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    Happy End
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Happy End

    É segredo!

    por Francisco Russo

    Michael Haneke é, sem sombra de dúvidas, um dos diretores mais secos e cruéis da atualidade. Não em relação a provocar violência gráfica, através de muito sangue, mas ao construir situações cotidianas de forte impacto emocional - assim foram Amor, A Professora de Piano, A Fita Branca e tantos outros. Após cinco anos de ausência das telonas, o veterano diretor austríaco está de volta com Happy End. Quem conhece sua carreira, sabe bem que o título não pode ser traduzido ao pé da letra, já que o tal final feliz é sempre sob a ótica perversa do diretor.

    Neste longa-metragem, é claro, não é diferente. Só que este é um Haneke preguiçoso, que repete situações já vistas em filmes anteriores. A sequência de abertura, por exemplo, é extremamente parecida com a de Caché e o próprio desfecho de Amor é mencionado no decorrer da narrativa - não o filme, o que acontece. Ainda assim, o longa demonstra força graças ao rigor estético e narrativo empregados pelo diretor, que impõe a si próprio um desafio: adiar ao máximo a revelação de qualquer informação sobre a história que está sendo contada.

    Tal proposta tem muito a ver com o tema central de Happy End: a incomunicabilidade, resultante do individualismo dos dias atuais. Para ressaltá-la, o diretor elimina praticamente todas as conversas olho no olho entre os personagens, que, na maioria dos casos, falam entre si através do telefone. Mais ainda: a tecnologia entra em ação para também ressaltar esta dificuldade nas relações pessoais, com referências às gravações feitas através de celular, tipo Snapchat e Instagram Stories, e ainda chats, Facebook e vídeos no YouTube. Para tanto, Haneke explora o formato de tela e a estética de cada uma destas mídias sociais, de forma a provocar uma rápida identificação junto ao espectador.

    A proposta conceitual do diretor sobre o tema é tão radical que, ele próprio, decide estender tal incomunicabildade para o espectador. Através de um ritmo bastante lento e uma câmera voyeur, no melhor estilo Caché, os personagens surgem em cena em breves conversas que praticamente nada revelam sobre seus atos e relações, até mesmo em questões banais. Da mesma forma, Haneke esconde momentos importantes envolvendo os mesmos personagens, revelando-os apenas verbalmente - e apenas lá no terço final. A tensão existente vem muito mais do histórico do diretor do que propriamente devido aos mistérios da narrativa.

    Diante de proposta tão sisuda, Happy End ainda chama a atenção por algumas boas (e breves) ideias. Uma delas surge logo no início, na sequência com um guindaste, onde Haneke demonstra extrema habilidade na manipulação do espaço em cena de forma a surpreender. Outra aparece já perto do final, com uma situação que, mais uma vez, ganha valor extra devido ao histórico, desta vez de Isabelle Huppert. Ainda assim são breves momentos que, por mais que agradem, estão longe do que um diretor de sua qualidade pode proporcionar. Interessante pela estrutura conceitual empregada, Happy End não consegue ir além disto.

    Filme visto no 70º Festival de Cannes, em maio de 2017.

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    Comentários

    • Paulo A.
      UM ÓTIMO FILMEE, como estamos tratando de um grande autor de cinema contemporâneo, não há que se reclamar de uma certa preguiça do cineasta que segundo a crítica repete soluções, ou achados de seus filmes anteriores. Não! Definitivamente estamos lidando com um cineasta que diante da frieza, da incomunicabilidade, diante da desesperança e desigualdades sociais não apenas entre os povos europeus, mas com os novos visitantes que chegam de outros continentes para importunar a tranquilidade dos habitantes do velho continente, sim, ele quer e parece que é isso, quer enfatizar por meio de situações e personagens, esse estado critico da humanidade, que no limite nos deixa mesmo infelizes, impotentes, desesperançados com os destinos da vida.O filme é desconcertante, monótono, incomodativo, estranho, enfim, utiliza um conjunto de procedimentos que o autor adota para primeiro deixar desconfortável o espectador, para que esse esteja de olhos, ouvidos e mente atentos e abertos. Parece que nos convida a fazer uma viagem junto a essa gente que parece vive em profunda crise de relacionamento e entendimento. Fechada em seu mundo, nem se dá conta de seus novos vizinhos.E, ao se apropriar das plataformas/mídias eletrônicas (celulares, tablet's, laptop's, facebook, you tube, watts app, chats, entre outros), ferramentas que em tese estão para facilitar a comunicação entre as pessoas, produz na verdade uma silenciosa e ferina crítica a esse estado de coisas; instrumentos que ao cabo distanciam a efetiva comunicabilidade entre as pessoas, causam situações de constrangimento, embaraços e negação. Também se mostra um cineasta capaz de trazer para a sua trama esse mundo novo com um olhar crítico e muito moderno.O tema da morte, da busca pela morte, quando seus personagens no limite já se sentem improdutivos, inservíveis para si próprios, quanto mais para a vida e o convívio social, é daqueles difíceis de serem digeridos. Porque muito poucos, em sã consciência, apostam em fomentar e pedir que alguém venha em seu auxílio para dar um fim na vida.Os personagens deste Happy End e de Amor, parece não deixam dúvidas de sua finitude produtiva na terra e ao repetir este tema, existem outros, Michael Haneke demonstra, na verdade, uma profunda preocupação com a vida e seu sentido não apenas de utilidade, mas de prazer, alegria, sentido, fecundidade.Filme para fazer pensar sobre nossas limitações, mesquinhez e sobre que sentido da vida devemos dar para não passar impunes pela vida, e se possível tentar fazer mais o bem e deixarmos de lado as maldades.
    • tania S.
      Gostei do filme. Apesar da lentidão, bem maior do que nos outros filmes do diretor, prende a atenção e deixa coisas intrigantes para refletirmos. Atuação magistral de jean louis tritignant( me corrijam). Como sempre, dá um banho de interpretação.
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