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    Desalma: Um dia de figuração na série de suspense sobrenatural do Globoplay

    O AdoroCinema participou de uma cena da festa ucraniana Ivana Kupala, e conversou com a autora Ana Paula Maia sobre segredos da produção.

    Matéria atualizada em 28/10/2020.

    Desalma, a nova série de terror original do Globoplay acabou de estrear no streaming, mas lá em 2019, o AdoroCinema visitou o set de gravações durante a produção de uma cena especial e que é pano de fundo para toda a trama da série com Cassia Kis e Cláudia Abreu

    Lançamentos da Globoplay em outubro; Desalma é destaque

    Ambientada em Brígida, cidade fictícia no sul do país, formada por uma colonização ucraniana, Desalma acompanha duas épocas diferentes: 1988 e 2018, no qual os habitantes celebram a tradicional comemoração pagã ucraniana, Ivana Kupala, que acaba sendo palco de eventos enigmáticos.

    Desalma tem influências de Dark e Chernobyl

    Você já ouviu falar de Ivanа Kupala? Trata-se de um feriado eslavo tradicional comemorado na Ucrânia, Polônia, Bielorrússia e Rússia durante a noite entre os dias 6 e 7 de julho (curiosamente na época do aniversário desta repórter que vos fala. Coincidência? Achamos que não!).

    Fomos convidados a visitar o set da produção em setembro de 2019, e fazer uma participação especial como figurante em uma cena. Era sexta-feira 13 quando chegamos a um sítio em Guaratiba, no Rio de Janeiro, para gravar a cena da festa ambientada em 2018. Fomos encaminhados para colocar figurino (no estilo festivais de música como Coachella), fazer maquiagem e cabelo, jantar e nos prepararmos para a cena que seria filmada a seguir — ao lado de cerca de outros 150 figurantes. Entre um breu, mosquitos e o friozinho tradicional que encontramos literalmente no meio do mato, enxergamos ao longe uma árvore iluminada com luzes verdes e uma enorme fogueira em uma estrutura circular de metal. A ambientação era imensa e animada — com direito a dançar sem música em uma rave fictícia para que fosse possível ouvir os diálogos dos atores.

    Na ocasião, o grupo de jornalistas pôde conversar com a criadora da produção, a premiada escritora de livros, Ana Paula Maia, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, que faz sua estreia no audiovisual. Estudiosa do gênero de terror — e com um pézinho em inspirações vindas de Arquivo XThe Twilight Zone — ela se aprofundou na cultura ucraniana e eslava.

    Globo / Estevam Avellar

    “A base da história é a mitologia eslava, pegando a ideia da Ivana Kupala, uma festa pagã de celebração do solstício de verão. Eles ainda comemoram isso em alguns lugares da Europa, em muitas comunidades ucranianas. Dentro dessa celebração uma menina desaparece, em 1988 e há um desdobramento desse desaparecimento dela. A história tem um salto para 30 anos depois, que é quando eles decidem fazer a Ivana Kupala de novo. Muita coisa se passou, esses adolescentes ouviram falar da festa mas nunca vivenciaram. Então, questões em aberto lá na década de 1980 começam a serem resolvidas nos dias atuais”, explicou a autora.

    Em 2018, a série acompanha o suicídio do executivo Roman Skavronski (Nikolas Antunes), nascido em Brigida. Sua esposa Giovana (Maria Ribeiro) volta para a cidade natal do marido com as duas filhas; enquanto a prima dele, Ignes (Claudia Abreu), passa a sofrer com situações sobrenaturais. Se a história te lembrou alguma série de sucesso recente, você não está errado, Desalma têm influência de Dark e outras produções do gênero, sim. 

    “Estamos gravando uma cena em que a mãe está procurando a filha, e ela acaba de descobrir que a irmã mais velha trouxe a menina para uma quase rave. A Ivana Kupala é uma festa mais simples, mas eles fizeram um festão em 2018. [Giovana] vem da cidade grande, está há poucas semanas vivendo aqui, e não fazia ideia [do que seria o evento], achava que era uma festinha e se depara com isso”.

    Globo / Estevam Avellar

    Idealizada como um arco fechado que deve ser concluída em três temporadas, Desalma acompanha a bruxa Haia Lachovicz (Cassia Kis) nas duas linhas temporais. Ela foi rejuvenescida para 1988 e envelhecida para 2018, através de maquiagem. Segundo Ana Paula, “vemos o processo de vida dela nesses trinta anos, ela passa a ser uma mulher amarga, pistoleira… Espingarda ela já tinha, ela já dava os tiros dela na floresta”, comentou a escritora.

    A autora aproveitou para comentar que a série contém muitos animais, presentes na trama de forma intensa. Porcos, cavalos, cachorro, passarinho e até uma gata, Baba Yaga, que não era uma boa atriz e foi demitida, brincou Ana Paula. “Gosto de trabalhar com bichos, eles têm um sexto sentido.”

    Além de retratar a mitologia eslava, com elementos como bruxas tenebrosas vindas da cultura ucraniana, a trama de Desalma também usa um fundo histórico do que aconteceu na década de 1980. “Em 1988, o Muro de Berlim ainda de pé e o regime soviético está falindo. Chernobyl aconteceu há dois anos e é uma referência importante na história, porque dentro das comunidades ucranianas, de fato, eles acompanhavam essas notícias”, explicou.

    Globo / Estevam Avellar

    Ana Paula ainda aproveitou para usar a série de sucesso Chernobyl como exemplo de como é possível explicar elementos distantes do cotidiano do público, diferentemente do que acontece nas novelas: “É uma linguagem mais de série, mas elas são explicadas. É que a novela frisa muito os eventos e narra pensamentos. Na série, você tem que explicar as coisas e trabalhar na interpretação de tempo de silêncio”, disse. “Chernobyl é uma série super bem explicada. Eu achei um tanto quanto genial como você vai explicar como funciona a usina nuclear. Eles têm o ‘escada’, [um personagem] para ouvir e outro para falar. É um recurso narrativo que não podemos perder. Mas não é narrar pensamentos nem ficar falando do óbvio”, comentou, afirmando que Desalma não usa flashbacks para explicar, mas, apesar de deixar claro elementos como ‘transmigração de alma’ e ‘possessão’, contém brechas para o público teorizar.

    Confira o trailer da primeira temporada de Desalma abaixo:

     

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