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    Alemão 2: Filme exalta mulheres empoderadas em posições de chefia (Visita a set)

    Continuação de Alemão traz atores dramáticos em cenas de ação, tal como em Vingadores, revela diretor José Eduardo Belmonte.

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Alemão chegou tímido aos cinemas em 2014, mas logo superou as expectativas, levando aos cinemas brasileiros mais de 940 mil espectadores. O filme de sucesso protagonizado por Caio BlatCauã Reymond está prestes a ganhar uma continuação, ambientada nove anos após os eventos do primeiro longa-metragem. Sob a direção de José Eduardo BelmonteAlemão 2 busca reverberar temáticas atuais, trazendo novos personagens e exaltando o empoderamento feminino através da presença de uma delegada mulher, interpretada por Aline Borges.

    Protagonismo feminino

    “Acho que sempre que uma mulher vê outra mulher em cena, ela vai se sentir inspirada”, exaltou Leandra Leal, intérprete da policial Freitas, em entrevista exclusiva ao AdoroCinema durante uma visita ao set em maio deste ano, no bairro da Penha, no Rio de Janeiro. “Esse filme passa no Teste de Bechdel”, revelou a atriz, se referindo ao exame que verifica que uma obra possui uma cena com duas ou mais mulheres que conversam entre si sobre algo que não sejam homens. “Ele mostra não só minha personagem, mas a [delegada] Amanda também”, explicou, apresentando as duas principais personagens femininas da trama. “Acho que a Amanda é até mais expressional que a Freitas porque ela é uma chefia, está em uma posição de comando, enquanto a Freitas está na ação”, esclareceu Leal sobre protagonistas empoderadas.

    “A Freitas é uma policial que já está há um tempo na corporação e decide virar tira, como eles falam, que é sair na rua em ação”, antecipou a atriz sobre sua personagem. “Ela é uma pessoa que acredita na polícia, na corporação, e quer pertencer àquilo ali. É uma busca de pertencimento e aceitação ela ir para esse lugar. Acho que ela tem um ideal, uma projeção do que vai ser e na hora é muito mais punk do que ela estava imaginando”.

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Alemão 2 acompanha uma operação de policiais civis no Complexo do Alemão para capturar um traficante (Digão Ribeiro) que dominou o morro após a falência das UPPs – Unidades de Polícia Pacificadoras. A equipe formada por Machado (Vladimir Brichta), Freitas (Leandra Leal) e Ciro (Gabriel Leone) efetua a prisão no morro. Entretanto, o grupo sofre uma emboscada armada pelo chefe da facção rival e acaba sendo perseguido pelos traficantes no local. Sob o comando da delegada Amanda (Aline Borges), que trabalha do centro de operações, eles precisam achar um modo de sair de lá com vida.

    “A Amanda é uma mulher corajosa, sensata, forte”, comentou Aline Borges sobre sua personagem. “Ela é cheia de adjetivos que inspiram outras mulheres. A começar pelo lugar que ela ocupa. Amanda começa como policial civil, dentro desse meio totalmente machista, e consegue se destacar. Depois de dez anos, ela é nomeada delegada e passa a trabalhar com a inteligência da polícia civil”, continuou a atriz. “A meta dela é acabar com a política de enfrentamento. Ela não quer mais que ninguém morra e sabe que, se usar a inteligência de forma tática, é possível sim que as operações saiam de forma limpa, sem tiro. A personagem leva o lugar da sensibilidade, do olhar menos agressivo, menos impulsivo e mais racional. Ela acaba agregando uma pacificação [à operação].”

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Em seu primeiro longa-metragem, Aline Borges revela que, quando foi escalada, não tinha noção da responsabilidade de interpretar uma mulher negra, empoderada, em uma posição de chefia dentro de um espaço machista — especialmente quando começou a pesquisar sobre mulheres membros da polícia. “Até temos bastante delegadas, no Brasil todo, não só no Rio de Janeiro, mas como é um meio totalmente masculino, elas ainda não são bem vistas. Então, a que consegue se manter nesse lugar é uma mulher vitoriosa, que inspira”, comentou. “Interpretar essa personagem nesse momento em que as mulheres estão tomando coragem para ocupar lugares de poder, de quebrar esse patriarcado, não só é prazeroso, como também tem um cunho social, de você inspirar mulheres a ocuparem cada vez mais lugares ditos masculinos” comentou.

