A franquia de jogos Need for Speed ganhou uma versão cinematográfica que se esforça para estar à altura de seu histórico de bons e sinceros jogos de corrida. As emoções que cada um dos títulos lançados proporcionou aos gamers estão presentes no longa-metragem estrelado por Aaron Paul, o bom ator que ficou conhecido do grande público como Jesse Pinkman em Breaking Bad.
O filme tinha um desafio: contar uma história que permitisse as manobras espetaculares com carros igualmente fantásticos. É nesse ponto que encontro a sinceridade dos jogos Need for Speed: são jogos de corrida, sem enredos, apenas com a premissa de permitir ao jogador correr de um jeito – e com carros – que na vida real é quase impossível. O filme, então, precisava de um habilidoso protagonista, um rival e motivações.
Tobey Marshall (Aaron Paul) tem como seu rival – este termo serve bem para descrever a relação e, aparentemente, a ideia foi fazer alusão ao recente título da franquia de jogos – o ex-piloto da Indy Dino Brewster, interpretado por Dominic West (Abraham Lincoln: O caçador de vampiros), um caricato playboy sem carisma ou inspiração própria.
A disputa entre eles envolve talento, sucesso, fama (itens alcançados apenas por um deles, Dino) e uma ex-namorada de Tobey que se torna noiva do piloto famoso. E é só, o que não seria suficiente para motivar as disputas que o filme apresenta do meio para o fim. E para chegar nesse ponto, o roteiro transforma um playboy sem graça num verdadeiro vilão, disposto a matar para não perder um racha.
Essa transformação soa forçada para quem vê a história se desenrolar, assim como a busca do personagem apelidado de “Garganta” (Scott Mescudi) por reconhecimento de suas habilidades pelos amigos. Alívio cômico do filme, o “Garganta” Maverick seria interessante não fosse o que traz embutido em seu papel: negro, é apresentado como o malandro habilidoso e “desprezado” pelos colegas. Isso é ofensivo, para dizer o mínimo. As piadas poderiam ser feitas a partir de outro mote.
Como os jogos não tem história, a escolha dos roteiristas foi montar uma – aparentemente às pressas - e contar com o talento de Michael Keaton (De Leon) e sua empolgação para tirar o filme do chão. O personagem e sua corrida representam o alvo de mocinhos e bandidos.
O interesse romântico de Tobey, a britânica Julia Maddon (Imogen Poots) surge como uma esnobe representante comercial e se torna o adoçante na amargura do mocinho sedento por vingança.
Personagens descompromissados e às vezes controversos, mas que cumprem o papel que se espera de um grupo envolto de carros e desafios: acelerar, improvisar, e executar manobras que subam o nível de adrenalina de quem os assiste.
A direção de Scott Waugh mostra o que ele sabe fazer melhor: cenas de ação com dublês, mesmo que as cenas tenham motivações rasas, como tentar expulsar a gringa patricinha do carro. O filme é divertido para quem o assiste apenas usando as memórias das jogadas em frente à TV, mas não convence quem espera que a sétima arte seja representada por uma história profunda e cativante, mesmo que em meio à gasolina e (pouca) graxa que se enxerga em esportivos de luxo. Por fim, o filme se torna sincero como os jogos: tudo acontece pura e simplesmente para que a borracha queime no asfalto.