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    360 - Entrevista com Fernando Meirelles e Maria Flor

    "Anthony Hopkins é fofo", diz Fernando Meirelles. Conversamos com o diretor e com a atriz Maria Flor durante o Festival de Gramado 2012 e também no Rio de Janeiro. Eles falaram sobre o filme 360 e muitas outras coisas interessantes, não necessariamente "fofas". Confira abaixo!

    por Roberto Cunha e Lucas Salgado

    O AdoroCinema quer sempre trazer o máximo de informações para seus leitores. Por isso, não nos contentamos em conversar com Fernando Meirelles e Maria Flor no Festival de Gramado 2012. Também participamos de uma coletiva de imprensa com a dupla no Rio de Janeiro. Tudo para divulgar 360, mais novo trabalho do diretor de Cidade de Deus. Veja o que de melhor pintou nas entrevistas logo abaixo.

    Sobre a escalação do elenco europeu

    Fernando contou que não chegou a dar palpite na seleção. Para ele, a possibilidade de ter um elenco rico em termos de nacionalidades foi um dos aspectos que fizeram topar realizar o filme. "De cara eu sabia que poderia trabalhar com gente muito boa e porque iria precisar deles por uma semana de cada um no máximo. Achei que ia conseguir e de fato consegui", disse ele. Além dos rostos mais conhecidos, como Anthony Hopkins e Jude Law, por exemplo, Meirelles contou que os outros são muito famosos em seu país de origem ou tem uma trajetória de peso popular.

    "O russo foi o caso mais interessante. Eu queria alguém de lá mesmo e começamos a baixar filmes da região" (nessa hora ele pediu desculpas pela atitude e fez o pessoal rir), mas era por uma boa causa". Ele contou que gostou do rosto do ator e mesmo sem entender patavinas do que era falado nos filmes, procurou o agente e fez uma proposta. Nessa hora, arrancou risadas: "Você estão malucos. Ele é o Vladimir Vdovichenkov e vocês estão oferecendo um décimo do que ele ganha para sair de casa. O cara é uma espécie de Wagner Moura da Rússia", concluiu ele dizendo que ofereceu a mesma coisa que todos do elenco. Acabou que eles pularam o agente e conseguiram convencer ele.

    Ele contou ainda que as duas eslovacas foram as únicas que ele realizou testes de leitura. Sobre a participação de Jamel Debbouze, ele disse que foi o único selecionado desde o começo. "Esse aqui (o papel) é para o Jamel. E a gente adiou o filme 10 dias só para conseguir três de filmagem com ele. Sou fã desse cara", acrescentando que os olhos sempre brilhantes do ator é um diferencial que ele não cansa de admirar. Sobre a escalação de Marianne Jean-Baptiste , Meirelles contou que queria inserir um negro na trama e como ele admirava o trabalho dela, o convite foi feito. "Eu achei que ela não iria topar porque mora em Los Angeles e faz série de TV (Harry's Law), mas eu dei uma ligada pessoalmente e ela veio para Londres". No Rio, o diretor lamentou ter cortado bastante da participação da atriz, cuja personagem tinha maior importância no texto.

    Várias línguas

    O diretor destacou que não teve problema em realizar um filme em que são faladas várias línguas, reforçando que conversava com boa parte do elenco em inglês, português e francês, e que usava um tradutor algumas vezes para falar com os atores russos. "É impressionante como a interpretação não é mesmo sobre o sentido das palavras, é sobre um olhar, uma postura", destacou.

    Sobre o roteiro

    Fernando contou que recebeu o trabalho fechado do Peter Morgan e que o embrião da história foi a comemoração dos 100 anos de nascimento do autor Arthur Schnitzler. "Eu não mexi em praticamente nada. O filme é muito mais do Peter do que meu, uma história completamente original. Ele fez sem receber porque era uma história muito pessoal para ele. É um filme nosso. A única coisa que eu fiz foi colocar aquelas transições." A ideia para a presença de brasileiros já estava prevista e a escolha foi óbvia porque já tinha trabalhado com Maria Flor e Juliano Cazarré em Som e Fúria e tinha ficado fã da dupla.

