Na televisão, os papéis de destaque são disputados a dedo – afinal, são poucos e muito cobiçados. Ainda assim, não é raro ver atores se arrependendo de ter interpretado certos protagonistas. Foi o que aconteceu com Emilio Dantas, que revelou não ter gostado de viver um dos personagens mais marcantes de sua carreira artística.
Em 2018, o ator topou protagonizar Segundo Sol, novela de João Emanuel Carneiro – e acabou no centro de uma polêmica. O motivo? Assim que o elenco foi anunciado, o público percebeu uma composição majoritariamente branca, destoando da realidade da Bahia, estado onde a história se passava e cuja população é, em sua maioria, preta.
Na trama, o ator deu vida a Beto Falcão, um cantor de axé decadente que volta à fama após ser dado como morto e busca refúgio em uma ilha. Apesar de o hit “Axé Pelô” ter grudado na cabeça do público, o ator também virou alvo de críticas por conta das questões raciais. Hoje, ele admite que entende os motivos e garante que não aceitaria o papel novamente.
Divulgação/TV Globo
“Foi muito errado eu ter feito o Beto Falcão. Jamais deveria ter aceitado esse papel. Não por conta do autor ou pela empresa. É que não condiz com a realidade. A Bahia é feita 95% de pretos e quem deveria estar contando essa história era um preto. Acordei para isso muito tarde", disse em entrevista à coluna Splash, do UOL.
A novela era ambientada em Salvador e, após as críticas à "Bahia branca" retratada, o autor precisou fazer ajustes no roteiro e dar espaço para atores negros. O caso até virou pauta de uma ação do Ministério Público do Trabalho, que enviou 14 recomendações para a Globo com o intuito de promover maior representatividade racial na trama.
"Não foi legal, foi ruim": Eliane Giardini e Marcos Caruso odiaram fazer esta novela – foi um fracasso de audiência e ninguém entendeu o que aconteceuDiretor foi contra exigências
Mesmo com toda a repercussão, o diretor artístico de Segundo Sol, Dennis Carvalho, não reagiu muito bem às exigências. "Não quero a obrigação. 'Tem que': é feminista, tem que ter negro, tem que ter não sei o quê. Não. As cobranças são maiores hoje, ótimo. Mas não vou colocar um personagem por obrigação", afirmou, na época, à Folha de S. Paulo.
Tempos depois, o próprio autor, João Emanuel Carneiro, reconheceu o erro em entrevista à revista Piauí: "Foi um processo educativo para todos nós". Vale lembrar que, antes de Mania de Você (2024), Segundo Sol era considerada a pior trama do novelista.
Além das polêmicas, a história do folhetim não cativou o público com sua sucessão de clichês, situações repetitivas, personagens mal desenvolvidos, falhas no roteiro e algumas tramas paralelas mais interessantes que a principal.
Depois do susto, a Globo passou a dar mais atenção às questões raciais e de diversidade, e prometeu ter até 50% de profissionais negros entre seus contratados até 2030, segundo relatório de ESG.
Além disso, a emissora tem dado maior visibilidade a atores pretos como protagonistas, como vem acontecendo nas novelas Garota do Momento (2024), Volta por Cima (2024), Dona de Mim (2025) e Vale Tudo (2025).