Minha conta
    Festival Animaldiçoados 2013 quebra clichês sobre cinema de animação e terror

    Primeiro final de semana de mostra dedicada a curtas-metragens de animação para adultos teve sessões lotadas e produções das mais diversas, com filmes que assustam, mas também divertem e emocionam.

    Por João Vitor Figueira

    Ao longo das décadas, o cinema de animação ganhou popularidade graças aos filmes voltados para as famílias e às séries televisivas destinadas ao público infantil. Entretanto, está profundamente enganado quem acha que os todos os esforços artísticos empregados no gênero se concentram em tais produções. 

    Para mostrar que animação não se resume aos Toy Story's da vida e que as narrativas nem sempre têm um final feliz como nos contos de fada da Disney, é realizado anualmente, desde 2010, o Animaldiçoados - Festival Internacional de Animação de Horror. Segundo Alexander Mello, idealizador do festival, um dos maiores trunfos da mostra é fugir de estereótipos. “O festival quebra vários clichês. E não só o clichê do horror, geralmente ligado só a sangue e a demônios. Por ser um festival de animação, vê-se muito colorido e outras coisas que nem mesmo os amantes do terror estão habituados a ver”, afirmou o diretor e curador da mostra. Ele ainda ressaltou o lado underground dos curtas-metragens exibidos: "O Animaldiçoados tem este diferencial de abrir portas para novas produções. São novas mentes, novos animadores que não estão viciados no circuito de exibições de festivais. São pessoas que simplesmente estão lançando a sua criatividade de maneira livre”. 

    Animaldiçoados 2013

    A cidade do Rio de Janeiro está recebendo o evento, que teve início no sábado, dia 7 de setembro, e vai até o domingo, dia 15 do mesmo mês, no Cine Cultural Justiça Federal. O festival chega à capital paulista um mês depois, em temporada mais curta, nos dias 19 e 20 de outubro, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo - MIS SP.

    A edição deste ano conta com 51 curtas-metragens animados realizados em 18 países. Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país com mais produções no Animaldiçoados: 11, no total. O festival, que não é recomendado para menores de 18 anos, é dividido entre os trabalhos da Competição Internacional de Curtas, o Especial Horror Plástico (apenas com obras do animador Faiyaz Jafri), o Especial Azar em Dobro (com dois curtas tragicômicos do francês Osman Cerfon) e as duas sessões retrospectivas que apresentam filmes unidos por uma temática em comum, como a morte (Especial Morte Lhe Cai Bem) ou fantasmas (Especial Fantasmas Se Divertem).

    Os melhores curtas-metragens serão escolhidos pelo júri popular e pelo júri técnico, e contemplados com o troféu Animaldiçoados. A premiação será realizada no dia 15 de setembro. Até lá, quem não pôde assistir às sessões do final de semana de abertura terá a oportunidade de conferir os curtas em sessões realizadas durante a semana (veja a programação completa aqui).

    No primeiro final de semana no Rio de Janeiro, o Animaldiçoados teve quase todas as suas sessões lotadas. Nas poltronas, via-se um público bem diverso. Segundo Mello, o festival recebe desde “senhores que estão interessados em participar do circuito cultural do Rio de Janeiro a pessoas que já acompanham o terror há um tempo. De pessoas que simplesmente gostam de animação a pessoas que são apaixonadas por cinema de uma maneira geral”. A procura nos dias 7 e 8 de setembro foi tão grande que a possibilidade de ter uma segunda sala para exibições na próxima edição do evento já está sendo estudada. 

    Destaques da mostra competitiva

    A Competição Internacional de Curtas contou com 29 filmes, que foram exibidos divididos em quatro sessões. A grande (e grata) surpresa do Animaldiçoados é que, apesar do que o nome festival sugere, nem todos os filmes do têm o objetivo de meramente assustar. Sim, as narrativas dos curtas-metragens quase sempre estão relacionadas a temáticas mais obscuras, como morte, solidão, mistério e dor, mas as abordagens são bem variadas. São apresentados filmes que trazem reflexões sociais, enquanto outros, mais delicados, podem emocionar o espectador. Há ainda diversas obras que se destacam por seu caráter cômico e fazem uso do humor negro para arrancar boas doses de risadas da plateia. A diversidade pode ser observada não apenas no conteúdo, mas também na forma dos curtas, que apresentam uma pluralidade de técnicas que vão desde os desenhos tradicionais à animação digital, o stop-motion e a animação "em massinha" (ou "claymation"). 

