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    Matar Um Homem
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Matar Um Homem

    Suspense sem tensão

    por Bruno Carmelo

    A sinopse desta produção sugere um suspense de fundo social: o pai de família Jorge (Daniel Candia) começa a ser ameaçado por uma gangue de rua. Aos poucos, as ameaças se tornam cada vez mais graves, passando da intimidação a violência física. Como a polícia não leva a sério as investigações, este homem se vê forçado a praticar a justiça com as próprias mãos. Estão presentes todos os elementos de um thriller eletrizante: um protagonista injustiçado, caráter de vitimização do personagem, denúncia da ineficiência policial etc.

    No entanto, Matar um Homem nunca constitui um suspense, por sua voluntária falta de tensão. A maneira como o diretor Alejandro Fernández Almendras conduz a trama é muito curiosa: o cineasta retira o sentimento de urgência e de injustiça das ações retratadas. Jorge é um homem apático, interpretado de maneira passiva por Candia. Os confrontos com a gangue tornam-se cada vez mais graves, incluindo tiros e abuso sexual com a filha do protagonista, mas ele nunca se mostra transtornado, aflito, enraivecido. A família não pensa em mudar de casa, ou investir no contra-ataque: eles permanecem imóveis, esperando pelo próximo golpe. A montagem insiste em revelar Jorge assistindo a programas televisivos e rindo, logo após ter a família gravemente ameaçada.

    Por esta razão, quando a morte do título finalmente aparece, ela causa estranhamento por não condizer com a psicologia dos personagens até então. Mesmo nesta suposta vingança, o diretor retira de cena os conflitos morais (ao contrário do que fizeram Lars von Trier em Dogville, ou Quentin Tarantino em Django Livre), fazendo com que Jorge aja de maneira automática, maquínica. Não se vê os passos do plano, os possíveis erros de sua execução - elementos que gerariam a tensão esperada de um thriller. Matar um Homem é um filme comportamental, sem construção de uma psicologia interna, sem um ritmo crescente nas imagens. Ele é um suspense filmado com câmeras fixas, lentidão e aparência de acaso nas ações. Mesmo o humor tem espaço em cena, no instante em que um personagem fica preso dentro de um caminhão.

    No final, pode ser frustrante ter um tema tão claramente político sem contexto social (a luta de classes nunca é explorada), formando um suspense sem medo, sem pathos, sem participação do espectador. É difícil se identificar com este sujeito de atitudes tão incoerentes, alheio ao sofrimento de sua própria família. Do mesmo modo que o filme decide frustrar as expectativas do gênero, sua conclusão funciona como anticlímax, mais uma vez abrupta, aleatória. Afinal, o que quer Jorge? O que pensa?

    É difícil determinar se a frieza em relação ao protagonista é proveniente apenas da estranha atuação de Candia, ou então do roteiro e da direção de atores de Almendras. Matar um Homem é uma experiência esteticamente sofisticada, com cuidadoso uso de enquadramentos e fotografia. Mas o diretor decide se colocar um passo à frente do espectador, prometendo conflitos que não pretende abordar. Não se pode reclamar de originalidade neste caso, mas talvez a obra desperte apenas indiferença.

    Filme visto no Festival do Rio, em setembro de 2014.

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