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    O Grande Ditador: Filme de Chaplin completa 80 anos e segue atemporal

    O clássico de 1940 critica o nazismo de forma bem-humorada e diz muito sobre os retrocessos no mundo de hoje.

    Quem não se lembra da cena em que Charles Chaplin, vestido como Adolf Hitler, dança com um globo terrestre inflável? O emblemático momento está em O Grande Ditador, longa-metragem que o comediante inglês lançou em 15 de outubro de 1940. Há exatos 80 anos, enquanto a Segunda Guerra se alastrava pela Europa, Chaplin conseguiu arrancar risadas com sua sátira do líder nazista e sua crítica aos regimes totalitários. Não à toa, a trama permanece tão atual quanto polêmica.

    O mundo enfrenta, hoje, uma virada conservadora, com o crescimento de partidos de extrema-direita e a ascensão de figuras autoritárias. É exatamente contra isso que se posiciona O Grande Ditador. A primeira obra falada de Chaplin usa do humor para condenar o nazismo e sua política megalomaníaca. Em uma época marcada por conflitos armados e pela opressão racial, o eterno Carlitos defende a paz, a democracia e a liberdade de expressão. Não há nada mais importante, para ele, do que o direito à vida.

    O Grande Ditador recebeu cinco indicações ao Oscar, entre elas as de melhor filme e melhor ator. Mas também enfrentou censura em países como Alemanha e Brasil. Hitler baniu a comédia satírica de todos os territórios ocupados pelo Terceiro Reich. Já o então presidente Getúlio Vargas proibiu sua veiculação em solo brasileiro. Felizmente, a performance de Chaplin resistiu ao tempo e às tentativas de cancelamento, até se tornar um clássico do cinema.

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    CHAPLIN ENCARNA UM JUDEU QUE SE PASSA POR UM DITADOR

    O longa conta a história de um barbeiro judeu que, ao lutar na Primeira Guerra Mundial, acaba sofrendo um grave acidente de avião. Após duas décadas internado, ele foge do hospital e volta para casa, sem se lembrar do que realmente aconteceu. Lá fora, ele se depara com um cenário assustador: sua nação, conhecida como Tomânia, caiu nas mãos de um tirano que persegue os judeus e os obriga a morar em guetos.

    À frente do partido Dupla Cruz (uma espécie de suástica desmembrada), o ditador Adenoid Hynkel acredita na supremacia da raça ariana e pretende expandir cada vez mais seu império. Os caminhos do cruel e ambicioso governante se cruzem com os do pobre e desmemoriado trabalhador. Eles não têm nada em comum, a não ser sua semelhança física - e o fato de ambos serem interpretados por Chaplin. De tão parecidos, Hynkel e o barbeiro judeu trocam de lugar por acaso, o que gera algumas situações cômicas.

    O GRANDE DITADOR SATIRIZA HITLER E MUSSOLINI

    Chaplin não deixou barato para os representantes do nazifascismo, que ganharam sátiras hilárias no clássico de 1940. Adolf Hitler virou Adenoid Hynkel, por vezes chamado de Phooey (um trocadilho com Führer, termo adotado pelo líder nazista). Já o fascista Benito Mussolini se transformou em Benzino Napaloni, dirigente da fictícia Bactéria (uma referência à Itália). A dupla não consegue se entender na trama e protagoniza uma briga antológica envolvendo comidas típicas de cada país.

    A verdade é que, por trás da caricatura, existe uma crítica à disputa quase infantil entre os alemães e os italianos durante a Segunda Guerra Mundial. Inclusive, de acordo com relatos obtidos no Tribunal de Nuremberg, Hitler teria assistido ao filme duas vezes e gostado especialmente dos trechos que mostram a baixa estatura de Mussolini. Fã de Chaplin, Hitler teria contrariado todas as expectativas ao ordenar a exibição de O Grande Ditador em seu cinema particular. Afinal, o mesmo só chegou às telonas da Alemanha em 1958.

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    O DISCURSO DE CHAPLIN QUE ENTROU PARA A HISTÓRIA

    Ao ser confundido com Hynkel, o barbeiro judeu se vê diante de uma multidão que aguarda o pronunciamento de seu comandante, depois que as as tropas da Tomânia invadem Osterlich (uma alusão à Áustria). Em vez de se vangloriar por mais uma conquista, o personagem se aproveita da ocasião para pregar a irmandade universal e a união do povo contra os que tentam dividi-lo. Ele pede às pessoas que se ajudem, independentemente de cor ou religião.

    Com cinco minutos de duração, o discurso final de Chaplin resume perfeitamente o sentido de O Grande Ditador, entrando para a história como um das passagens mais emocionantes do cinema. Nas palavras do artista, "a ganância envenenou a alma dos homens, criou uma barreira de ódio, nos guiou na direção da matança e do sofrimento". Essa brutalidade persiste até hoje, por meio de guerras, ditaduras, demarcações de fronteira e outras práticas de intolerância.

    Chaplin se vale do humor para criticar os regimes totalitários que marcaram o século 20. Mas sua mensagem também se estende aos extremistas de agora, em seus mais variados tipos: os que questionam a ciência e o progresso; os que ameaçam a democracia com sua fome de poder; e os que insistem em cercear a liberdade de expressão. O filme de 1940 continua, portanto, atemporal em sua luta pela paz e pela vida humana acima de qualquer tirania.

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