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    "Cada vez mais cineastas virão da Internet", afirma produtor do filme de terror Quando as Luzes se Apagam (Exclusivo)

    Lawrence Grey e o roteirista Eric Heisserer conversaram com o AdoroCinema sobre o filme que cria um novo tipo de monstro.

    Amanda Edwards / Getty Images

    Para a maioria dos cinéfilos, David F. Sandberg ainda é um diretor desconhecido. O sueco se destacou na Internet com uma série de curtas-metragens de terror divulgados no YouTube, principalmente Lights Out, história assustadora em menos de 3 minutos que já foi vista por mais de 12 milhões de pessoas.

    A empreitada funcionou tão bem que Sandberg chamou a atenção de grandes produtores, e foi convidado para filmar em Hollywood a versão em longa-metragem desta mesma história, com o título Quando as Luzes se Apagam. Na trama, o garotinho Martin (Gabriel Bateman) é atormentado por uma silhueta que aparece apenas no escuro. Logo, ele descobre que a irmã mais velha, Rebecca (Teresa Palmer) passou pela mesma situação anos atrás. Ao pesquisar sobre o caso, os dois descobrem que o segredo deste fenômeno se encontra na própria mãe, a depressiva Sophie (Maria Bello), e numa antiga amiga, Diana...

    O AdoroCinema viajou a Los Angeles, a convite da Warner Bros. Brasil, e conversou com todo o elenco sobre o filme. Abaixo, você descobre nosso bate-papo com o diretor Eric Heisserer (A Coisa, A Hora do Pesadelo) e o produtor Lawrence Grey (Última Viagem a Vegas):

    Como inovar o terror

    Eric Heisserer: Acho que você precisa ter, desde o primeiro momento, personagens que despertem interesse e uma trama que aconteça paralelamente ao terror, para que você não tenha que depender demais dos sustos e, ao mesmo tempo, para que você possa enriquecer os sustos. Até porque quanto mais você se importa com esses personagens, mais você se preocupa quando eles estão em perigo.

    Lawrence Grey: O que eu acho foi muito bom e muito assustador desde o momento em que começamos a desenvolver o projeto é que eu, David, James e Eric queríamos fazer algo novo e queríamos criar um monstro cinematográfico icônico, como aqueles das décadas de 70 e 80.

    E.H.: Decidimos que esse monstro não poderia ser um vampiro, um demônio ou um fantasma, criaturas que já vimos várias vezes. Precisava ser um novo tipo de monstro. Criar um monstro do zero permite que você tenha novas reviravoltas.

    Trabalhar com um diretor estreante

    L.G.: A primeira vez de David em um set foi a primeira vez em que pisou no set do seu filme produzido pela Warner Brothers. Às vezes a gente se esquece disso. Foi incrível ver esse arco de desenvolvimento, a história de Cinderela protagonizada por esse cara específico. Na primeira em que conversei com ele, David falava muito pouco. Ele era muito reservado, acostumado a fazer tudo por conta própria. David assinava o roteiro, o som, a fotografia, os efeitos especiais... Então, eu acho que a maior surpresa para David é que em Hollywood você tem um roteirista profissional, um engenheiro de som profissional, um fotógrafo profissional...

    Em certos momentos, eu vi que David estava prestes a ir em cada departamento técnico para fazer tudo por conta própria e o processo todo dele foi realmente deixar de ser um faz-tudo para se tornar o capitão do navio, o comandante. Eu acho que ele ficou realmente feliz quando tomou o controle de tudo de volta na pós-produção, quando pôde controlar tudo que queria controlar.

    Eu visitei David outro dia no set de Annabelle 2 e é uma pessoa completamente diferente da que eu conheci, feliz de poder ter todo o apoio e suporte da equipe.

    Descobrindo diretores pelo YouTube

    L.G.: Houve uma verdadeira democratização no modo em que os talentos surgem hoje em dia. Imagine esta mesma situação quinze anos atrás: como David Sandberg poderia ter entrado na indústria? Ele teria que ter se mudado para cá [Los Angeles], ter sorte o suficiente para ter um agente, um empresário, ter sorte o suficiente para enviar cópias em VHS de seus filmes para um monte de executivos que nunca veriam o material dele... Hoje em dia alguém como David pode colocar seu trabalho na internet e 200 milhões de pessoas podem validar esse trabalho e se conectar com a experiência. Por sorte, nós já estávamos de olho nele e entramos em contato assim que possível.

    Eu acho que cada vez mais cineastas virão do mundo da Internet, mas cineastas de verdade, como David, que têm uma visão muito clara, ainda são poucos. É raro alguém ser tão bom quanto David, ter o nível de visão e talento que ele tem.

