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    Crítica Westworld 3x03: A ausência de Charlotte Hale

    Leia nossa crítica do 3º episódio 3 da 3ª temporada, “The Absence of Field”.

    ATENÇÃO! Contém spoilers do episódio 3 da terceira temporada de Westworld, “The Absence of Field”.

    Avançando para seu terceiro episódio da terceira temporada, Westworld tem provado cada vez mais a força das atuações femininas. Evan Rachel Wood teve sua chance de brilhar como Dolores no primeiro capítulo, Thandie Newton mostrou a potência de sua Maeve no segundo e, agora, no terceiro Tessa Thompson pôde construir uma Charlotte mais complexa do que jamais vimos na série da HBO.

    Nas temporadas anteriores, Thompson entregou uma Charlotte Hale impiedosa e manipuladora como um dos membros do conselho da Delos visitando o parque Westworld. No terceiro ano, ao contrário, vemos não só uma personagem amorosa e dedicada ao filho, como a atriz tem a desafiadora missão de apresentar um anfitrião (que o público supostamente já conhece) fragilizado, fingindo ser a diretora executiva da Delos. Tarefa essa que Tessa Thompson desempenha com maestria. 

    John P. Johnson/HBO

    Durante um episódio inteiro, a artista é capaz de flutuar entre as diferentes nuances de Hale, desde uma mulher que acredita que vai morrer e canta para o filho, passando por um anfitrião confuso e indefeso tentando se adaptar a um corpo que não é seu, até chegar a um comportamento predatório frente a um pedófilo quando as duas personalidades se encontram. De fato, o momento mais emotivo aparece quando ele ou ela passa a se tornar Charlotte e lamenta que o filho dela, Nathan, reconhece que a mulher que o coloca para dormir não é sua mãe verdadeira. Isso tudo mesclado em um enredo repleto de mistério, espionagem e corporativismo.

    Tais mudanças refletem o título do capítulo, “The Absence of Field”, retirado diretamente do poema de Mark Strand, “Keeping Things Whole” (algo como “Mantendo as Coisas Inteiras”). A obra revela, em tradução livre: “Em um campo / Sou a ausência / do campo. / Esse é / sempre o caso. / Onde quer que eu esteja / sou o que falta”. O “eu lírico” (narrador do poema) não está contente consigo mesmo porque é um intruso em um ambiente natural, e sente que está fragmentando, perturbando e ferindo a integridade daquele local. Por isso, escolhe ser o mais cuidadoso possível com aquele espaço. É justamente o que acontece com o anfitrião presente em Charlotte, que se sente um intruso na vida da verdadeira Hale, tomando seu lugar não só na Delos mas privando um menino de sua mãe. Tanto que ela ou ele se fere para evitar perturbar o que acontece ao seu redor com seus sentimentos conflituosos.

    HBO

    No restante do poema, Strand sugere que, para cada ação existe uma reação, especialmente quando se trata da natureza. Assim, quando os homens obtêm conhecimento sobre a natureza de que ela é mais poderosa que os seres humanos, percebem que mesmo que tentem desafiá-la, nunca vencerão. Se formos além em desvendar a analogia do capítulo, percebe-se que pode ser a tentativa de Dolores e Caleb (Aaron Paul) de enfrentar o sistema de Rehoboam, desafiando o equilíbrio e obtendo informações sobre ele.

    Outro foco central do episódio é o desenvolvimento do relacionamento entre Dolores e Caleb Nichols. Embora Aaron Paul seja um ator versátil, ainda é difícil desassociar sua imagem de Jesse Pinkman, afinal, seu personagem em Westworld é bastante similar àquele de Breaking Bad — com direito a caras e bocas sofridas, coitado.

    HBO

    A série vai jogando as migalhas de mistério em torno de Caleb, apresentando uma história de origem trágica. Sendo ele um dos primeiros humanos de classe média a baixa (quando comparado aos visitantes de Westworld) mostrados na produção, não é a toa que tenha surpreendido a personagem de Evan Rachel Wood. No entanto, o enredo não é o suficiente para amarrar os pontos que o levam até Dolores. Ou melhor, que levam a anfitriã até ele. O arco narrativo que os une revela uma conspiração maior para controlar os humanos em loops, tal como acontecia no parque com os anfitriões. Da mesma forma que a Delos controla Westworld, Incite monitora o sistema do mundo real — inclusive quem sobe na cadeira hereditária, quem consegue melhores empregos, têm direito a ter filhos e até ficar rico. No entanto, não dá para saber o que Dolores espera de Caleb. Ele parece fora da zona de conforto, seduzido pela ideia de revolução (apresentada a la Matrix), enquanto ela pode querer usá-lo como âncora para alavancar seus planos.

    John P. Johnson/HBO

    “The Absence of Field” apresentou mais perguntas do que respostas. Qual será o próximo passo de Serac (Vincent Cassel)? Quem roubou a unidade de Maeve do parque? Quem é o anfitrião dentro de Charlotte Hale? A série ainda não oferece soluções para essa pergunta específica, e deixa cada vez mais elementos em aberto, levantando futuras discussões construtivas de fluidez de gênero. Esperemos que tais questões sejam respondidas satisfatoriamente nos episódios seguintes. Entramos no campo do corporativismo de Westworld, e cada vez mais parecido com o nosso mundo real, isso não dá para negar.

    Westworld retorna com novos episódios todos os domingos, às 22h, na HBO e HBOGo.

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