Sua Alteza!
Embora não seja tão conhecido para os menos próximos à cultura cinematográfica, o diretor Matthew Vaughn possui em sua carreira pérolas do cinema pop, dentre eles podemos dar destaque a Kick-Ass e X-Men: Primeira Classe. São dois filmes bem distintos, que talvez tenham similaridade apenas ao gênero a qual estão inseridos, ação! Usando de suas habilidades atrás das câmeras, Vaughn nos presenteia com outra obra baseada nos quadrinhos, desta vez estou falando de KINGSMAN: SERVIÇO SECRETO.
Assim como Kick-Ass, Kingsman é baseado em uma obra desenvolvida por Mark Millar e Dave Gibbons, dois experientes no assunto que, embora já tenham produzido conteúdos fora deste universo, aqui eles ganham brilho graças a astúcia da Vaughn na direção.
KINGSMAN: SERVIÇO SECRETO conta a história de um grupo da elite inglesa que atua secretamente para combater o crime ao redor do mundo. Sua formação é composta por agentes do mais alto calibre que recebem "títulos" similares as cavaleiros da távola redonda: Arthur, Galahard, Lancelot e por aí vai... como toda elite que se preze, a saída de algum membro, seja por morte ou abandono, precisa ser reposta de imediato. É é justamente nesse contexto que somos apresentados a Eggsy, um jovem problemático e sem rumo na sociedade que, com suas idas e vindas na prática de crimes pequenos, acaba recebendo a oportunidade de se tornar um Kingsman.
A partir daí temos Eggsy participando do divertido e pesado treinamento para ser tornar novo membro da elite inglesa. Desde situações de queda livre até decisões drásticas de matar um animal, criado por ele, a sangue frio. A bem da verdade tudo flui bem, já que o carisma do ator Taron Egerton acaba deixando o personagem com ar ainda mais malandro, mesmo que as circunstâncias exijam cautela e cuidado. Como tutor do Eggsy, temos o excelente Colin Firth que aqui interpreta Galahard, um exímio membro dos Kingsman, capaz de executar tarefas das mais difíceis e delicadas.
Pouco a pouco, Eggsy vai sendo apresentado às diversas surpresas de seu treinamento e da trama que se desenvolve como linha central. O mais curioso é que essa mistura flui de forma gradativa e natural para ambos os lados, sem focar demais em um ou outro, e também vamos sendo inseridos aos anseios do vilão também de forma moderada. Por falar em vilão, aqui o megalomaníaco da vez é Richmond Valentine (Samuel L. Jackson), um bilionário da indústria de tecnologia ansioso para ajudar no combate à poluição e devastação da natureza. A grande sacada é justamente a forma usada por ele para atrair aceitação, algo extremamente eficaz e funcional do ponto de vista popular, porém, o resultante disso é que se faz sórdido ao extremo.
Matthew Vaughn tira proveito desse enredo repleto de diversão para deixar a coisa ainda mais atrativa, pois ele glorifica o filme usando a estilosa violência advinda da HQ de Millar, com litros de sangue e mortes inesperadas, seja de personagens ou a forma usada. Muitas dessas mortes são causadas por uma inusitada e pitoresca personagem: Gazelle. Ela tem parte de suas pernas composta por lâminas retráteis e uma peça pontiaguda com fio de corte capaz de fazer coisas incrivelmente inesperadas, só assistindo para se impressionar com a fluidez dos efeitos embutidos às situações em que ela se envolve. Firth também é responsável por uma das mais inusitadas cenas, dentro do bar, ao acabar com cerca de 6 truculentos indivíduos, e na igreja com os loucos "possuídos".
O uso de locações londrinas e ambientes fechados coloridos, sejam eles com aparências rústica ou moderna, sempre complementa e ajuda a caracterizar as cenas, pois a extrema qualidade do design impele mais do que personalidade até mesmo em objetos inanimados.
Apesar do grande destaque das interpretações e das ótimas sequências de ação, o filme ainda nos presenteia com uma trilha sonora oitentista de cair o queixo de qualquer marmanjo com mais de 30 anos. Logo no começo, já temos uma cena ao som de Money for Nothing do Dire Straits; isso sem contar nos clássicos Give it Up do KC & The Sunshine Band e Slave To Love do Bryan Ferry, todas casando extremamente bem com as circunstâncias em que são inseridas.
Ainda falando sobre os aspectos técnicos, os efeitos visuais, como é de esperar em obras desse naipe, são excelentes, com destaque inevitável para Gazelle e suas pernas metálicas fatais. Vaughn usa e abusa de sua experiência para criar cenas fantasiosas e de apelo visual impecável, como a deliciosa cena que resulta nos fogos de artifícios mais emblemáticos do cinema.
KINGSMAN: SERVIÇO SECRETO é um daqueles filmes estilo Kick-Ass, chega sem chamar atenção e é pouco divulgado pela mídia brasileira, mas cujo resultado é muito superior a blockbusters que massacram os canais de comunicação para flertar com o público (alguém aí pensou nos 50 tons de putaria cinza?). Em pouco mais de duas horas temos uma produção repleta de bom humor inteligente, ação intensa, trilha sonora das melhores, excelentes atuações e muita, mas muita diversão. É filme dos bons e recomendadíssimo!