    E.H.: Acredito que a proporção vai ser sempre a mesma [entre os diretores comuns e os realmente talentosos], só que agora o número vai ser exponencialmente maior por causa da Internet. Se a razão era de um em um milhão antes, agora você tem bilhões de pessoas e algumas pessoas a mais que conseguem se sobressair.

    L.G.: Mas também temos menos filtros. Antigamente, você precisava de alguém para dizer que acreditava o suficiente no projeto para fazer com que ele acontecesse. Agora, você só precisa colocar na Internet.

    Antes de mais nada, a grande lição que podemos tirar dessa nossa situação é que David Sandberg dirigiu ótimos curtas, então o conselho que eu daria para jovens diretores é: não percam seu tempo fazendo reuniões sobre como vocês vão dirigir um projeto; peguem uma câmera, reúnam seus amigos, façam em casa mesmo e tentem criar algo interessante. Não precisa ter um grande orçamento se o seu projeto consegue criar uma experiência honesta, empolgante e interessante. Isso pode abrir muitas portas.

    Um monstro sem efeitos especiais

    E.H.: David estava muito acostumado a usar efeitos mecânicos porque não tinha recursos. No nosso caso, só o comportamento da silhueta do monstro já faz com que o público perceba se é uma atriz que está ali ou se foi tudo feito em um computador. Além disso, ter uma atriz como Alicia Vela-Bailey (que interpreta o monstro do filme) vestida como Diana no set e iluminada com a luz certa, ajuda a motivar o resto do elenco. Todos saímos ganhando com essa decisão.

    L.G.: Essa decisão ajudou a criar uma camada de peso e autenticidade para o filme. Essa foi uma decisão que todos ajudaram a tomar e que todos toparam fazer, mas foi algo incrivelmente desafiador conforme nos aprofundamos no roteiro por causa do nível de qualidade de iluminação e de coreografia que tivemos que atingir.

    No entanto, nós fizemos algumas decisões muito boas durante o processo e uma delas foi que nós não iríamos utilizar uma equipe de próteses que trabalha em The Walking Dead ou em outros filmes de terror. Nós decidimos contratar Matthew Mungle, que ganhou o Oscar pelo seu trabalho em Uma Babá Quase Perfeita, porque ele é um maquiador que trabalha com personagens humanos.

    Além disso, escalamos Alicia, ao invés de usar algum elemento cenográfico comum para papéis de monstros, porque ela é uma dançarina profissional, ela faz trabalhos como dublê, realiza acrobacias e consegue se mover de uma maneira muito natural. Até o seu tipo físico ajudou. Ela tem 1,79m e 52kg, é a melhor aberração da natureza. Decisões como essa se tornaram uma verdadeira bola de neve e logo Eric e David começaram a escrever movimentos para Alicia e começamos a coreografar tudo. Capturar tudo isso, tecnicamente falando, foi um verdadeiro desafio.

    Humor em filmes de terror

    E.H.: O humor é uma parte essencial do terror, mas é algo que precisa ser feito com cuidado. O humor é um pequeno ingrediente que você adiciona à receita do terror enquanto está cozinhando. Meu parâmetro interno é: quantas páginas eu já escrevi sem colocar nenhuma piada e quanto horror já foi construído? Um filme de terror não é feito só de sustos, mas também de cenas onde o público se sente tenso e incomodado. É como um caldeirão fervente, muita pressão é colocada sobre o público, e uma piada, mesmo que não seja muito boa, consegue tirar uma boa risada dos espectadores porque eles estão prontos para soltar um pouco daquela tensão toda. É uma parte importante. Isso funcionou muito bem por causa do nosso elenco.

    L.G.: Uma das coisas que eu mais gosto são as camadas que estão por trás do humor no filme. Não são piadas baratas ou óbvias. Uma delas, que me marcou bastante, acontece quando Sophie diz que "fantasmas não são reais". Ou seja, você tem a personagem que trouxe tudo isso, a que está mais envolvida na situação, a que está relacionada com o monstro de Alicia e ela sequer acredita nisso tudo. O nível de ironia dessa situação é brilhante e estabelece o tom do resto do filme.

    E.H.: O humor que eu mais gosto é aquele que parte de um bom comportamento. Não gosto de piadas maléficas, feitas só para insultar alguém. Isso faz com que você dê um espírito ruim para o filme e você já tem um espírito assim. Você está vendo um filme de terror. O objetivo [com o humor] é fazer o inverso, é fazer com que os personagens sejam agradáveis e que você não ria deles, mas das situações.

     

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