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    A Vida Invisível: "O filme é nos anos 50, mas estamos conversando com hoje", conta Julia Stockler (Entrevista exclusiva)

    O AdoroCinema bateu um papo com o elenco e o diretor do representante brasileiro do Oscar 2020.

    Representante do Brasil na corrida por uma indicação na categoria de melhor filme internacional do Oscar 2020, A Vida Invisível é um filme que se denomina um melodrama tropical. Baseado no livro "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", de Martha Batalha, o longa dirigido por Karim Aïnouz traz Carol DuarteJulia Stockler vivendo as irmãs Eurídice e Guide, no Brasil das décadas de 1940 e 1950, separadas quando Guida decide fugir de casa com o namorado e a irmã é forçada a se casar e aceitar as responsabilidades de uma nova vida.

    "Eu acho que [A Vida Invisível] é uma história que é sobre perda, sobre emoção", conta Julia Stockler. "Eu acho que as mulheres, enfim, todas as mulheres já passaram por uma situação de violência sussurrada, de afogamento dentro de uma estrutura machista e patriarcal, não é? O filme é nos anos 50, mas a gente está conversando com hoje. Nós não temos um vilão no filme, nós apresentamos uma realidade."

    Quanto à absorção da história pelo olhar masculino, Gregório Duvivier, que vive o personagem Antenor, pontua:

    "Eu acho que, do homem, é uma investigação pessoal sobre quais foram os momentos que ele pode ter sido aquele personagem e quais foram os momentos que ele viu em sua volta personagens assim; quais foram os momentos que o pai dele foi, que o avô dele foi… Então, eu tenho a impressão que deve gerar no homem uma investigação depois do final do filme, porque para mim gerou, pelo menos. Eu fui esse cara? Será que eu conheci gente que foi?"

    Grande vencedor da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes — a principal seleção paralela do evento —, A Vida Invisível terá distribuição norte-americana pela Amazon Studios, uma etapa essencial para que o filme consiga ter uma forte campanha nos Estados Unidos.

    Mas, antes disso, A Vida Invisível já vem circulando por vários festivais de cinema, tanto no Brasil quanto ao redor do mundo. Após Cannes, o longa já passou por Alemanha, Polônia, Israel, Canadá, Bélgica, Suíça e Peru.

    "Eu me lembro que eu estava lá em Lima e um homem saiu chorando muito do filme", recorda Carol Duarte. "E ele me perguntou: 'Nossa, a gente é horroroso assim?', e eu comecei a rir e falei 'Bom, eu acho que vocês sempre fizeram as leis, vocês sempre contaram e contam a história do mundo, não é?'. Então é justo mesmo você olhar para esse quadro e se afetar por ele. É o mínimo."

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    ARP Distribution

    Para Karim Aïnouz, a principal surpresa ao adaptar a obra literária para as telas foi selecionar um recorte e descobrir que, eventualmente, estava conversando diretamente com o Brasil atual.

    "Quando a gente começou a fazer esse projeto, era em 2015. Não tinha tido golpe, não tinha tido eleição de novo. Então, ele começa muito como um desejo meu de fazer um retrato de uma geração de mulheres tão vivas até hoje, mas eu queria entender como elas chegaram aqui. Então, tinha um retrato seu agora e eu queria entender como você era há 50 anos. Ele começa muito com esse desejo de se fazer quase que uma arqueologia da experiência da mulher no Brasil, nesses dois momentos históricos."

    Ele continua:

    "E aí, a chapa foi ficando quente politicamente no Brasil. E eu acho que aquilo que aconteceu nos últimos quatro anos — além da eleição de quem seja, do impeachment de quem seja — foi uma revalorização da família tradicional. Você tem uma série de valores conservadores que voltaram às pautas de maneira muito forte. Então, o filme foi tomando uma dimensão que eu não sabia que ele ia tomar quando a gente foi fazer Eu queria muito que ele fosse quase que um tapa na cara. Poxa vida, olha só como a gente mudou tanto e como a gente não mudou tanto. E, olha só, se a gente voltar a querer ser o que a gente era, olha quanta dor está envolvida nisso. Se a gente querer voltar a defender a família nuclear como ela é, a família biológica, olha que consequências pode isso ter. Se a gente quiser defender uma onda que é pautada pelo machismo, olha que consequências isso tem."

    A Vida Invisível já está em cartaz em todo o Brasil. Leia a crítica.

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