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    Samantha!: Crítica da 2ª temporada

    Uma Samantha devidamente crescida – e que aprende a olhar mais para o presente.

    Nota 4,0 / 5,0

    Se na 1ª temporada de Samantha! o uso do passado foi essencial para contar a história da personagem principal, que ainda se encontrava muito apegada aos seus dias de brilho na infância, na 2ª temporada o mesmo passado possui um novo papel: ele se torna justamente o catalisador do amadurecimento de Samantha (Emanuelle Araújo) e é usado mais na forma de flashback do que como a motivação evidente da personagem no presente, já adulta.

    Portanto, se antes a motivação de Samantha era provar para todos que sua fama jamais chegara ao fim, agora a vemos mais centrada em sua satisfação pessoal, acabar com as mentiras relacionadas à sua biografia não autorizada (Samonstra!) e ser uma mãe mais responsável. A escolha de aproveitar a mesma figura da temporada passada, sempre incansável, e desconstrui-la para que o espectador a conheça por trás da pose, acaba sendo o maior trunfo da nova temporada. A série original Netflix abraça ainda mais seu lado sitcom ao também explorar os dramas da ex-celebridade mirim e sua família, mostrando que há muito a ser retirado debaixo do tapete.

    Por mais que haja uma leve mudança de tom ao inserir mais dramaticidade, ela é gradual e nunca feita gratuitamente. Afinal de contas, a estrutura da série, que é bem episódica na 1ª temporada, ganha muitos pontos agora por se tornar uma história mais contínua, com plot twists interessantes e o crescimento indiscutível de Samantha. A comédia ainda está ali, mas um pouco mais nas entrelinhas: o que passa a ser verdadeiramente cativante é a maturidade da mãe e artista tomando uma forma concreta.

    Com isso, o destaque de seu papel como mãe deu espaço para as crianças Cindy (Sabrina Nonata) e Brandon (Cauã Gonçalves) melhorarem consideravelmente suas participações do último ano para cá – e ainda incluindo temas como feminismo e o melhor aproveitamento do presente em suas sub-tramas. Dodói (Douglas Silva) ganha mais interação com sua esposa (o que rende momentos ótimos e naturais do casal), ao mesmo tempo em que passa a lidar com o retorno da mãe Socorro (Zezeh Barbosa).

    Um bom exemplo de como o drama consegue se interligar com a comédia e o absurdo (que formam o cerne da série desde o início) é quando Samantha encontra no teatro uma forma de se expressar e se conhecer melhor. A discussão de que no teatro a arte se torna mais "séria" do que na televisão ou no cinema já foi recentemente abordada no filme brasileiro Chorar de Rir, mas em Samantha! ela fica implícita no comportamento da produtora de teatro que ajuda a protagonista – e nem é bem o foco desta inclusão inusitada (e bem-vinda) do roteiro. Se a TV sai um pouco de foco para os palcos entrarem na vida de Samantha é porque ela precisa reconhecer seu passado; e o twist inesperado que aparece com uma simples palavra (órfã) mostra que só foi neste meio artístico mais intimista que a artista conseguiu se encontrar de verdade.

    O fato de Samantha nunca ter dito uma palavra sobre sua família durante toda a 1ª temporada mostra a boa estratégia do roteiro em utilizar um conflito que estava ali, escondido o tempo todo, mas que passa a fazer muito sentido uma vez que é exposto. Como nunca ninguém perguntou quem são os pais de Samantha? É até normal pensar que ninguém perguntou isso por conta da série sempre tratar com espírito cômico o fato de uma criança mandona e séria já ser independente, mas a 2ª temporada trabalha bem o trauma de infância que Samantha passou ao ser abandonada pela mãe.

    Por não ter tido base para lidar com este problema durante toda sua vida, a carga dramática contida na dificuldade dela proferir a palavra "órfã" é muito forte, e o 6º episódio (uma viagem que transcende tempo e espaço e une a Samantha criança com a adulta) é certamente o melhor da temporada por dar a chance da protagonista encarar seus problemas de frente através do que mais ama fazer: trabalhar.

    O novo ano de Samantha! demonstra não só um crescimento interno da personagem mas da série como um todo. Há espaço para os filhos continuarem a ensinar certas coisas aos pais e também para os pais impressionarem os filhos. Há espaço para rir e até se emocionar com uma narrativa que antes mostrava apenas o lado colorido (mas não menos irônico) do meio artístico. Agora, Samantha relembra os dias que lhe ajudaram a ser famosa com a intenção de crescer diante daquilo, se dando conta de que ainda pode ser quem bem quiser – como mostra o desfecho da 2ª temporada. É como diz aquela canção: "O importante é não deixar de acreditar".

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