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    Festival Guarnicê 2014: Balanço de um festival engajado e popular

    O festival foi marcado por obras de cunho social, tanto nos curtas-metragens quanto nos longas em competição.

    Após quatro longas-metragens e 35 curtas-metragens exibidos, o 37º Festival Guarnicê de Cinema concluiu a sua mostra competitiva. O último dia do evento vai apresentar os vencedores de acordo com o júri e o público, mas antes do anúncio, você pode conferir abaixo as nossas impressões gerais sobre a edição de 2014 do festival maranhense:

    Entre os curtas-metragens, foram grandes as diferenças de abordagem e de qualidade. O festival evidentemente privilegiou a produção local, apresentando 15 curtas maranhenses em 35 curtas no total. Dos curtas locais, seis são provenientes da mesma oficina, São Luís nos 4 Cantos, que efetua a tarefa louvável de promover o cinema na cidade e formar novos profissionais de cinema. A maioria das obras produzidas na oficina retrata personalidades da região (Patativa, Mestre Sapo, Apolônio Melônio), destacando o folclore e a cultura popular. No entanto, a escolha de tantos filmes dirigidos e editados pelos mesmos técnicos criou a impressão de repetição entre os curtas. Seria o caso de selecionar os filmes locais de maneira mais criteriosa, ou talvez separá-los em uma mostra específica? Cabe aos curadores a reflexão.

    No caso dos curtas-metragens de outros Estados do país, foram escolhidas principalmente grandes produções, com orçamentos muito maiores do que os curtas maranhenses - o que não significa que a qualidade era superior. Para cada ótimo curta, como A Despedida e Cine Centímetro, apareciam outros de roteiro fraquíssimo, como Dia Estranho e Espantalhos. O tom social e antropológico, marca da maioria das obras nordestinas (o que também inclui o curta Manchik, de Roraima), desapareceu das produções do Sudeste, onde as ficções de teor fantástico predominaram.

    Já os longas-metragens foram grandes surpresas. Fora de competição, foram exibidos desde grandes obras premiadas como Tatuagem até o minúsculo telefilme didático Darcy, um Brasileiro. Na competição oficial, as obras variavam do hermético O Exercício do Caos ao divertido Triunfo, do sofisticado Mataram Meu Irmão ao precário Escolha Seu Caminho. Em comum, os filmes têm a curtíssima duração e o baixo orçamento, mas também o foco nas classes desfavorecidas, sejam elas rurais ou urbanas. A cultura negra nas ruas, ilustrada em Triunfo, dialoga com as dificuldades das periferias de São Paulo em Mataram Meu Irmão. A violência da miséria, sugerida em O Exercício do Caos, torna-se explícita em Escolha Seu Caminho

    Com tamanha variedade em apenas quatro filmes selecionados em competição, percebe-se o engajamento político da curadoria do festival Guarnicê, que preferiu a coerência temática à coesão qualitativa. A denúncia social, estendida às dificuldades que o cinema encontra para se desenvolver no Maranhão, acabou seduzindo o público. Além disso, o festival teve excelente divulgação, sendo destacado em todos os jornais impressos e televisivos locais. Deste modo, o evento teve salas lotadas do início ao fim, precisando abrir sessões improvisadas para acomodar o público excedente. É sempre um prazer ver salas cheias em festivais de cinema, principalmente para assistir a obras exigentes como O Exercício do Caos, por exemplo. 

    Isso significa que, felizmente, os numerosos problemas da produção não desencorajaram os espectadores. Houve filmes anulados, sessões trocadas de última hora, projeções atrasadas, com a janela errada, com o som abafado, com pausas na exibição digital, e mesmo um filme que ficou sem conclusão - o infeliz Triunfo, cujos minutos finais permanecem um mistério ao público, devido a uma dificuldade técnica. São problemas graves, mas que podem ser resolvidos em edições futuras com uma organização melhor e mais testes na projeção. 

    A impressão final é de um festival feito com garra e poucos recursos, conseguindo estabelecer um belo diálogo com o público, além de garantir a formação de novas plateias (com as sessões infantis, sempre lotadas, do Guarnicezinho) e novos profissionais (com as muito elogiadas oficinas de roteiro, montagem, figurino, curadoria, contrarregragem e quadrinhos). Existem muitos pontos a melhorar, da curadoria à produção, e especialmente nas projeções. Mas estes problemas não impediram o sucesso do Guarnicê 2014.

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