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    El Presidente: Crítica da 1ª temporada

    As regras do jogo.

    NOTA: 4,0/5,0

    Se você faz parte do núcleo de fãs de conteúdo futebolístico que eventualmente também acompanha parte dos bastidores das negociações, eventos esportivos à parte e processos administrativos, deve se lembrar muito bem da chuva de dinheiro que caiu sobre Joseph Blatter, então presidente da Fifa, no dia 20 de julho de 2015.

    No entanto, como toda ação — seja ela mínima ou gigantesca — deriva sempre de uma extensa cadeia de acontecimentos para que possa tomar seu lugar na história, o fatídico episódio da "chuva de dinheiro" traz consigo ocorrências tão, mas tão bizarras que chegam a ser cômicas: e foi justamente este lado "tragicômico" que a Amazon Prime Video decidiu explorar em sua série original, El Presidente, conferida em exclusividade pelo AdoroCinema.

    Ao ler o título da série e começar seu primeiro episódio assistindo à chuva de dinheiro em Blatter, é comum imaginar que o "presidente" em questão é o próprio, visto o cargo que ocupava na época do acontecido. No entanto, a direção do argentino Armando Bó, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro por Birdman, faz questão de tornar dinâmica, questionadora e divertida a jornada para a descoberta de que o tal presidente na verdade é outra pessoa. 

    A JORNADA DO ANTI-HERÓI

    Vamos falar um pouco mais a respeito dos arquétipos clássicos em qualquer narrativa. Poderia Joseph Blatter ser o protagonista de El Presidente? Não, vilanesco demais. Quem sabe, então, Julio Grondona, Presidente Financeiro da Fifa que faleceu em 2014 e deu início ao curto reinado de Blatter? Também não, afinal, mortos não contam histórias (na verdade, em El Presidente, eles contam...). 

    Mas aqui o verdadeiro protagonista da trama é praticamente um anti-herói alheio ao restante do grupo de representantes da Fifa: o chileno Sérgio Jadue, que já nos é apresentado com uma aparência pouco convidativa, como um daqueles personagens que dificilmente conquistará o coração do público pela falta de simpatia. E se aprendemos algo com o escândalo do FifaGate, é que as maiores histórias surgem dos mais improváveis personagens. 

    Com Jadue não foi diferente. Diferente de nomes como o brasileiro Ricardo Teixeira, por exemplo, ele era como um forasteiro no grupo de dirigentes sulamericanos da Fifa. Já no primeiro episódio percebemos sua dificuldade em se enturmar e sua necessidade em gerar interesse do restante do grupo para obter respeito. E como a vida recorrentemente imita a arte, acabou sendo dada a ele a missão de desmantelar um dos maiores esquemas de corrupção na história do futebol mundial. Nada demais.

    A CORRUPÇÃO SISTEMÁTICA

    Com uma narração bastante interessante dos fatos que levaram à descoberta do escândalo de corrupção na Fifa, a série assume um tom tão didático que não sente medo nenhum em beirar ao ridículo em alguns momentos durante as explicações de como os dirigentes eram mulherengos, corruptos, ambiciosos e retrógrados. O ridículo, no entanto, é muito mais real do que parece. 

    Voltando a falar da direção de Armando Bó, talvez este seja o elemento mais interessante de El Presidente. A ascensão de um jogador de futebol e a de um político que atua nos bastidores do esporte acabam sendo perfeitamente equiparadas e explicadas com uma simplicidade agradável de assistir, utilizando de várias referências à cultura popular, como videogames e séries de TV.

    Mas é quando estes elementos se encontram com a Jornada do Herói de Jadue, nosso protagonista dirigente do Chile, que as coisas ficam não apenas interessantes, mas oferecem também uma boa pedida se você for fã de séries investigativas e policiais. Sendo o primeiro a descobrir o esquema de corrupção em sua totalidade, Jadue torna-se um informante do FBI e precisa se virar das maneiras mais tragicômicas para conseguir arrancar informações dos outros representantes. 

    O TRÁGICO E O CÔMICO

    Jadue, que aqui inclusive é interpretado com bastante competência por Andrés Parra, já experiente em fazer personagens polêmicos da vida real, como Pablo Escobar e Hugo Chávez. Não só ele, mas todo o elenco se encaixa muito bem no papel, com destaque nas atrizes Karla Souza e Paulina Gaitán, respectivamente a agente do FBI e a esposa de Jadue. 

    O mais difícil ao recontar uma história já conhecida pelo grande público é surpreender o espectador com informações novas, e é justamente por isso que El Presidente merece tanto destaque. A série trouxe um dos personagens mais importantes, porém menos conhecidos do escândalo de corrupção e mostrou que a vida nem sempre imita a arte — às vezes ela é ainda mais trágica e menos cômica.

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