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    Festival de Cinema Latino-Americano 2018: Duas visões opostas do cinema documentário em Nelson Felix e O Caso do Homem Errado

    O que é mais importante: o que o filme conta, ou o modo como conta?

    Apesar da pluralidade de países representados no 13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, o terceiro dia de cobertura do AdoroCinema acabou se concentrando em três produções brasileiras: dois documentários bastante distintos e uma ficção adaptada de uma peça de teatro.

    Nelson Felix - Método Poético para Descontrole de Localidade é o novo filme do prolífico Cristiano Burlan, que tem produzido cerca de dois novos projetos por ano. Desta vez, ela presta sobre as ideias do artista plástico carioca através de uma convergência de estilos: o cineasta adapta o ritmo de seu cinema de modo a dialogar com as obras conceituais de Nelson Felix, que explora a dilatação do tempo e do espaço. Burlan evita qualquer didatismo, privilegiando a forma, as construções poéticas, a experiência do tempo. 

    O público contava com uma presença notável de profissionais de cinema, incluindo os diretores Helena Ignez, Kiko GoifmanCláudia Priscilla e Rubens Rewald, além dos atores Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes. Diante da plateia, Burlan fez uma precisão importante ao dizer que, ao invés de fazer um filme sobre Nelson Felix, preferiu fazer um filme com ele.

    Leia a nossa crítica.

    O Caso do Homem Errado, de Camila de Moraes, aposta num caminho bastante diferente. Para ela, importa menos a forma do que o conteúdo, menos a poesia das imagens do que a relevância da mensagem veiculada. A mensagem, no caso, é bem importante: através da história de Júlio César de Mello Pinto, operário negro assassinado por policiais ao ser confundido com um bandido, a cineasta critica o racismo no Brasil. 

    O conteúdo é tão forte quanto necessário, mas infelizmente a linguagem cinematográfica se revela deficiente, com pouca atenção ao ritmo e aos enquadramentos, restringindo todo o discurso aos depoimentos. Mesmo assim, a obra recebeu aplausos calorosos no final da sessão. No início da projeção, Camila e a co-roteirista Mariani Ferreira também foram ovacionadas ao evocarem o assassinato ainda não resolvido da deputada Marielle Franco. Vale lembrar que os cinemas brasileiros não recebiam filmes de diretoras negras há 34 anos, desde Amor Maldito (1984), de Adélia Sampaio.

    Leia a nossa crítica.

    Borrasca, de Francisco Garcia, completou o dia com uma ficção sobre dois amigos que se encontram numa noite chuvosa para debater a morte de outro colega, de quem eram inseparáveis. Permanecendo muito próximo à estrutura teatral, o texto mistura diálogos naturais com um estilo teatral de interpretação, gerando um efeito curioso. O mesmo pode ser dito sobre o retrato misto da virilidade, ora criticada, ora abraçada pelo discurso do filme.

    Mas a projeção se demarcou especialmente pela qualidade deficiente da projeção no Memorial da América Latina. Apesar do belo e confortável espaço, a forte luz azulada dos corredores clareava a tela e prejudicava o trabalho de fotografia de Borrasca. As diversas cenas escuras se transformavam em borrões azuis. Todas as sessões nesta sala têm sido prejudicadas pelo mesmo problema, que esperamos ver corrigido pela instituição em respeito aos artistas e aos espectadores.

    Leia a nossa crítica.  

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