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    Exclusivo: "Bonitinha, mas Ordinária é o primeiro filme com a minha cara", diz o diretor Moacyr Góes

    O diretor de Xuxa Abracadabra e Irmãos de Fé comenta a mudança de rumos em sua carreira e a dificuldade de adaptar uma obra tão polêmica quanto a peça Bonitinha, mas Ordinária.

    por Francisco Russo e Bruno Carmelo

    Bonitinha, mas Ordinária demorou muitos anos para chegar ao cinema. Este projeto de 2008 passou por dificuldades de produção e por problemas legais (quando uma cena de sexo foi divulgada na Internet), mas nesta sexta-feira a adaptação da obra de Nelson Rodrigues enfim chega aos cinemas. O diretor Moacyr Góes conversou francamente com o AdoroCinema sobre esses problemas de produção, sobre os outros filmes de sua carreira - ele é o autor de Irmãos de Fé e vários filmes da Xuxa - e demonstrou grande satisfação com este último projeto, que ele considera "o primeiro filme com a minha cara".

    Bonitinha, mas Ordinária traz a história de Edgard (João Miguel), um homem com uma séria decisão amorosa a tomar: por um lado, ele é apaixonado pela batalhadora Ritinha (Leandra Leal), mas recebe uma oferta em dinheiro para se casar Maria Cecília (Letícia Colin), a filha de seu patrão, que busca um matrimônio para ocultar a desonra de ter sido estuprada.

    Bonitinha, mas Ordinária

    Confira a conversa com o diretor:

    Eu me lembro de quando foi anunciado o início das filmagens de Bonitinha, Mas Ordinária. Na época, você estava muito eufórico, a Letícia tinha acabado de ser escalada. Cinco anos depois o filme foi exibido, diante de um grande público que reagiu bem. Como foi lidar com a indefinição sobre a estreia?

    Ontem foi a melhor sensação dos últimos quatro anos, porque o filme foi para a tela de cinema, com o público vendo. Eu sempre esperei por esse dia. Foi bacana, porque a reação do público foi muito positiva. Quando você cria alguma coisa, você cria para o público, para botar na vida, e neste momento ele não tem pertence mais, pertence às pessoas. Cada um vai achar uma coisa, relacionar com as suas próprias experiências. Foi angustiante esperar quatro anos, mas agora foi muito prazeroso. Fica uma sensação de que o filme não envelheceu com quatro anos. Ele está vivo, eu gosto do filme, era o que eu queria fazer. Eu saio com uma sensação positiva e boa de que tenho um filho no mundo.

    Algo que chama muita atenção nesse filme é a atualização para os dias atuais, especialmente a curra transportada para um baile funk, que é totalmente carioca. Como você procurou conduzir a atualização do filme?

    Eu quis tirar todo o folclore e todo o preconceito que gira em torno da obra do Nelson, e especificamente sobre Bonitinha, mas Ordinária. Quando se pensa nele, em função do título, dá para pensar que a história gira em torno de sexo e nudez. Mas não é isso. É uma história que reflete sobre crises de valores, crises éticas, é uma história que reflete sobre como o sexo comparece na relação entre as pessoas. A história é uma grande reflexão crítica sobre o mundo, sobre a atualidade.

    Eu já achava atual, mesmo tendo sido escrito na década de 1960, e quis passar para hoje porque é uma questão pertinente no Brasil de hoje. Essa adaptação favorecia a retirada de todo esse folclore. Eu não quis fazer um filme teatral, eu queria que ele dialogasse com teatro, mas fosse filme. Eu achava que seria mais pertinente fazer a adaptação para os dias de hoje.

    Durante as filmagens, você pediu para os atores assistirem a outras versões, ou alguma versão de teatro?

    Não, eu me distanciei absolutamente. Eu vi as outras versões há muito tempo. Eu não revi para fazer o filme, e não revi depois disso. Eu tentei ficar distante de outras versões do Nelson.

    Você tocou na questão do sexo, e o filme passou por uma questão delicada, quando a cena da curra da Letícia foi divulgada na Internet. Isso gerou uma polêmica, ela chegou a abrir um processo por isso. Qual foi o impacto na produção? Vocês chegaram a alterar a edição final?

    Não, nada foi mexido em função do que aconteceu. Eu vou te falar com sinceridade: tudo que há em torno do filme é uma coisa que eu sei que existe, sei que tem importância, mas pessoalmente eu não tenho muito interesse. Minha angústia de botar o filme na tela era exatamente essa: eu respondo pelo filme, por nada além disso. Podemos discutir o filme, as minhas opções. Além das minhas intenções, o filme responde por ele mesmo. Eu ouvi de tudo ao longo desses quatro anos. Mas eu sempre acreditei que, quando o filme entrasse em cartaz, ele falaria por si mesmo.

    Durante quatro anos, você trabalhou sem parar no cinema. Foram doze filmes, algo raríssimo em tão pouco tempo. Depois do Bonitinha, você parou. Por quê?

    Depois de certo tempo, eu decidi fazer projetos com que eu me identificasse artisticamente, e isso torna a coisa mais difícil. Eu voltei ao teatro e fiz peças, algo que me encanta demais, e agora estou levantando a produção de um filme meu, uma comédia minha. É assim no Brasil. Eu fiz muitos filmes contratado como diretor. Mas a partir de Bonitinha, eu preciso fazer filmes que sejam mais a minha cara. Isso tem uma certa dificuldade. Mas não houve nenhuma intenção de me afastar do cinema, eu não me sinto afastado do cinema. Eu me sinto tentando filmar, como a maioria dos cineastas brasileiros.

    O Diler (produtor do filme) comentou que talvez vocês façam outra adaptação do Nelson Rodrigues. Você pode falar mais sobre isso?

    Não tem absolutamente nada certo. Ele acha que dependendo do resultado do Bonitinha, podemos fazer mais um filme a partir de uma obra do Nelson, mas não tem nada certo, não tem texto escolhido.

    Vocês têm uma meta de espectadores, uma estimativa para o público do filme?

    Eu obviamente gostaria de ter o maior número possível de espectadores. Eu quero o sucesso dos filmes e das peças, quero que seja campeão de bilheteria. Mas eu faço sempre para uma pessoa: aquele que vai ver. Se a pessoa que foi ver gostou, e a peça foi importante por algum motivo, levou a alguma reflexão ou divertimento, para mim já está bacana. A questão de público é muito mais de produtor e de mercado. A minha questão é o set, a criação, é fazer o filme. Principalmente esse, que é o primeiro filme meu, com a minha cara. Vamos ver o público que ele é capaz de fazer. Isso independe da qualidade do filme. Há filmes extraordinários que não vão bem na bilheteria, há filmes que não são extraordinários e vão bem. Não depende só do filme. É um mercado difícil. Depende de como o público reage, de como é a distribuição em sala, a divulgação, o boca a boca...

    Você tem previsão de filmagem para a sua nova comédia?

    Eu espero rodar essa comédia no final do ano. Estou tentando levantar financiamento. É um projeto completamente autoral e alternativo. Eu vou fazer com câmeras digitais, que estão sendo compradas para isso. Eu não quero que seja um filme grande, para que ninguém se meta. Eu quero fazer da minha maneira, bem ou mal. É uma comédia muito crítica, eu preciso ainda escolher o elenco. Só tem algumas pessoas certas: o personagem principal vai ser o Lúcio Mauro Filho, que leu o roteiro e adorou.

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