    O cineasta José Eduardo Belmonte, responsável também por comandar o primeiro filme, quer provar que filmes de ação não são exclusivamente masculinos e que as mulheres merecem seu espaço no gênero, conforme revelou ao AdoroCinema.

    “Isso é parte da maturidade”, disse o diretor sobre colocar mulheres em papéis de destaque em Alemão 2. “Os filmes de gêneros de ação sempre foram vistos como uma coisa masculina, como se fosse um monopólio do homem essa coisa proativa, mas na realidade não são. Se você for ver hoje, existe uma participação muito grande das mulheres”, comentou, explicando ter sido tanto um aprendizado quanto um desafio inserir esse protagonismo feminino. “É muito interessante abrir para isso porque sou homem, você precisa dialogar muito para ter esse entendimento”. Curiosamente, os roteiristas do filme também são homens, Marton Olympio e Thiago Brito, mas contaram com uma consultoria feminina para trazer esse contraponto.

    O contraponto

    Além de trazer mulheres empoderadas, Alemão 2 apresenta o contraponto: o machismo, na figura do policial Pita, interpretado por Alex Nader — marido de Aline Borges na vida real. O ator já viveu diversos policiais durante sua carreira, tanto em novelas quanto em séries de TV, entretanto, ele revela que, desta vez, sua interpretação soa diferente. “Estar nesse papel de um policial hoje em dia, principalmente no Rio de Janeiro, em que o governador incentiva o abate de marginais, é muito ruim e delicado”, ponderou, indicando que, apesar de ter esse sentimento em relação ao personagem, sua atuação como Pita não aborda essa questão. “Ele aponta para o local do machista, frente às mulheres da operação, como a Amanda, que é delegada, chefe dele, e a outra policial, a Freitas”, revelou, explicando a orientação dada pelo diretor do filme. “O Belmonte sempre pedia que meu personagem deixasse dúbio o que falava para elas, aquela coisa de meio que desmerecendo essa posição”.

    “Ele fica numa dualidade de um olhar que se acha um pouco superior a elas e também aos outros, só por conta de ele ter a especialização da profissão”, continuou Nader sobre seu personagem. Seu desafio foi tentar diferenciar Pita dos demais policiais. “Fui levado para o pensamento de um policial nessas condições, nesses lugares dos especiais, tanto no Core quanto no Bope, de serem pessoas arrogantes. Eles se falam assim e dizem que é de propósito, para manter esse lugar.” Para Nader, interpretar essa figura machista foi sua forma de criticar o que inevitavelmente é o reflexo da sociedade. “O machismo está aí, as pessoas estão batendo palmas para o machismo. E para o heterose branco armado”, alertou.

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Policiais reais

    Alemão 2 também busca introduzir diferentes tipos de policiais. Para Leandra Leal, o que a atraiu no projeto não foi o sucesso do filme anterior, mas justamente o fato de trazer personagens reais para falar de segurança pública. "É um filme que apresenta uma série de protagonistas que sofrem com essa política. A polícia representada de uma forma super plural. Você tem policiais que são idealistas, policiais que não, como acredito que é a corporação. Pessoas que já estão totalmente contaminadas pela violência dentro da corporação, contaminadas pelo sistema, pela corrupção, e outras que estão lutando para mudar isso. O filme também mostra a comunidade, os moradores, as pessoas comuns, algo que é muito importante ter.”

    "O longa-metragem é polifônico, então ele procura dar várias vozes a vários personagens”, complementou o diretor José Eduardo Belmonte. “Até mesmo dentro da polícia não é uma coisa só, existem vários tipos de policiais. Temos que entender que a polícia é uma instituição, mas ela não é monolítica, assim como os evangélicos não são, assim como a comunidade não é, como a classe média não é. O filme busca mostrar essa amplitude de leituras”, esclareceu.

