Emily em Paris — a série que transforma a Cidade do Amor em um parque temático da ignorância americana, onde todos os franceses são caricaturas raivosas de mau humor e a protagonista é uma espécie de Mary Poppins do capitalismo tardio, só que em vez de um guarda-chuva mágico, ela carrega um iPhone e uma conta no Instagram.
Emily, a Colonizadora de Corações (e Culturas)
Emily Cooper, nossa heroína branca e com a profundidade emocional de um tweet, chega a Paris como se estivesse desembarcando em Marte. Seu conhecimento da cultura francesa se resume a "croissant", "baguette" e "oh là là" — basicamente o currículo completo de qualquer turista que acha que Ratatouille é um documentário.
Mas não se preocupe! Em poucos dias, ela já está ensinando os franceses, aqueles coitados atrasados, como fazer marketing no século XXI. Porque, claro, quem precisa de séculos de história, arte e filosofia quando você tem hashtags e posts patrocinados? A mensagem da série é clara: a França estava à beira do colapso até que uma americana com um guarda-roupa questionável e um sotaque criminoso veio salvá-los. Merci, Emily!
A Traição como Esporte Olímpico
Se Emily em Paris fosse um reality show, se chamaria Infidelity Island. Todo homem heterossexual com mais de 1,70m e um emprego se apaixona por Emily — inclusive os comprometidos. Mas não se preocupe, a série trata a traição com a mesma seriedade que um episódio de Gossip Girl: é tudo um jogo fofo, onde os corações partidos são tão descartáveis quanto os copos de vinho que Emily bebe em cenas que beiram o alcoolismo recreativo.
O namorado da melhor amiga? Flirt. O chef narcisista? Flirt. O cara aleatório da padaria? Flirt. Até o fantasma de Napoleão provavelmente daria em cima dela se aparecesse. A mensagem é clara: o amor é lindo, desde que você seja bonita, branca e não tenha que lidar com as consequências das suas ações.
Paris: Um Cenário para Influencers (e Nada Mais)
A Paris de Emily em Paris é tão realista quanto a Atlântida. Ninguém trabalha de verdade, todo mundo tem apartamentos de luxo inexplicavelmente grandes (mesmo sendo estagiários), e os únicos personagens não brancos são relegados a papéis de figurantes ou piadas étnicas. Ah, e os franceses? Todos uns snobs mal-educados que, obviamente, só precisam de um pouco de American Spirit™ para se tornarem pessoas decentes.
A série poderia ter explorado a riqueza multicultural de Paris, mas preferiu reforçar o clichê de que "francês é chato e americano é inovador". É basicamente Salve-se Quem Puder, só que sem o charme dos anos 80 e com mais product placement da Dior.
O Humor (ou a Falta Dele)
As piadas em Emily em Paris são tão sutis quanto uma britadeira em uma biblioteca. Os franceses são grossos! Os americanos são obesos! Haha, olha só, ela não sabe falar francês! Que original! A série tenta ser Sex and the City, mas acaba sendo The Bold Type com um orçamento maior e menos autoconsciência.
Veredito Final: Uma Comédia (Não Intencional)
Emily em Paris é a prova de que você pode jogar dinheiro, roupas de grife e clichês em um roteiro e chamar isso de "série". É divertida? Se você desligar o cérebro e fingir que é uma sátira não intencional do neoliberalismo, talvez. Mas se você espera qualquer coisa que se aproxime de realismo, profundidade ou respeito pela cultura francesa… bem, melhor assistir Ratatouille de novo.