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    360
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    360

    O mundo dá voltas

    por Lucas Salgado

    360 divide sua narrativa em nove histórias, passadas em quatro países diferentes e contando com seis línguas faladas. Parece algo bem complicado, mas como o próprio Fernando Meirelles aponta, trata-se do filme mais simples do diretor. Aqui, ele não aborda temas sérios como o tráficos (Cidade de Deus), a indústria farmacêutica (O Jardineiro Fiel) ou o colapso da sociedade (Ensaio Sobre a Cegueira), conta a história de 11 pessoas ordinárias, que passam por momentos de provação/reflexão em suas vidas.

    Independente das atitudes dos personagens e da possibilidade do espectador preferir um ou outro, um dos fatos mais interessantes com relação ao longa é o fato de não possuir um protagonista claro. Ao lermos os nomes de Anthony Hopkins, Jude LawRachel Weisz no cartaz, pensamos de cara que estes são as grandes estrelas da produção e que terão mais espaço na tela. Mas quem acaba com mais destaque é a graciosa Maria Flor.

    A atriz brasileira interpreta a jovem Laura, uma mulher que deixou a vida na terra natal para tentar a sorte em Londres ao lado do namorado Rui (Juliano Cazarré). Ao descobrir que o parceiro está tendo um caso com Rose (Weisz), ela decide voltar para o Brasil. Na volta pra casa, ela conhece um simpático senhor (Hopkins) e Tyler (Ben Foster), duas pessoas em momentos difíceis em suas vidas. Num outro lado da história, Mirka (Lucia Siposová) é uma jovem tcheca que começa a trabalhar como prostituta para juntar dinheiro. Ao mesmo tempo, lida com a desaprovação da irmã Anna (Gabriela Marcinkova). O primeiro cliente de Mirka é Michael (Law), que por sua vez é casado com Rose.

    Como o próprio título propõe, as histórias se entrelaçam, mas nunca perdem sua individualidade. É provável que o longa faça os espectadores lembrarem de obras como Babel e Amores Brutos (ambos da parceria entre o diretor Alejandro González Inárritu e o roteirista Guillermo Arriaga), mas Meirelles tem uma direção bem mais elegante e o texto de Peter Morgan (A Rainha) não aposta tanto em coincidências.

    Livremente inspirado na peça "La Ronde", de Arthur Schnitzler, 360 conta ainda com atuações marcantes de Jamel DebbouzeMarianne Jean-Baptiste, que infelizmente não têm muito espaço no filme, principalmente esta última. É natural que numa obra com várias tramas um personagem ganhe mais destaque que o outro, por mais homogêneo que seja o longa, mas aqui fica a sensação de que alguns poderiam ser melhor aproveitados. Isso também acontece com o brasileiro Juliano Cazarré, que protagoniza uma bela cena com Rachel Weisz e depois praticamente desaparece.

    Esposa de Fernando, Ciça Meirelles foi a responsável pela seleção musical e fez um ótimo trabalho. Seguindo o espírito da produção, escolheu canções em diferentes idiomas, com destaque para a presença do brasileiro Paulinho da Viola na trilha. Outro ponto alto da produção é a fotografia de Adriano Goldman, que lembra um pouco o trabalho de Cesar Charlone em Ensaio Sobre a Cegueira. Para montar o longa, Meirelles chamou seu parceiro de longa data Daniel Rezende, que realizou um excelente trabalho.

    Ao contrário do que pode parecer, 360 não é um filme nada complicado. Na verdade, é complicado na medida que a vida de uma pessoa comum pode ter momentos complicados. Mas, de fato, não envolve grandes cenários ou sequências melodramáticas. É como a vida. Sofre percalços, mas está sempre em constante movimento.

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