Confesso que não tava esperando nada depois do filme anterior do Vinterberg, que acho beeeem fraco. Mas não é que me surpreendi? Roteiro coeso, atuações fundamentais... O filme é muito bom. Principalmente ao tocar nos assuntos que faz questão de abordar. A perversão da criança, por exemplo. Até que ponto atitudes infantis podem ser vistas como infantilidade? Aliás, é um filme fundamental para pessoas que acham que crianças não mentem... Pessoas que esqueceram da sua própria infância.
Mads Mikkelsen se mostra muito versátil aqui (apesar de seu prêmio em Cannes ser equivocadíssimo), principalmente nos momentos mais próximos do final, quando ele finalmente extravasa. Finalmente porque é um dos pontos fracos do filme pra mim: sua passividade em frente ao que estava acontecendo com ele próprio. Gostaria, sim, de vê-lo dizer alguma vez "eu não fiz isso, acreditem em mim!" em vez de demonstrar essa fala por meio de atitudes. Porém, não dá pra negar que é coeso dentro da narrativa essa sua postura, afinal, o personagem é realmente introspectivo, e até, porque não, frio.
Thomas Bo Larsen também merece um grande destaque, ele tem pelo menos umas três cenas de cair o queixo. Lasse Fogelstrøm me impressionou, desde o momento em que ele entra em cena, e que não podemos ter o protagonista Lucas, domina o filme de forma magistral. A cena em que seu personagem confronta Theo é arrebatadora.
Como filme, A Caça é bem competente, apesar de se basear muito mais em cenas do que no todo representado por elas. Entretanto, isso pouco importa quando as cenas são de grande impacto e muito bem feitas (a cena em que Klara mente pela primeira vez não vai sair da minha mente tão cedo). E não é o final inconclusivo e non sense que tira o brilho do filme. Ok, estraga um tantinho, mas depois de tudo o que ele entrega, ou a forma com que os acontecimentos vão se desdobrando, esse era um risco iminente. E apesar dele, vou sempre lembrar de A Caça de forma otimista.