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    Os Cowboys
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Os Cowboys

    Busca implacável

    por Bruno Carmelo

    Uma filha sequestrada. Um pai disposto a matar quem for necessário e atravessar os sete mares em busca da querida filha. Poderíamos estar falando da franquia de ação Busca Implacável, com Liam Neeson, mas o herói em questão é François Damiens, transformado em pai coragem neste projeto. O inimigo se adapta de acordo com as fobias históricas de cada país: são russos ou terroristas do leste europeu no caso americano, e são os terroristas magrebinos no caso do filme francês.

    A estrutura permanece herdeira dos códigos americanos. Os Cowboys brinca com o faroeste, com os filmes de ação e com o drama através da imagem suja, brutal, e com o imediatismo típico dos suspenses de estúdio. O roteiro transita entre dois meios bastante codificados e raros na França média: o primeiro é o mundo dos caubóis franceses, que vivem no interior e praticam encontros de dança americana, enquanto o outro é a rotina dos extremistas árabes. Ambos são cercados por uma aura fetichista, como se mostrassem ao público típico de ação o perigo de uma realidade próxima deles, mas que desconhecem – como um sinal de alerta, ou um vídeo de denúncia.

    O diretor Thomas Bidegain, mais conhecido como roteirista dos ótimos O Profeta e Ferrugem e Osso, retoma o caráter brutal dos projetos dirigidos pelo colega Jacques Audiard. Mas seu projeto está cercado pelo retrato alarmista da alteridade. Os personagens não parecem particularmente realistas: François Damiens, no papel mais histérico de sua vida, comunica-se aos socos e gritos, enquanto o filho, chamado de Kid (de verdade!) e interpretado por Finnegan Oldfield, demonstra tamanha apatia que não parece realmente se importar com os rumos da irmã desaparecida.

    Mesmo assim, Os Cowboys espera que o público acredite nesta busca ao longo de mais de uma década. A dupla formada por pai e filho mantém a investigação pessoal sabe-se lá com que dinheiro, apesar dos indícios fortes de que a garota partiu pela própria vontade, para integrar o mundo do islamismo radical. A virilidade baseada na ação, e não na reflexão, aproxima a obra dos grandes filmes de estúdio: não se demonstra o desgaste mental da dupla de homens, apenas sua transição ao próximo passo, ao próximo ano de suas vidas. Os dois são movidos por novas cidades, novos indícios, novas buscas. Ao final de algumas elipses, eles parecem se deslocar por inércia: continuam procurando pelo fato de terem começado.

    Perdido na evolução implausível dos anos, o roteiro introduz uma série de personagens pouco importantes, sem tempo de se desenvolver. John C. Reilly possui um papel dispensável, Mounir Margoum aparece e some sem alarde. No que diz respeito à investigação, as pistas surgem abruptamente, e provam-se falsas ou verdadeiras sem muito esforço. Ao final, o filme não consegue se decidir entre a imersão, típica dos projetos comerciais de ação, e o distanciamento das produções independentes, com instantes de contemplação. Acaba acrescentando pouquíssimo ao debate político, resvalando em clichês perigosos sobre o mundo árabe e extraindo o pior trabalho de sua dupla de atores - mal escalados para o projeto, por sinal.

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