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Um elenco dramático

    Assim como Alemão 2 apresenta uma diversidade entre os personagens, o diretor José Eduardo Belmonte e o produtor Rodrigo Teixeira tiveram a preocupação em trazer atores de diferentes “naipes”, de diversas fontes. De acordo com a produtora executiva Marília Garske, a escolha do elenco surgiu de convites para pessoas que eles queriam que estivessem no filme. “Acho que 90% do elenco foram pessoas que a gente falou: ‘Queremos essa pessoa para tal personagem’ e conseguimos fechar”, afirmou ela.

    Para Belmonte, era importante ter “atores dramáticos”, que tivessem sensibilidade e personalidade, que, segundo ele, têm sido “importados” para o cinema de ação. “Você nunca imaginava o Matt Damon fazendo filme de ação nos anos 80, 90. assim como você não imaginava o Robert Downey Jr. fazendo o Homem de Ferro porque são atores dramáticos, com densidade dramática. Até Vingadores usa atores dramáticos, por exemplo, que dão subtextos, camadas, não é só montanha russa”, comparou ele. “Então você os traz cada vez mais para a ação para conseguir criar complexidade, subtexto porque são atores que dominam muito bem isso”. Além disso, sua preocupação foi buscar profissionais de diferentes áreas. “Isso é uma coisa minha, de trazer diversidade de ‘escolas’. Temos atores intuitivos, atores de escola, atores que você conhece mais pela TV. Essa junção é importante para mim, essa fricção, esse processo”.

    O cineasta ainda comentou que, quando convidados, a maioria dos membros do elenco não se imaginaram no papel. “Eles se achavam muito doces para fazer uma coisa violenta, mas eu acho que isso não existe. Eu queria justamente não ir para o óbvio”, explicou.

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Filme de ação brasileiro

    O diretor acredita que o difícil é fazer filmes de ação de qualidade no Brasil, sem parecer uma cópia do cinema norte-americano. “Filmar ação é uma coisa que gente não tem muito know how, é algo que depende de orçamento, orçamento que nós não temos. Então temos que dar uma ‘abrasileirada’ na situação no sentido de produzir algo interessante que não seja cover de um filme de ação americano", explicou Belmonte. "Porque às vezes ficamos nessa tentação de querer provar que sabe fazer e faz filmes que são muito parecidos com os americanos, mas que não tem o mesmo dinheiro nem a mesma estrutura. Até procurei filmes chineses, outras cinematografias para ver como eles resolviam esse gênero”.

    Fazer diferente também foi uma preocupação de Vladimir Brichta. “Eu queria me sentir capaz de realizar esse policial em uma linguagem realista, sem que isso parecesse que eu era um policial da SWAT de filme americano porque isso não é crível. Aliás, a polícia americana do cinema não é nem igual ao policial americano, então o americano inventou o jeito de ser polícia. Se a gente tentar repetir isso, vai soar forçado, ainda mais com o nosso compromisso com o realismo, porque é diferente do americano”, ponderou o ator. “[O Machado] é um policial que faz operação em favelas e comunidades, que entra em combate, tem um treinamento, mas que também sente dores, ele pode torcer o pé aqui e ali, tem um nível de acertos e erros. Fiquei preocupado em dar conta disso”, explicou Brichta sobre seu personagem.

    Galeria Distribuidora; Fox Pictures

    Pelo menos, o elenco pôde contar com a experiência do diretor José Eduardo Belmonte e a equipe que trabalhou com ele em outras produções de ação. “O Alemão veio com maturidade. Carcereiros foi faculdade e Alemão 2 foi mestrado, nesse sentido de lidar com o gênero”, afirmou o cineasta.

    Com as filmagens já finalizadas, Alemão 2 tem previsão de estreia para o primeiro semestre de 2020.

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