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    Admirável Mundo Pop: A cultura pop é para todos

    E está liberado gostar do que quiser, quanto quiser e como quiser.

    Vou começar esta primeira coluna contando um segredo: escrever sobre cultura pop é tão legal como parece ser.

    Mas também pode ser uma tarefa difícil. Ainda tenho frio na barriga quando começo um projeto novo, mesmo fazendo isso profissionalmente há mais de 20 anos. E por mais que o assunto seja essencialmente divertido, falar sobre cultura pop em público exige muita preocupação com as palavras e as intenções. Sempre acreditei que é possível discutir o entretenimento de forma igualmente séria e apaixonada. E no atual estado das coisas, todo esse cuidado faz cada vez mais sentido.

    Repare como as pessoas cada vez mais têm gostos específicos e os padrões se transformam rapidamente. Antes, parecia que todo nerd assumido era obcecado por Star Wars, até que comecei a trabalhar com nerds bem mais jovens do que eu e percebi que não era bem esse o caso -- pelo visto, o culto em torno da saga não é assim tão natural entre as novas gerações. Também tenho amigos que assistem a todo tipo de seriado violento, mas não suportam “Game of Thrones e essas coisas medievais” (para esses eu digo “não sabem o que estão perdendo!”). Ninguém é igual a ninguém, ainda bem.

    E não é só isso que está diferente. Não faz muitos anos, ou você era fã de ficção científica, ou de desenho animado japonês. Ou você era da turma que jogava videogame, ou era do grupo que curtia discutir futebol. Cada indivíduo se definia como parte de um único nicho. É bonito notar que todo mundo gosta de algum produto da cultura pop atualmente - ou melhor ainda, de vários, simultaneamente. As circunstâncias facilitam o surgimento desse novo tipo de fã, mais democrático, aberto e variado: a variedade de produtos e formatos, o acesso a todo tipo de conteúdo em tempo real e a pluralidade de opiniões a que somos impactados na internet. Se antes consumir cultura pop era um passatempo que eu praticava reservadamente, no máximo ao lado de amigos chegados e específicos, hoje essa é uma experiência aceita, coletiva e global, sem tantos preconceitos e restrições.

    Então, está liberado gostar do que quiser, quanto quiser e como quiser. Você pode ser fã de Friends e Game of Thrones ao mesmo tempo, ainda que sejam produtos tão longínquos entre si quanto a distância entre Nova York e Westeros. É plenamente aceitável cultuar Star WarsStar Trek simultaneamente, que (quase) ninguém vai te julgar por isso. É fácil encontrar leitores apaixonados na mesma medida por mangás e gibis de super-heróis, jogadores duplamente viciados em Candy Crush e League of Legends, frequentadores de estádios de futebol que são fãs de Breaking Bad e La Casa de Papel.

    E se o assunto desta coluna semanal é “cultura pop”, o que isso engloba, afinal? A resposta óbvia são os produtos de entretenimento puro, na forma de filmes, séries, games, quadrinhos, música, tecnologia e outras formas de expressão cultural para as massas. Mas não é “só” isso. Eu também gosto da definição formal, como falei aqui há um tempo: ”uma coleção de pensamentos, ideias, atitudes, perspectivas e imagens preferidas pela população mainstream”. Na prática, a cultura pop é tudo aquilo que apreciamos, consumimos e espalhamos sem fronteiras. Algo que pode ser adorado, discutido, questionado e propagado por qualquer tipo de pessoa, independente de onde estiver.

    Nesse sentido, quer algo mais “cultura pop” do que essa Copa do Mundo da Rússia? Com suas estrelas ascendentes e decadentes, situações emocionantes e esdrúxulas, dramas pessoais, fofocas e memes, muitos memes (sorry, Neymar!), o torneio foi experienciado e curtido por todo mundo, mesmo por quem não se interessa tanto por futebol. Porque, de fato, é muito mais do que isso.

    É este o admirável mundo pop que quero explorar e compreender semanalmente, e para o qual convido você a me acompanhar. Vamos desbravar juntos?

    Pablo Miyazawa é colunista do AdoroCinema e consome cultura pop desde que nasceu, há 40 anos, de Star Wars a Atari, de Turma da Mônica a Twin Peaks. Como jornalista, editou revistas de entretenimento como Rolling Stone, Herói, EGM e Nintendo World.

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