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    Opinião: Resultados de Han Solo e Deadpool 2 não indicam o esgotamento dos blockbusters, mas a sua renovação

    A indústria americana não para de se transformar.

    2018 ainda nem chegou à metade, mas a imprensa dedicada ao cinema já levanta a pergunta que costuma aparecer todos os anos nos jornais e revistas: os blockbusters estão em risco? O público está se cansando das mesmas franquias? As dificuldades econômicas são responsáveis por algumas bilheterias abaixo do previsto? Caminhamos rumo à "implosão da indústria", como Steven Spielberg previu em 2013 (mas negou em 2015) e como Martin Scorsese sugeriu em 2016?

    Desta vez, as dúvidas surgem após os resultados de Han Solo - Uma História Star Wars e Deadpool 2. O primeiro arrecadou US$84 milhões em seu primeiro fim de semana - o resultado mais fraco da franquia desde que foi adquirida pela Disney, e 46% mais fraco do que Rogue One - Uma História Star Wars, enquanto o segundo está atualmente 10% abaixo do faturamento do Deadpool original, apesar de a sequência ter custado duas vezes mais caro, de acordo com os dados do Box Office Mojo.

    Os números despertaram inquietação. Mas é preciso ter calma antes de falar mais uma vez em crise, por vários motivos:

    1. No caso de Han Solo, o resultado mais fraco que os filmes anteriores representa uma primeira tentativa de lançar os novos filmes de Star Wars no mês de maio (ao invés de dezembro), poucos meses após Os Últimos Jedi. De certo modo, esta experiência pode servir de teste para os próximos lançamentos da saga, sem falar que o espaço até o Episódio IX será maior desta vez. Isso revela que a indústria está buscando novas janelas de exibição fora do "verão americano", ou seja, o período entre fim de junho e começo de agosto, quando os blockbusters disputam a atenção dos jovens em férias. A própria Disney, com Os Vingadores e os filmes anteriores de Star Wars, já demonstrou que pode obter números impressionantes fora do período de férias.

    2. No caso de Deadpool 2, é difícil manter o efeito surpresa no segundo filme, depois do caso excepcional do primeiro, que custou apenas US$58 milhões (orçamento baixíssimo para uma produção de super-herói) e arrecadou US$783 milhões no mundo inteiro. O investimento cada vez maior para manter resultados semelhantes (ou levemente inferiores ao original) é comum nos blockbusters de super-heróis: Vingadores também investiu US$30 milhões a mais em Era de Ultron do que no primeiro Vingadores, para atingir uma bilheteria 7,8% mais baixa, enquanto Liga da Justiça aumentou em US$50 milhões seus custos de produção, para um resultado 25% mais fraco que Batman vs Superman - A Origem da Justiça. Se a indústria não implodiu nos últimos anos devido a estes casos, e se estas franquias não pararam de se desenvolver, isso significa que o mercado é capaz de absorver variações como estas e ainda se manter rentável - até porque o sucesso de uma franquia não se baseia exclusivamente nos cinemas. Os lucros dependem também do VoD, da venda dos direitos para a televisão e da criação de produtos derivados (mochilas, roupas, acessórios, baldes de pipoca etc.).

    3. A sobrevivência de franquias com resultados modestos se deve, em partes, ao faturamento fora dos Estados Unidos. Os mercados estrangeiros se tornam mais importantes a cada ano: a China, em especial, se transformou num circuito de grande importância para os lançamentos, por sua capacidade de salvar sozinha alguns filmes que se anunciavam como fracassos nos Estados Unidos (Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos) ou mesmo superar o faturamento americano. Com Transformers - O Último Cavaleiro, os chineses garantiram US$228 milhões arrecadados, contra apenas US$130 milhões dos norte-americanos. O Japão, a Coreia do Sul, o México, a França e a Alemanha continuam sendo apostas seguras para lançamento de franquias, e o Brasil aparece como décimo primeiro mercado mundial.

    4. Ao mesmo tempo que algumas franquias fracassam, outras aparecem como apostas para os próximos anos. O Espetacular Homem-Aranha acabou, As Tartarugas Ninja está em dificuldade, Tomb Raider ficou muito abaixo do original, o próximo Transformers perdeu sua data de lançamento, mas 2018 já viu o surgimento do fenômeno Pantera Negra, apresentou números excelentes com Um Lugar Silencioso (que vai ganhar uma sequência) e garantiu a continuação de Corra!. Recentemente, Mulher-Maravilha se mostrou mais forte que Batman e Superman nas bilheterias, enquanto Logan conquistou sozinho um resultado que todos os X-Men não tinham obtidos juntos. E Vingadores: Guerra Infinita, lançado há menos de dois meses, conseguiu superar o número dos dois primeiros filmes.

    Talvez as grandes produções não estejam em risco, apenas em constante renovação. Os grandes estúdios americanos, atentos às demandas do momento, testam novas datas de estreia, novos atores no elenco (com um número cada vez maior de astros asiáticos), novas temáticas. Aos poucos, os produtores inserem mais mulheres fortes nas histórias, garantem maior representatividade negra e LGBT, ampliam a carga de humor - mesmo na sombria franquia da DC/Warner. Algumas ousadias trazem ótimos resultados (o teor sangrento e a classificação 16 anos de Deapool e Logan, a repaginação colorida de Thor: Ragnarok), enquanto outras fracassam (o tom kitsch de Uma Dobra no Tempo, a transformação de Círculo de Fogo num sub-Transformers). Seja por necessidade de sobrevivência (artística e comercial), seja por iniciativa própria, a indústria não para de se transformar, e se sustentar. A cada franquia que desaparece, outra se anuncia no horizonte.

    Resta saber o que as próximas sequências de grandes produções - Avatar, Bond 25, Mulher-Maravilha 2, Pantera Negra 2, Os Incríveis 2Frozen 2 - vão trazer de novidade a esta configuração.

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