Minha conta
    Festival de Berlim 2015: Nicole Kidman, Juliette Binoche e o problema das princesas

    Depois da princesa do gelo, veio a princesa do deserto.

    As escolhas de programação no festival de Berlim 2015 certamente não são aleatórias. Ontem, a competição oficial começou com Nobody Wants the Night, aventura sobre uma mulher (Juliette Binoche) rica e teimosa, no início do século XX, que atravessa uma região inóspita com a ajuda de poucos moradores locais, na intenção de atestar a sua capacidade de sobrevivência e provar seu amor ao homem de sua vida. 

    Hoje, a competição continuou com Queen of the Desert, aventura sobre uma mulher (Nicole Kidman) rica e teimosa, no início do século XX, que atravessa uma região inóspita com a ajuda de poucos moradores locais, na intenção de atestar a sua capacidade de sobrevivência e provar seu amor ao homem de sua vida. A primeira percorria o gelo, a segunda percorre o deserto, mas os elementos são basicamente os mesmos.

    Infelizmente, assim como Nobody Wants the Night, Queen of the Desert não impressiona por seu roteiro, nem pelos atributos técnicos. O diretor Werner Herzog não precisa provar mais nada a ninguém, mas o veterano se perde nos códigos do cinema épico. Algumas cenas grandiosas despertaram risos no público pela trilha sonora exagerada e pelo romance açucarado entre Gertrude Bell (Kidman) e cerca de cinco homens diferentes que cruzam o seu caminho. James Franco e Robert Pattinson também fizeram o público rir, não tanto por suas atuações - os dois abraçam seus papéis com dedicação, assim como Kidman - mas pelos diálogos terríveis que são obrigados a proferir.

    A maior tristeza é ver que a história da descobridora, historiadora, cientista e militante Gertrude Bell foi reduzida a uma mulher que "ama demais", que se entrega a cada novo flerte no deserto. Entre a personagem forte e a personagem apaixonada, Herzog preferiu a paixão.

    O Irã cabe dentro de um carro

    Para compensar o retrato açucarado do Irã, a programação incluiu no mesmo dia a projeção do contemporâneo e urbano Taxi, filme iraniano de Jafar Panahi. O cineasta está proibido de filmar há anos, em função de uma decisão do governo, mas continua fazendo filmes escondidos e enviando a festivais.

    Para a surpresa geral, Taxi traz uma história leve, agradável e cômica, com grande probabilidade de se tornar o maior sucesso comercial da carreira do diretor. Após os sisudos Isto Não é um Filme e Cortinas Fechadas, Panahi muda radicalmente o registro e parte para um falso documentário.

    Com duas câmeras instaladas dentro de um táxi - e mais algumas câmeras móveis, de telefones celulares e máquinas fotográficas - ele dirige pelo Teerã enquanto conversa com passageiros. Algumas cenas são hilárias, ao mesmo tempo em que tratam de assuntos sérios, como a briga entre dois passageiros sobre os roubos na cidade, ou a intervenção de um homem que vende CDs e DVDs falsos. Panahi nunca esconde o fato de que esta é de fato uma ficção, encenada por atores, e além de discutir a morte, a violência e a política, ainda consegue embutir diversas reflexões sobre o papel do cinema e da liberdade de expressão.

    Taxi foi o primeiro filme realmente bom da competição oficial, apagando a impressão amarga do início e criando expectativas para os títulos seguintes.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Comentários
    Back to Top