Ao contrario de alguns que sempre o viram como apenas mais um “rostinho bonito” em Hollywood, eu sempre apreciei o trabalho de Tom Cruise como ator – o que o já veterano artista não tem em talento, era compensado por sua inegável força de vontade e obstinação em apresentar personagens fortes – ao menos de intuição e raciocínio admiráveis e, consequentemente, aceitáveis para o público. Mas (tem sempre o “mas”...), ao começar desenvolver seus próprios projetos (como produtor), ficou evidente que Cruise caiu para um “lugar comum” nos últimos anos – basta assistir filmes como Jack Reacher-Sem Retorno, Oblivion ou No Limite do Amanhã para evidenciar isto. O astro de Top Gun e de atuações marcantes em filmes como Magnolia, Nascido em 4 de Julho ou Jerry Maguire, deixou a sua série Missão Impossível mandar no jogo – enfim, seus trabalhos mais recentes pareciam variações de sua composição de Ethan Hunt – e lamento informar: A Múmia não muda nada disso.
Voltando ao universo que a Universal Studios comandava com filmes de terror na década de 30, como a própria Múmia estrelada por Boris Karloff em 1932, o roteiro deste nova versão (que tem alguma referência ao clássico citado mas nenhuma relação com os filmes estrelados por Brendan Fraser) tenta trazer algo novo ao gênero dos monstros – e desperta uma boa curiosidade a principio. O inicio do longa, com o personagem de Russell Crowe explicando a origem da princesa Ahmanet (Boutella) no antigo Egito, dá um bom fôlego para a produção, contando a história da moça sedenta por poder, que matou seu pai, o Rei, e seu irmão ainda bebê, tentando fazer um pacto com Set (o deus da morte egípcio), para viver para sempre e se tornar a Rainha – mas, descoberta pelas autoridades, ela é condenada a ser mumificada ainda viva – permanecendo em local que hoje seria o Iraque, onde, atualmente, o explorador Nick Morton (Cruise) e seu parceiro Chris (Johnson) tentam localizar antiguidades. Com a ajuda (ou intromissão, já que ela teve o “mapa do tesouro” roubado por Nick) da Dra. Jenny Halsey (Wallis), eles encontram o local onde o sarcófago de Ahmanet estava – mas ao tentarem transporta-lo para Londres, o avião onde estavam sofre um acidente. Dado como morto, Nick desperta e começa a perceber que foi amaldiçoado – Ahmanet despertou furiosa também, querendo que Nick seja seu companheiro, o que traria o maligno Set para o mundo real. Jenny e o Dr. Henry (Crowe), um misterioso explorador e cientista, tentarão ajudar – ou atrapalhar – Nick.
Basta lembrar que o ritmo frenético e misterioso do longa termina logo na cena mais impressionante e memorável do longa: o acidente do avião, que só não impressiona mais por que o próprio Tom Cruise nos traz a lembrança de uma cena em avião mais impressionante – no caso, a de seu Missão Impossível: Nação Secreta. O que vem a seguir é uma tentativa pouco convincente de criar um tipo de “triangulo amoroso”, entre Nick, Jenny e Ahmanet – coroado por inúmeras piadinhas sem graça e sem nenhuma função, já que estamos diante de um longa que tem uma história de aventura comum e despretensiosa – a participação quase apática e deslocada de Jake Johnson como Chris chega ao cumulo de ser inserido pelo roteiro como um fantasma que tenta ajudar Nick – em momentos que, realmente, beiram o ridículo – e, mesmo que involuntariamente ridículo, não causa nenhum riso.
O roteiro desmotivado nada mais faz do que a velha busca de um vilão (no caso a múmia mesmo) que precisa buscar um artefato (escondido em Londres, da época das Cruzadas) para conseguir completar algum ritual para espalhar o mau mundo afora – que original, hein? E a composição de Tom Cruise mostra-se fraca porque o próprio ator parece não dar relevância para seu personagem mal desenvolvido – o roteiro tentar mostrar que Nick não é confiável, que é um tipo de ladrão de antiguidades, mas suas atitudes são todas de um escoteiro – ele salva Jenny, sua paixão, e faz coisas que chegam a ser quase como que sacrifícios – aliás é evidente a falta de entrosamento entre ele e a Jenny de Annabelle Wallis, que não torna emocionante seu caso com Nick. Já Sofia Boutella faz o que pode (infelizmente, parece que o que ela pode é pouco mesmo), tendo em mão um personagem tão sem personalidade que fica difícil se assustar – prejudicada pela direção de arte e efeitos especiais que deixam a múmia com um aspecto de zumbi.
Apresentando o personagem de Russell Crowe, que nos remete a outro personagem famoso dos filmes de horror da Universal, o roteiro o aproveita de forma preguiçosa – torna-se enfadonho o momento em que o Dr. Henry Jekyll demonstra as atitudes do personagem do clássico O Médico e o Monstro – acredito que não seja spoiler, já que na sinopse oficial do filme já mostram esse sobrenome – enfim, a ideia do longa é tentar iniciar mais uma franquia, que possivelmente envolveria todos os monstros que o estúdio explorou no passado – com um ar de modernidade e com mais apelo à ação do que ao terror – é interessante alguns momentos de ação, ao menos, bem filmados e compreensíveis, mesmo que a fotografia tente, desnecessariamente, escurecer as imagens com filtros, numa pífia tentativa de dar um clima mais “assustador” – algo que prejudica a boa perseguição com uma ambulância em uma floresta inglesa – reforçando a direção quase que “figurativa” de Alex Kurtzman – sua leve critica ao Iraque, no inicio, nada traz de interessante – ao mencionar que o local que o Iraque ocupa hoje seria antiga Mesopotâmia, o “berço da humanidade”.
Acaba sendo um entretenimento bem mediano, com um senso de humor irritante, cenas de ação bem realizadas, personagens mal desenvolvidos e Tom Cruise precisando se agenciar bem melhor, a fim de garantir que seu real potencial de atuação possa ser explorado nas telas – afinal, deste jeito, parece que o Ethan Hunt de Missão Impossível virou caçador de múmias – e, convenhamos, não precisamos de outra franquia assim.