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    Menino Maluquinho 25 anos: Ator e diretor do filme falam sobre possibilidade de reboot e mudanças desde o lançamento (Entrevista Exclusiva)

    Conversamos com Samuel Costa, protagonista do filme, e o diretor Helvécio Ratton.

    Há 25 anos estreava nos cinemas a adaptação cinematográfica do livro Menino Maluquinho, criação de Ziraldo, um dos mais importantes cartunistas da história do Brasil. Em meio a uma turbulenta época de congelamento fiscal e desmantelamento do cinema nacional, este viria a ser conhecido como um dos filmes mais importantes do movimento responsável por trazer de volta o nosso cinema aos grandes holofotes.

    Menino Maluquinho - O Filme
    Menino Maluquinho - O Filme
    Data de lançamento 7 de julho de 1995 | 1h 31min
    Criador(es): Helvécio Ratton
    Com Samuel Costa, Patrícia Pillar, Roberto Bomtempo
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    Em comemoração a esta data, conversamos com o diretor Helvécio Ratton e o próprio intérprete do Maluquinho, Samuel Costa, que hoje não se dedica mais ao mundo da atuação e trabalha agora com direção de vídeo. A primeira pergunta, é claro, foi o pedido de um "resumão" de tudo que aconteceu na vida dos dois nas últimas duas décadas e meia.

    "A gente não está falando de um filme que ficou perdido lá atrás no tempo. A ideia que passa é que ele nunca saiu de cartaz, desde que ele foi lançado em julho de 95 é como se ele estivesse sendo exibido o tempo inteiro. Ele saiu das telas, foi para o DVD, para a televisão aberta, para o streaming, é diferente de outros sucessos. Você vai tendo uma mudança de geração, todo filme infantil tem isso, mas no caso do Maluquinho existe a vontade dos pais em mostrar o filme pros filhos", introduziu o diretor.

    Ele, logo, continuou falando sobre como tem sido sua vida desde então: "Foram 25 anos de muito trabalho. No final desta linha eu estou com um filme pronto, que é o Lodo, um filme baseado num conto do Murilo Rubião, que é nosso maior escritor do absurdo. Mas de lá pra cá foram vários filmes! Eu fiz Amor e Cia., baseado na obra do Eça de Queiroz, depois fiz Uma Onda no Ar, em cima da história da Rádio Favela, depois fiz Batismo de Sangue, e aí pra abaixar a carga fiz Pequenas Histórias, me diverti um pouco, e depois um outro infanto-juvenil, que foi O Segredo dos Diamantes, e agora o Lodo".

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    Domingos Peixoto

    Voltando ao passado, Samuel aproveitou para lembrar como foi o inesperado início de sua trajetória até aqui:

    "Eu lembro que com sete anos saí com a minha mãe pra lanchar e uma mulher nos abordou perguntando se eu não queria fazer umas fotos, participar de comercial, essas coisas assim. A gente não tinha ideia do que era tudo isso. E aí a gente foi na agência e entendeu melhor. Eu até costumo 'zoar' que existe todo um submundo onde crianças fazem testes para comerciais", falou. 

    "Dois anos depois, rolou o teste pro filme do Menino Maluquinho, até que fomos pra Belo Horizonte (onde o filme foi gravado) e no último teste já não tinha quase ninguém mais e avisaram que a gente ia fazer o filme, foi muito legal. E aí rolaram as gravações em 94, fiquei rodando o Brasil com o Ziraldo e o Helvécio, fizemos vários eventos ligados com cultura e tal", completou ele.

    Samuel disse ainda que depois do filme fez algumas novelas na Globo, participou de quadros no Fantástico, realizou minisséries, mas com o tempo percebeu que o mundo da atuação não era para si, e migrou para a realização de vídeos, videoclipes e séries, atuando como diretor de vídeo, produtor e "o que mais tiver espaço". Hoje ele é sócio da produtora Blues que, além de ser a responsável pelo canal Pipocando, no YouTube, também atende clientes como a Sky, o que lhe proporcionou explorar cada vez mais o universo dos bastidores.

