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    José Padilha fala sobre amizade com Wagner Moura e desejo de fazer filme sobre Belo Monte

    "Não consigo ter ideologia. Se existe alguma discordância com o Wagner [Moura] ou com o [Marcelo] Freixo é porque eles têm ideologia", afirmou o cineasta em entrevista.

    Alexandre Loureiro/Getty Images

    José Padilha se viu em um turbilhão político após um de seus trabalhos mais recentes, a série O Mecanismo, ser criticada por atribuir frase sobre "estancar a sangria" da Operação Lava Jato a um personagem que representa o ex-presidente Lula. Em um momento de polarização no país, o cineasta foi alvo de muitas críticas de militantes e figuras políticas de esquerda, incluindo a ex-presidente Dilma Rousseff.

    Em entrevista com o jornalista Pedro Bial, exibida na madrugada desta terça-feira (10), Padilha foi perguntado se seus posicionamentos políticos afetaram suas amizades com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL - RJ) e o ator Wagner Moura, proeminentes figuras de esquerda no campo político e nas artes.

    "Falo com o Freixo e o Wagner sobre tudo. Não gosto muito de falar com eles sobre política por isso. Na verdade, não é nenhuma ruptura ideológica. Se eu for caracterizar minha posição política, eu sou um socrático, eu sei que não sei. Eu leio Marx ou Engels e eu não compro a construção teórica do marxismo. Por outro lado, se eu leio Adam Smith, Hayek, von Mises ou qualquer desses liberais, eu também não compro. Eu vejo um milhão de furos. Eu acho que a virtude está em algum lugar do meio. Eu não consigo ter ideologia", afirmou o diretor. "Se existe alguma discordância com o Wagner ou com o Freixo é porque eles têm ideologia".

    Padilha dirigiu Wagner Moura nos dois maiores sucessos da carreira de ambos, Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite 2 (2010). No segundo filme, que levou mais de 11 milhões de brasileiros aos cinemas, o personagem do deputado Fraga, vivido por Irandhir Santos, é inspirado no enfrentamento de Freixo às milícias no Rio de Janeiro.

    Padilha, que atualmente reside nos Estados Unidos e está prestes a lançar mais uma produção internacional, o suspense baseado em fatos reais 7 Dias em Entebbe, com Daniel BrühlRosamund Pike no elenco. Perguntado por Bial sobre quando faria cinema no Brasil, o realizador falou sobre o que intenciona rodar quando voltar ao país.

    Thomas Niedermueller/Getty Images

    "Mais importante do que voltar a fazer cinema no Brasil, é fazer cinema sobre o Brasil", comentou. "Acabei de fazer uma série inteira sobre o Brasil [O Mecanismo]. Agora eu tenho um projeto que me interessa. Eu me interesso em falar sobre o que aconteceu em Belo Monte. Eu me interesso porque é uma mistura de corrupção com um profundo descaso ambiental e antropológico. É um crime que tem muitas dimensões. Eu me interesso e estou estudando para fazer talvez um filme".

    As obras de construção da Usina de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu, no Pará, começaram em 2011 e ainda estão em curso. O projeto enfrentou muita resistência de grupos de ambientalistas e indígenas. Perguntado sobre o financiamento do hipotético filme sobre o assunto, Padilha brincou que "iria chorar lá com a Netflix".

    Durante a entrevista, Padilha ainda comentou uma cena de Tropa de Elite 2 que viralizou na internet após a execução da vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio de Janeiro, em março deste ano. Uma das linhas de investigação da polícia aponta para um possível envolvimento de milícias no assassinato de Marielle e do motorista do carro onde a vereadora estava, Anderson Gomes. "O que eu acho que foi mais profético no Tropa 2 foi: eu tinha um personagem de direita e um de esquerda e no final, tinha uma CPI onde eles trabalhavam juntos. Eles entendiam o seguinte: a violência urbana, o mecanismo não é ideológico. Eu já estava dizendo isso e a gente têm que trabalhar juntos, largar o preconceito e ideologia, esquerda e direita e destruir esse estado de coisas no Rio de Janeiro".

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