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    Crítica: Má Educação

    Hugh Jackman em seu papel mais marcante desde Logan.

    NOTA: 4,0 / 5,0

    Sob uma ótica que, na maior parte do tempo, preza pelo sarcasmo contido nas atitudes e na postura de seu personagem principal, o filme Má Educação, de Cory Finley, é praticamente uma boneca russa. Não no sentido de buscar entregar uma história diferente em cada subtrama, mas por desencadear aos poucos informações preciosas de Frank Tassone (Hugh Jackman, como se fosse numa versão de Patrick Bateman sem o foco em assassinato). Ele é o superintendente de uma renomada escola particular de Long Island que esconde segredos com forte ameaça de destruir o status de todo seu entorno.

    O diretor brinca com o "poder" que tem com tais informações - liberadas aos poucos - e as dissolve dentro de uma trama muito bem delineada graças às nuances da performance de Hugh Jackman, que aqui se encontra no melhor papel de sua carreira desde Logan. Se há pouco tempo ele encarnou um político que se candidata a presidente em The Front Runner, em Má Educação o ator retoma o lado mais inescrupuloso e apoia-se inteiramente a ele de modo natural - mas quase beirando o sinistro.

    Um sociopata afetuoso...

    Tassone é praticamente um sociopata, mas ninguém ao seu redor compreende isso; o que inclui seus colegas de trabalho com quem possui amizade por anos, como é no caso de Pam Gluckin (Alisson Janey). Ele é bem visto pelos alunos, admirado pelas mães e aplaudido pelo corpo docente. Mas sua índole tão contrastante quando lhe convém vem à tona quando uma estudante que quer ser jornalista passa a escrever um artigo investigativo. Antes de saber que a história pode se tornar a dele próprio, Tassone encoraja a aluna com bons conselhos. "Um bom jornalista sempre encontra uma história", diz.

    Ele é um herói pacato aos olhos da ficção e, também, do público. Mas quando a matéria da estudante foca os holofotes diretamente no protagonista, suas camadas mais obscuras saem a público. Esta é a deixa de Finley para que consiga explorar os podres de quem rodeia Tassone, como a própria Pam e seus desvios exorbitantes de dinheiro. O mais interessante na estrutura da narrativa é que o espectador acompanha as mudanças do superintendente lentamente, transparecendo, assim, a sensação de que o próprio Tassone "traiu" a confiança de quem assiste ao filme.

    Má Educação mostra que a corrupção acontece não só pela ganância do ser humano, mas também pela necessidade do mesmo em provar para todos algo que ele nunca foi. É o indício de algo muito pior relacionado à sua personalidade. Tassone lida com a vontade de dominar pessoas (vide o marido que esconde do público), ambientes e até mesmo sua própria reputação, mas posteriormente perde o controle. Sua máscara de homem perfeito e compreensivo, mas calculista até na hora de demitir sua própria amiga, se esvai com o uso correto de recursos narrativos que nunca subestimam a inteligência do espectador, deixando claro que sua essência sempre foi a mesma - nós só a conhecemos um pouco depois.

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