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    "Eu nunca senti que eu atuei. Eu falo isso tranquilamente, porque os papéis que eu fiz quando era criança eram fáceis na questão de carga emocional. Crianças espontâneas que não têm vergonha se viram bem com coisas assim. Eu sabia que pra ser um bom ator você precisa estudar. Senão vira esses tantos caras que você vê na TV que são sempre o mesmo personagem". 

    Menino Maluquinho 2.0?

    Sobre a possibilidade um reboot, Helvécio diz que é perfeitamente possível existir um "novo" Menino Maluquinho mesmo com novas tecnologias, onde o personagem manteria sua essência. Ele, no entanto, diz estar em um momento da carreira onde não se vê como o diretor de um possível novo projeto. 

    "Naquela época havia uma tendência em dizer que os meninos estavam muito nos videogames e que a história do Maluquinho não iria rolar, e eu bati muito o martelo de que devíamos fazer algo desconectado disso tudo. Que fosse um filme sem consumo, por isso trouxe o filme pros anos 60, que foi a época em que eu cresci nas ruas de Belo Horizonte".

    "As crianças hoje estão muito conectadas, tem tablet, celulares, muitas coisas, mas elas se conectam muito com O Menino Maluquinho porque aquela é uma infância que eles não puderam ter, é uma infância muito diferente da deles. Não existe infância melhor do que a outra, é óbvio, mas há uma diferença no fato de que não é possível hoje você brincar nas ruas como antes, talvez tenha um certo encantamento nisso". 

    Porém, ele ressaltou que estava focando em obras mais diferentes agora, embora ainda apostando que a obra possa ser feita nos mesmos moldes de antes. Samuel, enquanto isso, acredita que a grande diferença é a presença das crianças, no sentido mais literal da palavra:

    "O Menino Maluquinho foi feito numa época em que mal se produzia cinema, algumas listas até dizem que ele fez parte da retomada do cinema nacional. Ainda acho a linguagem super atual do jeito que foi feita, e você embarca em uma história que é sobre a infância [...] O filme foi gravado nos anos 90, mas mostra uma infância dos anos 60. Eu cresci pegando a fase final de coisas como jogar bola na rua, por exemplo. Pelos amigos meus que têm filhos, parentes, primos, me parece que essa infância ficou mesmo pra trás. Como retrata a infância de agora? A gente tá mais conectado nas coisas, mas a gente se vê menos. As relações daquelas épocas eram mais presenciais", opinou.

    E voltando à possibilidade um reboot, Samuel aproveita para falar sobre o tempo que demorou para surgir outro filme como Menino Maluquinho:

    "Não teve um filme parecido ainda, né? Não sei se agora é possível fazer um filme tipo com esse olhar do Menino Maluquinho, mas se não atualizar com as situações de agora... é meio da geração essa coisa de fazer um filme sobre sua época. Eu não assisti ainda [Turma da Mônica] Laços, então não dá pra dizer que não tem nenhum filme. Mas parece que ele é fo**, sabe? Apesar de eu não ter assistido, ele passa numa infnância que também não está muito modernizada. Acho que tem o mesmo sentimento", completou.

    E falando na mudança de épocas, Helvécio aproveita para relatar que vê um paralelo entre o momento do Brasil durante o lançamento do filme, em 1995, e as dificuldades artísticas de agora:

    "Em 95, o Collor tinha acabado com a EMBRAFILME e a gente estava vivendo um momento de muita incerteza no cinema brasileiro. Hoje a história está se repetindo, a gente está vivendo uma incerteza total, uma enfraquecida, recursos que não estão sendo liberados, editais que não são editados e o cinema vivendo uma grande ameaça." 

    Por fim, no entanto, ficou uma mensagem de esperança para o futuro das obras: "Mas a gente sempre renasce, né? Nós vamos passar por isso e eles não passarão". Agora, sobre o futuro do Menino Maluquinho, tanto o diretor quanto o intérprete concordam que estamos em um momento propício para um reboot. Agora é só aguardar para conferir se novas maluquices nos esperam nos próximos anos.

    Nos próximos meses, Helvécio contou que pretende poder lançar o seu último filme, Lodo, enquanto Samuel está prestes a gravar uma série, ainda realizando testes de elenco à distância. Com o Menino Maluquinho ou não, os dois mostram que ainda vão fazer muito pela frente.

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