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    Entrevista exclusiva com Selton Mello e Luiz Bolognesi, de Uma História de Amor e Fúria

    O AdoroCinema conversou com exclusividade com o ator e o diretor da animação brasileira que acaba de chegar aos cinemas. Confira o bate-papo completo!

    por Lucas Salgado

    Uma História de Amor e Fúria acaba de chegar aos cinemas brasileiros e o AdoroCinema aproveitou a ocasião para bater um papo exclusivo com o ator Selton Mello e com o diretor e roteirista Luiz Bolognesi. O primeiro empresta sua voz ao protagonista do longa, mas avisa que foi um trabalho bem diferente de dublagem. Já o cineasta conta como foi ver o projeto pronto após 10 anos de produção.

    INÍCIO DO PROJETO

    "A ideia surgiu 10 anos atrás quando a gente estava lançando Bicho de Sete Cabeças. Naquele momento, um pouco impulsionado com o sucesso que o filme estava fazendo, resolvi me perguntar o que eu gostaria de fazer. E o que eu mais queria fazer era um desenho animado. Eu tenho duas paixões, que são quadrinhos e a história do Brasil. Então resolvi fazer um filme que misturasse essas duas coisas", afirmou Bolognesi.

    A entrada de Mello veio um pouco depois. "Eu já tinha o desejo de trabalhar com o Luiz já há algum tempo. Ele me apresentou a ideia de fazer uma animação e se eu poderia emprestar a minha voz. Topei imediatamente, pois admiro muito o trabalho dele, e só então fui entender o que era o projeto", afirmou o ator.

    ANIMAÇÃO

    Luiz Bolognesi pode ter levado 10 anos para concluir o filme, mas não reprovou a experiência. Ele adiantou que pretende dirigir outra animação em breve. Já Mello não se vê dirigindo um desenho, como deixa claro a seguir: "O formato da animação é algo bastante interessante, mas acho que eu não me meteria a fazer uma animação. É algo muito trabalhoso. O Luiz dedicou quase dez anos a este projeto. É muito tempo, acho que não teria essa paciência toda." 

    DUBLAGEM

    "Eu fui dublador durante toda minha juventude. Trabalhei com a minha voz num período muito feliz da minha vida. Eu aprendi muito com a dublagem e agora me aparece um projeto em que eu tinha só a voz para me expressar", disse Mello, que fez questão de frisar que o processo da dublagem foi um pouco diferente nesta produção. "A diferença é que agora eu fazia a voz e depois eles desenhavam em cima. Durante anos da minha vida eu dublava, eu tinha que ter sincronismo. Dessa vez eu gravei e o pessoal que se virou. Foi divertido, pois foi o contrário do que eu sempre fiz. Foi um trabalho de ator, mais do que de dublador. Eu só tinha a voz, não tinha desenho nenhum para me guiar. Só tinha o Luiz ali. E a minha imaginação."

    "No fundo no fundo não há dublagem", explica Luiz, que continua: "Eu gravei com o Selton e com a Camila Pitanga antes de desenvolver as animações e as vozes deles que inspiraram os animadores". 

    DIFERENTES ÉPOCAS

    O longa se passa em quatro períodos diferentes da história, sendo um futurístico e outros três baseados em fatos reais. Segundo o cineasta, adotaram dois critérios na escolha das épocas: "Queríamos episódios que fossem espetaculares do ponto de vista dramático e que ao mesmo tempo tivessem sido importantes para mudar a história. Acabamos com a chegada dos europeus, com uma revolução negra no Maranhão e com a ditadura militar."

    Selton destacou que não quiseram mudar radicalmente a voz do personagem em cada período. "A gente queria uma interpretação bem naturalista e realista. Não queria ficar fazendo várias vozes. São vários personagens, mas na verdade é o mesmo cara", resumiu.

    INSPIRAÇÃO

    "A gente se inspirou muito nos desenhos animados japoneses e sul coreanos, numa tradição que vem do Anime. Eu queria muito fazer um filme usando a técnica clássica de animação, de lápis sobre o papel. Não queria fazer animação digital, com bonequinhos modelados no computador", disse o diretor. 

    HISTÓRIA DO BRASIL

    Marido da diretora Laís Bodanzky, Bolognesi quis contar uma história diferente da dada em sala de aula. "A história do Brasil é contada de uma maneira muito expurgada. Limpou-se da história do Brasil tudo que incomoda, tudo que é contradição e ficou uma história para boi dormir. É aquele papo: 'O Brasil não tem furacão, não tem terremoto e somos um povo pacífico.' Pacífico? Há 500 anos que vivemos em estado de violência pura. Na verdade, antes dos europeus chegarem, os índios que estavam aqui já viviam em guerra o tempo todo. É uma história feita de violência e massacres, e a gente não encara essa realidade. Então eu queria contar justamente esta versão. A ideia sempre foi pegar tudo isso que foi varrido para debaixo do tapete e colocar em cima da mesa de jantar", afirmou.

    PESQUISA

    "A gente teve uma pesquisa muito grande. Eu contratei cinco pesquisadores, sendo que três eram mestrandos em antropologia, um em história e outro em psicologia. Passamos um ano pesquisando para escolher quais fatos a gente ia selecionar", revelou Luiz.

    LIBERDADE

    "Para um roteirista, o desenho animado é extraordinário. Você não tem limites. Onde sua cabeça vai, a produção vai atrás.", afirmou o cineasta.

    PRÓXIMOS PROJETOS

    "Como ator eu não tenho nenhum plano nos próximos tempos. E no cinema, depois de O Palhaço, ainda não estou sabendo qual será meu próximo filme", avisou Mello. Ele, no entanto, não está parado, mas sim trabalhando na segunda temporada da série Sessão de Terapia, que dirige para o GNT.

    Já Bolognesi está com alguns projetos em visto. "Eu estou escrevendo o próximo filme da Laís, que chama Como Nossos Pais, que eu estou indo pro segundo tratamento, e estou escrevendo um roteiro para o Daniel Rezende, que se chama A Vida de Palhaço", destacou.

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