos séculos. É a “apóstola dos apóstolos”, a prostituta apedrejada, a atormentada por sete demônios, a esposa de Jesus ou a irmã de Marta e Lázaro, dependendo da fonte, e os únicos consensos são sua proximidade do Filho de Deus, o privilegiado testemunho da ressurreição e a ligação com a aldeia de nome Magdala. Maria Madalena, filme de Garth Davis, se presta a contar a verdadeira história da enigmática figura, não a colocando uma vez mais como coadjuvante de Jesus, mas sim protagonista; não apenas observada e descrita por homens, mas dona do ponto de vista. Não espere, no entanto, uma mera reencenação da Paixão por ângulo pouco explorado. As passagens mais famosas do texto sagrado não são os trechos fundamentais desta narrativa.

    A primeira lição é o descolamento da imagem de prostituta. Interpretada por Rooney Mara, Madalena é uma jovem que trabalha na pesca e nada tem da sensualidade carregada outrora por intérpretes como Debra MessingBarbara Hershey e Monica Bellucci. Moça de família, tímida e religiosa, seu maior pecado é não querer casar, envergonhando irmãos e pai. Seu grito desesperado de liberdade é mal interpretado e a última esperança de salvação da débil e aparentemente endemoniada personagem torna-se o curador cada vez mais famoso nas redondezas. Vocês sabem quem.

    A revelação é gradual para o público e Maria, ambos ansiosos pelo primeiro contato com aquele sobre o qual tanto já ouviram falar. Encerrado o breve suspense, o Jesus de Joaquin Phoenix ganha a tela como um riponga bipolar, dono de olhar entre o perdido e o infantil, oscilando entre o riso bobo e a melancolia pela dor do inevitável destino. A aproximação dos dois é um forte flerte, com direito a negação familiar e desnecessário apelo sexual via seminudez, mas Garth não toma o polêmico caminho do estabelecimento do casal, seguido por O Código da Vinci e A Última Tentação de Cristo. É retratado o amor esponsal, um sentimento profundo com entrega apaixonada e união total, uma conexão intensa e exclusiva sem os beijos e o sexo dos homens.

    Num outro contexto as trocas de olhares, conversas íntimas, ciúmes e afagos configurariam tensão carnal, mas aqui Maria Madalena realmente passa como uma mulher comprometida com o divino e Jesus é o incompreendido solitário que tem um pouco do peso que carrega aliviado por esse novo braço direito, promissora aprendiz. Mais do que isso. Madalena é retratada como praticamente seu equivalente feminino. Os dois salvam vidas usando os mesmos gestos encantadores – ela transmitindo paz, ele operando milagres –, Maria leva às mulheres que não ousam se juntar aos homens as palavras do mestre e também as batiza, ambos encaram sem medo os romanos e ao ver seu Rabi sofrer, Madalena igualmente desmorona de dor.

    É um argumento, portanto, bastante progressista, que afirma a valente Maria Madalena como substituta natural do Salvador em termos de pregação e liderança e a coloca ao seu lado na Santa Ceia. Assinado por Helen Edmundson e Philippa Goslett, o roteiro é bastante didático nesse sentido – e em todos os outros – , ressaltando a todo momento o machismo responsável pelo seu apagamento e a grande proximidade entre Madalena e Jesus. Road movie de caminhada com muitas elipses e avanço temporal indiscriminado, Maria Madalena adapta bem as mensagens do Filho de Deus, mas coloca na boca dos outros personagens frases ridículas e engessadas.

    Em mais uma atuação extremamente contida, Rooney Mara às vezes parece ainda estar interpretando a Therese Belivet de Carol, observadora e silenciosa. O arco das duas é semelhante: ambas levam uma vida infeliz até que despertam graças ao amor e por ele se jogam na estrada sem destino ou garantias, numa jornada também de amadurecimento pessoal. Enquanto o final do romance de Todd Haynes encontra uma Therese por completo diferente da inicial, em Maria Madalena a transformação é notada exclusivamente em seu discurso, a partir da compreensão do real significado palavras de Jesus. Falta na composição de Mara certo contraste e energia, algo que não deixasse a trajetória da empoderada personagem tão achatada.

    Chiwetel Ejiofor interpreta o antagonista Pedro, vilão egoísta que desde o começo rejeita Maria Madalena e condena a intromissão feminina no apostolado; Tahar Rahim brilha como um comovente Judas e estrela um dos momentos mais emocionantes da trama; e Ariane LabedDenis MénochetLubna Azabal fazem pequenas participações. Elenco talentoso e internacional desperdiçado num longa-metragem que acaba tendo quase a mesma cara das dezenas de adaptações mofadas da vida de Cristo que pululam nas telinhas na Sexta-Feira Santa.

    Correto que a protagonista agora é a injustiçada Madalena, algumas atuações são acima da média e, apesar de Jesus ainda ser branco, há diversidade no elenco, porém o cineasta parece preso a um estilo de cinema ultrapassado, apegado a pomposos planos de estabelecimento, usando música incidental exagerada em drama e ininterrupção e comandando tudo da forma mais conservadora possível. A maior ousadia – ou falta de noção – talvez seja um movimento de câmera do casal principal para a lua, que toda semana é reproduzido nas festas do Big Brother Brasil.

