Esse filme merece as cinco estrelas, a despeito de qualquer crítica do tipo "Não faz sentido" ou "Não tem roteiro".
Categorizado na Netflix como Humor Negro, imagino que o correto seria colocá-lo na categoria do Nonsense, o que não quer dizer que a história do filme é caótica ou desorganizada, mas que não encontra paralelos nas possibilidades atuais da vida real. É uma espécie de realismo fantástico, na sua mais bela acepção.
Durando quase duas horas, O Lagosta prende o espectador do início ao fim através de um mecanismo muito simples, que é a necessidade de explicações para cenas altamente impactantes.
A primeira, por exemplo, com a mulher que sai do carro e mata o burro (e que vai permanecer sem explicação até o fim do filme), nada mais é do que um anzol que nos fisga e nos faz ficar debatendo até o fim da história para enteder o que está acontecendo.
Quer um exemplo de como isso funciona? Eu comecei a assistir ao filme com o Whatsapp aberto, e quando vi aquela cena pensei: "Peraí, eu preciso ver isso de novo. Onde está o sentido disso aqui? O que foi que perdi?" e essa sensação durou duas horas. Quando o filme acabou, tive necessidade de voltar e ver a cena outra vez, procurando algo que me explicasse o porquê daquilo. Mas não tem nada explícito. Só aí lembrei que estava conversando no Whatsapp.
Acho que a grande característica desta obra é trabalhar com a inteligência de quem assiste. Muita coisa, o espectador é obrigado a depreender, deduzir, concluir por si só. As pontas soltas são só detalhes que não tiram o sentido da narrativa principal, mas a enriquecem. Eu gosto disso. Me irritaria se o filme tivesse necessidade de explicar pormenorizadamente, através de uma cena muito explícita, ou (no pior dos casos) através de uma fala de personagem, o sentido por trás do seu roteiro.
Mas, afinal, por que The Lobster é um filme magistral na sua proposta? Porque ele argumenta sobre seu tema. E qual é o tema? Nossa necessidade de se adaptar às outras pessoas para se incluir na sociedade, principalmente dentro de relacionamentos afetivos.
Nesta narrativa, as pessoas são obrigadas a se encaixar em uma de duas categorias estanques: casais ou isolados. Escolher um desses grupos tem consequências, que é viver fingindo que combina com o parceiro ou parceira ou passar o resto dos dias sem poder se envolver afetivamente com qualquer outra pessoa (e sendo caçado pelos que pretendem não ser solitários).
Um filme que usa metáforas com tanta destreza nunca poderá ser classificado como ruim.