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    Festival de Brasília 2019: Vaias e protestos marcam noite de abertura

    Manifestações começaram após o secretário de cultura do DF, Adão Cândido, subir ao palco.

    Conhecido no calendário por ser um evento altamente politizado, o Festival de Brasília abriu as portas do Cine Brasília, na noite de sexta-feira (22), se mostrando mais engajado do que nunca.

    A cerimônia de abertura foi comandada pela atriz Maria Paula, que em diversos momentos da noite precisou se virar nos 30 para conter os ânimos exaltados da plateia — ou ao menos tentar. Isso porque a noite mudou rapidamente o tom de solenidade quando Adão Cândido subiu ao palco.

    Secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Cândido praticamente não teve a chance de falar, já que seu discurso foi abafado por gritos de “Fora Adão”. Constrangido com a situação, o secretário resolveu responder abertamente os seus opositores. “Eu vou falar de qualquer jeito, o que vocês estão fazendo é um desserviço ao audiovisual, uma atitude antidemocrática contra o cinema”, disparou.

    A polêmica se deu principalmente porque os opositores de Cândido questionavam sobre um edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no valor de R$ 25 milhões, que acabou sendo cancelado pela secretaria, no primeiro semestre de 2019.

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    O clima tenso foi ainda mais agravado minutos depois, quando o ator Marcelo Pelucio fez uma subida não programada ao palco para ler uma carta do Movimento Cultural do Distrito Federal, responsável por reunir as demandas de diversas entidades artísticas. Pelucio não terminou seu protesto, porque logo foi interrompido pela presença de um segurança, seguida do corte do áudio do microfone. Em meio à revolta pelo tratamento dedicado a Pelucio, parte do público passou a gritar “censura”.

    Para tentar amenizar a inquietação, Maria Paula se desdobrou para enaltecer o festival como um momento de celebrar o cinema brasileiro, mas nem assim os gritos foram contidos. “Vocês querem que eu pare de falar?”, indagou a atriz ao público, enquanto um segundo grupo pedia aos manifestantes que deixassem a apresentadora continuar seu trabalho.

    Mas nem tudo foi controverso na noite de abertura. O Festival de Brasília prestou homenagens e importantes reconhecimentos a alguns nomes da indústria cinematográfica, entre eles Stepan Nercessian, que recebeu o troféu Candango pelo conjunto da obra. O ator tem uma carreira de 49 anos na TV e no cinema.

    O ponto alto da cerimônia foi a entrega do prêmio da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo, que este ano homenageou a antropóloga e documentarista Debora Diniz, obrigada a deixar o Brasil em 2018 por conta de sucessivas ameaças de morte a ela e à sua família. Diniz é uma das maiores defensoras dos direitos reprodutivos das mulheres no Brasil, se tornando uma importante figura no debate sobre o aborto até a 12ª semana de gestação. Por não poder estar presente, um vídeo dela de agradecimento foi exibido no telão.

    Além de Nercessian e Diniz, o evento homenageou um dos antigos organizadores do festival, Fernando Adolfo, com a medalha Paulo Emilio Salles Gomes; o centenário do maestro Cláudio Santoro, que morreu em 1989; e um minuto de silêncio foi feito pelo cineasta Fábio Barreto, que morreu esta semana após nove anos em coma.

    O filme escolhido para a abertura foi O Traidor, de Marco Bellocchio, uma coprodução entre Brasil, Itália, França e Alemanha.  O longa disputou a Palma de Ouro em Cannes e foi apresentado em Brasília pela atriz Maria Fernanda Cândido, que compõe o elenco. 

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