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    Festival Mix Brasil 2016: Três filmes sobre a importância dos guetos LGBT

    Waiting For B., Kiki e O Ninho se destacam no evento de cultura e diversidade.

    Jay L. Clendenin / Los Angeles Times

    Uma das retóricas normalmente usadas para atacar a comunidade LGBT diz respeito à suposta incapacidade de conviver com o resto da sociedade, necessitando se unir em guetos, em festas gays, em restaurantes gays e outros lugares de convívio focados a um segmento específico. Mesmo entre os indivíduos LGBT, muitas pessoas se recusam a conviver em ambientes segregados.

    Mas três filmes apresentados no 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade relembram a importância destes espaços, principalmente para quem sofre preconceito ou ainda está explorando a sua sexualidade ou identidade de gênero.

    Kiki, de Sara Jordenö

    Este documentário americano gira em torno dos bailes conhecidos como kiki, e frequentados em sua maioria por jovens negros, pobres e gays da periferia de Nova York. Como muitos deles foram abandonados por suas famílias e carregam histórias de violência física e psicológica, as "casas" onde se reúnem representam locais de aceitação. Nos bailes, os garotos e garotas trans podem ser efeminados, extravagantes, vestindo-se como quiserem.

    O filme é bem documentado, questionador sobre as origens da exclusão e belíssimo de assistir - o trabalho de fotografia e montagem é impressionante. Sem dúvida, um dos melhores títulos exibidos no Mix Brasil 2016. 

    Leia a nossa crítica.

    Waiting For B., de Paulo César Toledo e Abigail Spindel

    Dois meses antes do show da Beyoncé no Brasil, dezenas de jovens decidiram acampar ao lado do estádio enquanto esperavam pela chegada da cantora. Quase todos são moradores de periferia, negros e gays, que acampam justamente por não possuírem recursos financeiros para comprarem ingressos mais caros e bem posicionados em relação ao palco.

    Ao invés de fazer um documentário sobre a idolatria por Beyoncé, a dupla de cineastas mostra como os grupos constituem uma comunidade à parte, nas quais os garotos podem exercer sua sexualidade sem medo de exclusão, identificando-se com os gestos e gostos uns dos outros. Ao final do show, um dos membros chora ao lembrar que vai deixar o acampamento e voltar para casa.

    Leia a nossa crítica.

    O Ninho, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon

    A princípio, esta é uma minissérie, mas o Mix Brasil decidiu apresentá-la como longa-metragem, exibindo os quatro episódios de uma vez só. Na trama, Bruno (Nicolas Vargas) é um militar gay, descontente com a profissão. Quando abandona o quartel para procurar o irmão desaparecido, conhece outros jovens de pensamento progressista como o seu.

    Os diretores voltam a aplicar a melancolia vista em Beira-Mar, de modo orgânico e poético. Os garotos de estilos chamativos e sexualidade libertária funcionam como uma família à parte, tendo como mãe simbólica a travesti da casa noturna que costumam frequentar. Graças à ótima atuação do protagonista, o encontro com esses adolescentes soa como um alívio, um momento de paz ao garoto sufocado pela rotina. Saindo do gueto igualmente codificado do exército, ele encontra outro grupo condizente com sua forma de ser.

    Nessas três experiências, jovens excluídos da maioria encontram nos guetos uma forma de identificação, um necessário incentivo para serem o que quiserem ser. Trata-se, essencialmente, de três obras progressistas, mais preocupadas com as afinidades por via de amizade do que com laços impostos por instituições como a Igreja e a "família tradicional".

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