    Se você se interessou, veja abaixo uma lista com os curtas que você não pode perder no Animaldiçoados 2013!

    The Hungry Corpse (Reino Unido)

    Com uma bela fotografia em preto e branco, este curta nos apresenta a um senhor-cadáver (dublado por Bill Nighy, de Piratas do Caribe - O Baú da Morte), que desperta de sua tumba e passa a perambular por Londres em busca de comida. O único ser que o dá atenção é um pombo rejeitado pelas outras aves. Não é difícil perceber o cadáver como uma metáfora para os moradores de rua, que vivem sempre maltrapilhos, invisíveis para a sociedade, os verdadeiros mortos-vivos das metrópoles.

    Quinto Andar (Brasil)

    Um homem pacato só interrompe seus momentos de solidão em seu apartamento para usar uma máscara de lobo e ir para o escritório trabalhar. Enquanto isso, sua rotina é narrada por uma mulher misteriosa que o observa. A relação entre homem e cidade também é explorada aqui, mostrando o espaço urbano como um local que “dobra sonhos” e sufoca.

    Butterflies (Austrália)

    Dirigido por Isabel Peppard, que trabalhou no departamento de arte do aclamado Mary e Max: Uma Amizade Diferente, Butterflies tem uma sensibilidade pueril. Na trama, borboletas grotescas e belas ajudam uma jovem artista a lembrar dos sonhos que tinha na infância. Porém, quando ela aceita fazer ilustrações numa fábrica de cartões, sua criatividade vai acabando, as borboletas vão desfalecendo e a mulher começa a viver um pesadelo.

    O Rei Está Morto (Brasil)

    Cheio de referências ao cinema épico e ao cinema de ficção científica, o filme dá vida às peças do jogo de xadrez, que nutrem uma rivalidade histórica e disputam territórios sem hesitar fazer o uso da violência. Usando a técnica do stop-motion e bonecos de massinha, este curta conta com uma voz familiar na narração: Luiz Feier Motta, dublador oficial de Sylvester Stallone e Steven Seagal no Brasil.

    Prita Noire (México)

    Presas em um espaço desértico, duas irmãs se sentam e sentem o tempo passar. Uma cresceu (e é interpretada por uma atriz de carne e osso), enquanto a outra, de feições aterrorizantes, não tem mais do que alguns centímetros de altura, vivendo dentro de um pote de vidro que fica nas mãos da irmã maior. A história sobre dependência mútua é contada com o auxílio de uma primorosa direção de arte. A trilha sonora conta com um coral de crianças, o que ajuda a dar um toque sublime, mas ao mesmo tempo assustador, na obra.

    La Casa Triste (México)

    Dirigido por Sofìa Carrillo (a mesma animadora do já citado Prita Noire), o curta mostra uma casa cujas goteiras são lágrimas e os objetos inanimados ganham vida para contar os amores e tragédias de uma família. Com uma narrativa repleta de poesia, La Casa Triste é um dos curtas mais bonitos do Animaldiçoados 2013. Uma curiosidade: todos os brinquedos antigos vistos no filme foram comprados em brechós.

    Garota Gótica (Brasil)

    Depois de arrancar gargalhadas do público, este foi o único curta exibido no primeiro final de semana do Animaldiçoados que foi aplaudido após o término da sessão. Os motivos? A animação digital é excessivamente (e talvez propositalmente) tosca e tem a narração da voz robótica da mulher do tradutor do Google, que no curta apresenta os clichês da cultura gótica.

    Saturday the 14th (Canadá)

    Como seria o dia de descanso de um serial killer? Neste bem humorado curta, conhecemos Mason, que faz uma paródia do personagem Jason de Sexta-Feira 13.

    Memento Mori (Bélgica e Bolívia)

    O título do curta vem da expressão em latim que significa algo como "lembre-se de que você vai morrer". Na tela, vemos uma moça que é abusada sexualmente antes de aceitar dançar com a morte. A música intensa cria um forte casamento com a imagem e o efeito é uma narrativa que, mesmo sem palavras, desperta diversas emoções.

    Sangre de Unicórnio (Brasil)

    Não se deixe enganar pela predominância de tons de rosa, nem pelos unicórnios, e muito menos pelos ursinhos. Sangre de Unicórnio apresenta a relação de amor e ódio, admiração e inveja, entre dois irmãos ursos que são uma espécie de Caim e Abel.

    No Littering (Japão)

    A mensagem é simples: Não jogue lixo no chão se não quiser morrer .

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top