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    Relembre a Greve dos Roteiristas de 2007 e entenda por que há a ameaça de uma nova paralisação

    O Sindicato dos Roteiristas luta por mais valorização frente à Aliança dos Produtores.

    Segundo a Constituição Federal, no artigo 9º e Lei nº 7.783/89, a greve é um direito de todo trabalhador, a fim de defender os seus interesses ou a não-violação dos mesmos. Amparado igualmente pela Organização Internacional do Trabalho, o direito a greve tem sido debatido no Brasil por conta das polêmicas reformas trabalhistas, mas também está no centro das atenções no mundo do entretenimento por conta das negociações entre o Sindicato dos Roteiristas (WGA) e a Aliança de Produções Televisivas e Cinematográficas (AMPTP). Um possível indicativo de greve é uma ameaça que tem assombrado Hollywood há alguns meses, e o principal temor dos produtores e da imprensa é de que aconteça um movimento semelhante ao que ocorreu na greve de 2007-2008.

    À época, a greve durou de 5 de novembro de 2007 a 12 de fevereiro de 2008, em um movimento que uniu roteiristas do cinema e da TV, e até membros do Sindicato dos Atores (SAG) apoiando a luta. A paralisação ocorreu porque não houve consenso entre o WGA e a AMPTP, quando as partes se reuniram a fim de renovar o contrato que vence a cada três anos. Várias eram as reivindicações dos roteiristas, que não foram atendidas pelo órgão que representa os maiores estúdios de produção de Hollywood. As maiores discordâncias estavam relacionadas ao repasse dos lucros no desenvolvimento do roteiro dos webisódios, além das contribuições nos reality shows, extras de DVDs e talk shows.

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    Em aproximadamente 100 dias de protesto, o prejuízo sofrido por Hollywood com a greve foi estimado em US$ 2,1 bilhões até o fim de 2008, de acordo com o economista Jack Kyser e com relatório do Instituto Milken. Cerca de 37.700 empregos teriam sido afetados ao longo do movimento, e os resultados disso são perceptíveis até hoje.

    Repare: quando você está fazendo aquela maratona de uma série ligeiramente antiga, que esteve no ar entre os anos de 2007 e 2008, eventualmente chega uma temporada que tem menos episódios, ou cujo nível do texto tenha caído consideravelmente. Isso foi uma das consequências mais marcantes da greve, junto a filmes de qualidade duvidosa que acabaram saindo do papel por “falta de alternativa”, como Transformers - A Vingança dos Derrotados (que fez até Michael Bay pedir desculpas por causa da greve), Arquivo X - Eu Quero Acreditar (2008) e o trágico live-action Dragonball Evolution (2009). Além disso, a cerimônia do Globo de Ouro não aconteceu, Oscar chegou a ser ameaçado e houve uma explosão de reality shows na TV, como Survivor, The Amazing Race, The Apprentice, Big Brother, entre outros. 

    É justamente por isso que a ameaça de greve atual configura um grande risco, e há de se entender também que estamos vivendo uma era diferente: atualmente, há aproximadamente 400 séries ficcionais em produção na TV e em canais de streaming, e o prejuízo econômico e criativo seria potencialmente maior do que foi há quase 10 anos.

    De acordo com um levantamento feito pela Entertainment Weekly, as principais afetadas pelo movimento caso fosse deflagrado hoje seriam as temporadas seguintes de The Walking Dead (AMC), American Horror Story (FX), Star Trek: Discovery (CBS All Acess), The Mindy Project (Hulu), The Inhumans (ABC) e Jessica Jones (Netflix) — entre as mais assistidas. Caso a paralisação se estendesse, basicamente qualquer série ficcional entraria na linha das potenciais prejudicadas, mas por enquanto séries como Game of Thrones (HBO), Twin Peaks (Showtime), Orphan Black (BBC America) e Stranger Things (Netflix) não seriam afetadas neste início, porque as suas próximas temporadas já estão finalizadas.

    Sindicato dos Roteiristas autoriza greve se não houver acordo com estúdios e produtores de Hollywood

    Apesar de uma parte da imprensa americana não estar exatamente preocupada com a greve (com o boom das séries de TV na última década e o potencial prejuízo que ela acarretaria, um movimento tão grande quanto o de 2007 é improvável), o WGA votou na última segunda-feira (24 de abril) e aprovou o indicativo de paralisação com surpreendentes 96,3% de votos a favor. O maior impasse das negociações gira em torno dos aumentos requerido pelos roteiristas em várias frentes, que é maior do que oferecido pela AMPTP. O Sindicato publicou uma carta divulgando as suas condições:

    "Nós estimamos que nossas propostas atuais custariam um total de US$ 178 milhões [por ano] à indústria", destaca o texto. Desta forma, a média é que o WGA, sob esta lógica, custaria à AMPTP US$ 535 milhões para o contrato de três anos. No entanto, a Aliança visa um acordo de US$ 180 milhões trianuais.

    Com as negociações já retomadas desde a última terça-feira (25), o martelo sobre a questão será batido no próximo dia 2 de maio, quando saberemos de uma vez se o contrato foi ou não renovado e se a greve vai ou não acontecer de verdade. Enquanto isso, é melhor já ir guardando série para maratonas...

     

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