"Missão: impossível - nação secreta" é ótimo. O que tem menos ação em toda a série, porém, o mais requintado. Menos ação não significa tedioso, e mais requintado não significa cult. Significa novos temperos para a mesma fórmula. Cabe lembrar que a série MI muda a cada filme, e talvez seja esse o fator que torne a franquia diferenciada em relação às demais. Não se trata de um enlatado puramente comercial, mas de um produto bem pensado para não só vender como também entreter sem apelação alguma.
A própria diminuição das cenas de ação já aponta que, se isso um dia foi apelação, é dispensável. É lógico que tem muita ação, que não se reduz à cena do avião - para quem não sabe, Tom Cruise, sem dublê... melhor deixar isso para o fim -, pois existem todas as clássicas de luta e perseguição. Tem ação, e tem muita ação. Mas toda a adrenalina é inserida cirurgicamente. Cirurgia terapêutica, não estética.
Quanto ao requinte, MI5 é suave e mais intelectual que os antecessores. Longe de ser chato ou complexo. Metade do crédito vai para Rebecca Ferguson. A outra metade, para o roteiro, mais inteligente e menos "carnal".
"Nação secreta" segue o esqueleto dos anteriores, em especial com estonteantes cenas de ação com o inabalável Tom Cruise. Aliás, Cruise que foi responsável por mais uma atuação (em sentido amplo) digna de aplausos, tendo o ápice logo no começo, numa cena em que o ator - sem dublê - fica preso a um avião em pleno movimento e voo. Isso mesmo, só por isso o filme já vale, afinal, ainda que com algum aparato, o jovem ator de 53 anos não precisava se submeter a risco de vida. O faz porque gosta. E merece aplausos. Inclusive compensa Jeremy Renner e Alec Baldwin, núcleo chato - porém necessário na história - do filme. Simon Pegg é novamente um coadjuvante de muita classe: tem noção que é coadjuvante, mas sabe brilhar sempre que pode, sem ofuscar ninguém. A dupla Pegg e Cruise já está consolidada.
Mas é Rebecca Ferguson que tenta roubar a cena. Só não consegue porque Tom Cruise é Tom Cruise e "Missão: impossível" só é "Missão: impossível" graças a ele. Como se não bastasse o fato de ser novidade (o que per si contribui), Ferguson vive uma personagem extremamente interessante: misteriosa do começo ao fim, o tempero que foi o diferencial em relação aos demais. A imprevisibilidade da sua Ilsa é fator determinante para prender qualquer espectador. Torna o filme muito mais interessante. Não chega ao nível de uma Furiosa de Mad Max, mas, sem dúvida, dá um up no roteiro.
Embora "Protocolo fantasma" tenha cenas mais elaboradas e fotograficamente mais interessantes, "Nação secreta" é mais refletido e complexo. Mesmo no que erra (como na participação de Baldwin), acaba acertando, ainda que apenas no fim. Ah, sim, o vilão não foi genial, foi apenas convincente. Mas não é ele quem deve brilhar, então tanto faz. O requinte chegou a tanto que a trilha sonora conta com "Nessun dorma". MI5 é ótimo. Não vai ganhar um Oscar, mas entra para a história do cinema como mais um ótimo MI. Obrigado por insistir no projeto, Tom Cruise. Nós, cinéfilos, agradecemos.