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    Perfeita é a Mãe
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Perfeita é a Mãe

    Moms just wanna have fun

    por Bruno Carmelo

    Na primeira cena desta comédia, a narradora Amy Mitchell (Mila Kunis) diz que sempre está atrasada. A imagem mostra Amy se atrasando em casa, no trabalho, na escola das crianças. Os filhos reclamam do atraso dela. As outras mães fazem comentários do tipo “Olha lá, a mãe que sempre se atrasa”. Assim, de maneira clara e redundante, ela é apresentada por uma única característica. As demais personagens ganham descrições parecidas: a mãe vulgar, a mãe dócil e submissa, a mãe controladora...

    Perfeita é a Mãe! é um filme simples. A ideia é reunir um grupo de mulheres atarefadas e liberá-las da função de mãe para se divertirem um pouco: Amy simplesmente para de ir ao trabalho, Kiki (Kristen Bell) se revolta contra o tom autoritário do marido, Carla (Kathryn Hahn) assume sem complexos sua ninfomania. A premissa parece apontar para um caminho progressista (o slogan brasileiro “Lugar de mulher é onde ela quiser” sugere o contexto de liberação feminina), mas o roteiro confunde consciência política com baderna.

    Assim, as mulheres não se revoltam contra o trabalho liderado por homens, elas simplesmente deixam de ir ao escritório. Elas não mudam a estrutura dos cuidados com os filhos, somente deixam de cuidar deles. Ao invés de fornecer uma transformação na maternidade, a comédia propõe uma trégua às funções de mãe. O humor, como nos filmes de Seth Rogen e James Franco, consiste em ver um grupo de adultos agindo como adolescentes irresponsáveis: o roteiro de Josh Lucas e Scott Moore se acha subversivo por repetir “pinto” e “vagina” em dezenas de diálogos, mas soa apenas infantilizado. As dezenas de referências a Game of Thrones e Cinquenta Tons de Cinza tornam o discurso datado.

    O resultado é ainda mais conservador por acreditar que toda mulher precisa encontrar um homem: assim que separa do marido imprestável, Amy imediatamente encontra um homem gentil e musculoso (Jay Hernandez) para chamar de seu. É uma pena que o roteiro tenha um alcance tão limitado, até porque conta com duas das melhores atrizes cômicas da atualidade, Christina Applegate e Kathryn Hahn, que se esforçam para extrair complexidade de estereótipos tão básicos. Vale destacar, no entanto, os bons momentos de Oona Laurence, uma atriz mirim que já tinha se destacado em Nocaute.

    Para completar os tropeços do projeto, a dupla de diretores apresenta um controle frágil do ritmo cômico, perceptível em cenas como a festa no supermercado e a eleição do Comitê. Esteticamente, Perfeita é a Mãe! possui uma fotografia estranhamente brilhosa e superexposta, enquanto o excesso de canções pop (uma a cada cena) busca compensar a ausência de ruídos e som direto. Este distanciamento da realidade cria uma atmosfera de sonho, coroada por uma conclusão de grande otimismo, quando todos os problemas se resolvem magicamente.

    As escolhas soam incoerentes num projeto que pretende desmistificar o instinto materno, abraçando o direito das mulheres de se divertirem como homens. Nos créditos finais, as atrizes aparecem em cenas documentais com suas verdadeiras mães. O tom é lacrimoso, mas existe uma intimidade verdadeira nessas cenas, que faz falta à ficção. A comédia ganharia muito se apostasse no caráter universal de mães reais, ao invés de caricaturas universalizantes da maternidade.

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    Comentários

    • Ana Claudia Conceição
      Também achei exagerado essa critica!! e olha que descobri o filme por estar vendo o 2 na tv a cabo!! Morremos de rir do começo ao fim. Filme nota10!
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