    Em seu terceiro longa, Garth Davis ainda não mostrou a que veio na direção cinematográfica. Salvo pela fofura de Sunny Pawar em Lion - Uma Jornada Para Casa, desta vez ele ganha pontos extras pelo louvável revisionismo. Os apóstolos homens entenderam tudo errado e tivesse a voz de Maria Madalena superado a de Pedro, hoje teríamos um catolicismo completamente diferente. Sororidade e misericórdia são termos-chave nessa educativa reescritura da história de um ícone religioso e feminista que se livrou das amarras sociais para se jogar no mar da fé e do amor. O reino dos céus vem da semente plantada por uma mulher e o tempo do mansplaining acabou.

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    Comentários

    • PDR
      A discussão aqui é tão boba, quase infantil. Por que é tão difícil aceitar que o outro tem uma opinião diferente da nossa? Ninguém vai convencer ninguém a nada. Se você é cristão, esse filme não é para você, e lembre-se que Deus não obriga ninguém a acreditar Nele. Se Ele é Deus ele poderia fazer isso, certo? Mas não o faz, então por que você quer obrigar? E, se você não é cristão, por favor, comente sem ofender a fé dos outros. Sejamos todos educados. A minha humilde opinião, não sobre o filme, mas sobre Jesus num ponto de vista bíblico: sobre sua aparência, a bíblia relata muito pouco, mas diz que não havia nele formosura (ele não era bonito). Sobre a relação dele com as mulheres, Jesus foi polêmico e quebrou vários preconceitos da época, numa sociedade onde as mulheres não tinham valor algum e até mesmo falar em público era mal visto. Ele trouxe a mulher para o centro de suas reflexões sobre o Reino de Deus, retomou o valor do ser humano independente da sexualidade e mostrou que, para Deus, todos somos igualmente importantes. Se alguém tiver interesse sobre o Jesus da Bíblia, leia ela do início ao fim, porque toda a Escritura é sobre Ele, não somente o Novo Testamento.
    • Alex Lordelo
      procure voce saber, tenho mais o que fazer.
    • Alex Lordelo
      Vai ver se estou la na esquina, vai!
    • Fernando Correia
      O QUE É LACRAÇÃO? DESCULPE A IGNORÂNCIA . VOCÊ ME PARECE UM MOÇO PREPARADO E MUITO GENTIL,DO MODO QUE JESUS PREGOU. E SE POSSIVEL ME EXPLICA O QUE É COMUNISTA?
    • Fernando Correia
      Que tal você arranjar um lavado de roupa? Enquanto cansa o corpo deixe a mente sair da prisão e procurar nos ares ventos que tragam um pouco mais de delicadeza para sua alma ainda árida
    • Eudes Batista
      E vc vem comentar o q aqui vá procurar alguma coisa para fazer em vez de falar besteira aqui
    • Eudes Batista
      Vai procurar o que fazer e para de falar água, lacradora progressista.
    • Eudes Batista
      Se algum diretor fizesse isso, e acredito que algum dia faria, não passaria de mentiras, colocando Jesus como um homem pecador e cheio de defeitos como qualquer outro, coisa que ele não foi.... Só para agradar a agenda progressista.
    • Alex Lordelo
      se foda!
    • Alex Lordelo
      quem esta passando vergonha é voce. vai se ferrar sua besta!
    • Flavia
      vai pra Igreja filho kkkkkkkk
    • Flavia
      vai pregar na Igreja querido. Tá perdendo tempo e passando vergonha aqui kkkkk
    • Flavia
      kkkkkkkkkk que louco.
    • Flavia
      como se a própria Bíblia não fosse apenas uma releitura dos fatos históricos kkkk
    • Flavia
      o filme é releitura. Quem te falou que é pregação bíblica? Vai orar na Igreja.
    • Flavia
      Amém.
    • A. Skalder
      Amigo, sem polêmica, mas nem hoje o povo de Israel é totalmente branco. Quem criou o mito do povo israeli branco foi a Igreja Católica-Romana, espalhandoa imagem de um Jesus branco e depois Hollywood, que a sacramentou nos filmes. Há 2000 anos, então, não havia brancos em israel. Eram no mínimo morenos, mais ou menos como o jogador Salah, do Egito. Talvez ainda mais escuros. Os israelitas são um povo semita. Os judeus brancos americanos, europeus e israelitas de agora, não representam exatamente o biotipo do israelita de 2000 anos atrás. Eles são posteriores. Mas isso já é outra história.
    • A. Skalder
      Ainda não apareceu o diretor/roteirista corajoso, para escrever a história de Jesus sem o aspecto divino, imposto pela Igreja de Roma, 300 anos após sua morte, via Concílios. O homem nascido, crescido, vivido e morto como Judeu, sem ressurreição e que pode (ou não) ter tido uma relação com Maria de Magdala.
    • Bruno Ribeiro
      A imagem que o autor passa de Jesus (que aqui recebe o nome de rabi) é a imagem de um homem fragil, as vezes debil, nada empatico... Maria madalena recebe mais autoridade nesse filme do que ela realmente tinha (apesar de ter uma participação importante na ressureição...). Fotografia e imagem boa, mas que não se sustenta por possuir um trama fraco e as vezes cansativo...
    • Eduardo Joab
      Um mero entretenimento, totalmente fora do que está escrito nos evangelhos.
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