O Prime Video vem apostando alto em séries policiais, e Contagem Regressiva chega como um desses grandes investimentos. A produção marca o retorno de Jensen Ackles como protagonista após o sucesso estrondoso de Supernatural. Desde o fim da série, o ator vinha aparecendo em papéis pontuais, seja na dublagem de animações ou em participações em The Boys. Agora, ele não apenas assume o centro da trama, mas também reforça sua ligação com a plataforma da Amazon, já que em breve será protagonista de outro projeto derivado do mesmo universo: Vought Rising.
Para comandar a série, a Amazon convocou Derek Haas, roteirista experiente no gênero policial e responsável por sucessos como Chicago ., Chicago Fire e FBI: International. A direção foi dividida entre oito profissionais diferentes, com destaque para Jonathan Brown, que assina quatro episódios e já tem experiência consolidada em produções do gênero. Esse modelo de múltiplas direções contribui para dar ritmo à narrativa, mas também gera certa irregularidade, já que nem todos os episódios conseguem manter o mesmo nível de envolvimento.
A proposta de Contagem Regressiva é clara: mais do que a investigação em si, o foco está na dinâmica entre os personagens. Policiais de diferentes departamentos se unem para resolver o assassinato de um oficial do Departamento de Segurança Interna, que rapidamente se revela parte de uma conspiração maior. É nesse grupo de personagens que a série encontra sua maior força. Ackles lidera um elenco carismático, capaz de sustentar a atenção mesmo quando a trama central se mostra repetitiva. O espectador acaba se conectando mais com as relações e interações internas do que com o mistério em torno do vilão.
Esse, aliás, é um dos principais problemas da série: a construção de seu antagonista. O roteiro se limita a flashbacks que tentam justificar suas motivações, mas falham em criar um inimigo realmente imponente ou memorável. A ausência de desenvolvimento torna a narrativa desequilibrada, já que o envolvimento do público depende quase exclusivamente da química entre os policiais. Enquanto o grupo brilha, o vilão é esquecido.
Outro ponto que prejudica a experiência é o excesso de repetições. A fórmula “pista, perseguição, interrogatório” se repete em demasia, criando uma falsa sensação de dinamismo. Em teoria, esse ritmo poderia deixar a série frenética, mas na prática acaba saturando, já que a história parece girar em círculos sem grande progressão. O público percebe que, apesar de algumas boas cenas de ação, a narrativa frequentemente empaca, entregando mais do mesmo. A sensação de urgência, essencial em uma trama desse tipo, se dilui no vai e vem interminável.
Ainda assim, quando a série se permite desacelerar para explorar a vida pessoal dos personagens ou os conflitos internos da equipe, consegue respirar. Esses momentos de pausa são fundamentais para quebrar a repetição e criar identificação com o público. É justamente nessa dimensão humana que Contagem Regressiva encontra seu diferencial. Se a trama investigativa não convence plenamente, o retrato da rotina dos policiais e de suas relações acaba funcionando como o verdadeiro motor da série.
A contradição mais evidente surge na reta final da temporada. Até o episódio 10, acompanhamos o caso central que mobiliza a equipe. A investigação chega ao clímax, o antagonista é confrontado e a história parece se encaminhar para uma conclusão. Só que, em vez de encerrar a temporada nesse ponto, a série dá um salto temporal de quase um ano e introduz um novo arco narrativo. São três episódios adicionais que parecem desconectados do que veio antes, quase como se pertencessem a uma segunda temporada. Essa decisão quebra o impacto da resolução anterior, muda a dinâmica do grupo e insere novos elementos sem a devida preparação.
O resultado é um desfecho estranho, deslocado, que mais parece uma jogada estratégica para manter o público preso a um cliffhanger do que uma conclusão orgânica. A própria caracterização dos atores entrega essa quebra: fica evidente que os episódios foram gravados em um período diferente, o que reforça a sensação de improviso narrativo. Em vez de encerrar a temporada com força, Contagem Regressiva aposta em um gancho genérico, que dilui a força da primeira parte e deixa o espectador com a impressão de que assistiu a duas séries em uma só.
No fim das contas, Contagem Regressiva é uma produção irregular. Tem no elenco seu grande trunfo, especialmente na liderança de Jensen Ackles, que sustenta a atenção mesmo em meio a falhas narrativas. As cenas de ação, ainda que repetitivas, são bem executadas e garantem algum entretenimento. O problema é que o roteiro não consegue equilibrar investigação, desenvolvimento do vilão e senso de urgência. A trama gira em falso, demora a engrenar e, quando finalmente encontra um caminho, interrompe tudo para abrir espaço a um novo arco mal integrado.
Vale assistir pela química entre Ackles e o restante do elenco, que consegue tornar a rotina policial envolvente em vários momentos. Mas é preciso paciência para lidar com a falta de foco, as repetições e um final que mais confunde do que empolga. Contagem Regressiva queria ser uma grande série policial de ação, mas termina a temporada parecendo indecisa sobre o que quer entregar: o caso investigativo, a dinâmica de grupo ou o suspense para uma segunda temporada. E, nesse meio-termo, perde parte da força que poderia ter.