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    Cine PE 2017: O Jardim das Aflições é ovacionado na noite da vida de Josias Teófilo

    Amado antes mesmo de estrear, aplaudido durante toda sessão. Competições de curtas mantêm o alto nível.

    O cinema São Luiz lotou na segunda noite do Cine PE 2017. Motivo: O Jardim das Aflições, documentário sobre o filósofo Olavo de Carvalho. O público era bem característico, repleto de jovens, muitos vestindo camisetas em apoio ao deputado Jair Bolsonaro como candidato à presidência em 2018 e declarando, expressamente, sua orientação política como sendo de extrema direita.

    Com isso, a ovação foi geral ao diretor Josias Teófilo, que declarou viver a melhor noite de sua vida e fazer as pazes com sua cidade, após confrontos com a classe artística local por seu posicionamento político e o boicote de realizadores pela presença de seu filme (além de Real - O Plano Por Trás da História) na seleção do festival pernambucano. Durante a sessão, mais aplausos e até gargalhadas, numa demonstração de paixão da plateia pelo material em tela.

    Um olhar mais crítico, porém, percebe as fraquezas de O Jardim das Aflições. Olavo de Carvalho é uma figura muito inteligente, um tanto ambígua, cujos pensamento e personalidade audazes são subaproveitados pela abordagem reverente de Josias Teófilo. A falta de questionamento e reflexão sobre os conceitos do filósofo resulta em problemas de recorte, com ideias interrompidas ou mal desenvolvidas, e de ilustração de conceitos — aspecto fundamental num filme tão discursivo.

    Leia a nossa crítica

    A mostra competitiva de curtas pernambucanos teve início com duas animações curiosas: o simples e poético Almas Secas, ágil e belo, e Marina e o Passarinho Perdido, mais simplório apesar do texto em forma de poesia. Soberanos da Resistência carece do sincretismo do maracatu ao refletir sobre a sua importância como elemento histórico, cultural e social. Em outras palavras, realizado com surpreendente, ineficiente verborragia em pregar a necessidade inequívoca da preservação desse patrimônio pernambucano.

    Nesse cenário, o grande destaque foi o curta animado O Ex-Mágico. Olimpio Costa e Mauricio Nunes recorrem às sombras do expressionismo para evocar o cotidiano fantasmagórico de um ex-mágico entediado em seu novo trabalho como funcionário público. O alívio cômico é refugo para o seu tom sombrio e sequências delirantes que materializam o aprisionamento do protagonista em seu antigo ofício, ilusão catalisadora de sua posterior vida moribunda.

    Luiza sucedeu essa experiência depressiva com vivacidade e ternura, contando a história de uma jovem deficiente e problematizando questões particulares de seu universo, especialmente autonomia e sexualidade. O grande trunfo de Caio Baú é a delicadeza com que explora a condição de sua protagonista, realizando um filme ao mesmo tempo bem-humorado e sensível.

    Roberto Burd é igualmente feliz e até mais arrojado ao abordar doença, velhice, desejo, nudez e prostituição num grande filme de 9 minutos, caprichado na fotografia, na iluminação, nos closes, contando uma linda história de Dia dos Namorados.

    Hoje no Cine PE 2017

    Dois longas-metragens acirram a mostra competitiva: Los Leones, sobre um casal marginal formado por entre Raul Francisco e a travesti Mariana Koballa, e Borrasca, uma trama de amizade e traição, amor e morte, entre três amigos. Antes disso, essa noite de quinta (29) chuvosa começa com os curtas Aqui Jaz e Retratos da Alma.

    Críticas do Cine PE 2017

    Real - O Plano Por Trás da História

    O Jardim das Aflições

    O Crime da Gávea

    O AdoroCinema viajou a convite da organização do evento.

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