Atualmente, encontrar uma série que realmente valha o tempo gasto diante da TV é quase como procurar ouro em lamaçal. E o que me deixa perplexo é a quantidade absurda de comentários exaltando Yellowstone — como se estivéssemos diante de uma obra-prima revolucionária, quando na verdade se trata de um fiambre audiovisual recheado de clichês, atuações robóticas e uma trama que parece ter sido escrita por um algoritmo bêbado.
A certa altura, comecei a me perguntar se estava assistindo a um drama familiar ou a uma paródia de mau gosto de Filhos da Anarquia, só que no campo, com chapéus de cowboy no lugar de coletes de motoqueiro. Nada ali faz sentido. Os personagens oscilam entre o caricato e o inverossímil, e chega um momento em que é impossível distinguir se Kevin Costner e sua trupe são heróis, vilões ou apenas um bando de sociopatas rurais sem propósito. A total ausência de consequências para as barbaridades que cometem é de fazer corar roteiristas de novelas mexicanas.
Sim, Montana é linda. Mas não se engane: as paisagens aéreas são o equivalente a glitter jogado num lixo — brilham, mas não mudam o conteúdo fedorento que está por baixo. Nem mesmo a tal “vida dura de cowboy” convence. É tudo tão forçado que a sensação é de estar assistindo a um comercial da Marlboro dirigido por alguém que nunca viu uma vaca de perto.
O patriarca da família é um monumento à teimosia sem propósito. Um sujeito capaz de perder milhões para manter a “honra” — um conceito que, aliás, parece ter sido comprado parcelado em dez vezes no cartão de crédito da hipocrisia. Já os filhos são uma coleção de fracassos ambulantes. O mais novo, Kayce, passa a série inteira dizendo que não quer seguir os passos do pai... até fazer exatamente isso. Mas de forma ainda mais patética: se isola num rancho vazio com meia dúzia de vacas e uma epifania tão profunda quanto um pires.
O outro irmão, coitado, rasteja durante cinco temporadas para servir de tapete da família. Um mártir sem causa, sem glória, sem dignidade. Um figurante de luxo com falas. Já a filha, Beth, é um capítulo à parte no livro do insuportável. Pintada como uma mulher durona, genial e imprevisível, entrega na prática um show de chiliques que fariam vergonha a uma criança mimada de quatro anos. Cada vez que surgia em cena, minha vontade era sair da sala ou jogar o controle remoto na TV. Sua arrogância, sua pose de “bad bitch” embriagada, suas expressões faciais forçadas — tudo contribuía para transformar cada segundo com ela numa tortura emocional. Torci, de coração, por um desfecho digno: um fim trágico, simbólico e definitivo. Mas nem isso a série teve coragem de entregar.
No fim das contas, o único que teve um desfecho minimamente decente foi Jimmy, que escapou para o Texas como quem foge de um hospício em chamas. Arrumou uma mulher decente e foi viver uma vida simples — talvez por isso mesmo tenha sido descartado tão cedo: ele era normal demais para aquele circo de horrores. Já os outros cowboys do rancho? Só masoquismo explica tamanha lealdade àquele inferno empoeirado. Especialmente Rip, supostamente o mais durão do pedaço, mas cuja atuação fria e sem carisma o tornava menos ameaçador que um iceberg flutuando num copo de whisky.
No final, ficou só a sensação amarga de tempo perdido — e não foi pouco. Yellowstone não merece recomendação, sequer merece lembrança. Foi como assistir a um pôr do sol bonito enquanto alguém arranha um quadro-negro ao fundo. Só imagem bonita não salva narrativa tosca. Que sirva de lição: nem sempre o que reluz é ouro. Às vezes, é só estrume bem iluminado.