    O brasileiro disse que a relação com Morgan foi ótima e que foi convidado para fazer outros três ou quatro projetos com ele, inclusive Rush, sobre o Niki Lauda, mas que recusou. "Tenho certeza que a gente ainda vai trabalhar juntos novamente", destacou.

    A fotografia lavada

    Meirelles criticou a exibição no Palácio dos Festivais porque não tem nada a ver com a fotografia do filme que é de Adriano Goldman, já premiado por seus trabalhos no Festival de Sundance, entre outros. Meirelles disse, inclusive, que as imagens são fortes, limpas e ele não entende como a imprensa nacional não dá a devida atenção para o profissional, atualmente o mais internacional dos brasileiros na função.

    Uma coisa nova na carreira

    Desde a abertura do evento, quando o diretor disse que o filme era bem pequeno e intimista, o assunto parecia permear a cabeça de alguns jornalistas que não concordavam com a definição dele. Fernando insistiu na ideia e definiu assim: "Foi a experiência mais prazerosa da minha vida, foi como nove filminhos diferentes". Ele disse ainda que foi interessante transitar entre gêneros diferentes de filmes no mesmo filme. "Eu não faria de novo um filme coral (com vários personagens) porque tem um lado frustrante. Cada história tinha assunto para render mais e você tem apenas nove minutos e depois abandona. É o maior desafio desse tipo de filme e eu sofri", concluiu.

    Questionado pelo AdoroCinema, no Rio, como poderia chamar de simples um longa com nove histórias, passado em quatro países e falado em seis línguas, Meirelles afirmou: "Talvez tenha me expressado mal, o que quis dizer é que é um filme mais íntimo. Os meus outros trabalhos sempre tinham algo grande por trás, o tráfico no Rio, a indústria farmacêutica internacional e o colapso da civilização, mas neste filme aqui não, que é sobre decisões de cada um."

    Retornando para Gramado

    Fernando contou sobre a primeira experiência na cidade em que ele esteve na cidade para a sessão de abertura (O Quatrilho), as pessoas sentaram no corredor para assistir e Luiz Carlos Barreto entrou gritando com todos. "O filme começou e eu não assisti. A primeira vez que eu vi ele foi assim, gritando com todo mundo, coronel assim, gritando com o público. Uau! Esse é o nosso homem."

    Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto

    Orçamento e filmagens no leste europeu

    O filme custou US$ 14 milhões e está vendido para 48 países e estreou na França e nos Estados Unidos na quinta-feira. Sobre as filmagens disse que tudo correu tranquilo porque eles filmaram em Bratislava e a fronteira é aberta. Ele contou também que trabalharam com produtores locais em cada lugar que rodaram e eles tomaram conta disso perfeitamente.

    Rodar com Anthony Hopkins

    "Ele foi muito gentil." Meirelles contou que Flor chorou depois da primeira conversa com ele e imitou ela falando: "Ele é muito fofo", provocando risos. A atriz disse que ele foi muito generoso, que o encontro foi informal, chegou "desarmado" e queria fazer ele mesmo e com essa coisa de ser alcoólatra. Está na internet. Por isso estou contando."

    Ele é muito simples, muito econômico. O olhar dele conta tudo. "Foi uma experiência que marcou muito minha vida de atriz", frisou ela sobre trabalhar com o ator Ela ressaltou ainda que Hopkins é muito técnico, focado na câmera, deixando nela uma sensação de sozinha. O mesmo não aconteceu com Foster. "É fogo contracenar com Anthony Hopkins porque o público olha para ele. Não vai sobrar nada", lembrou ela que usou de alguns artifícios para "crescer" em cena com ele.

    Ben Foster e o método

    No Rio, Maria Flor falou um pouco sobre como foi trabalhar com Ben Foster, que fez um pedido inusitado para ela. "O Fernando achou que seria legal a gente fazer uma leitura do roteiro, mas o Ben Foster não quis me encontrar. Ele achava que como nossos personagens não se conheciam a gente poderia aproveitar isso para a cena. Ele é praticante do Método e fica no personagem o tempo inteiro, é muito intenso. Eu embarquei na onda dele e acho que ele fez uma ótima proposta. A gente só se olhou e se falou no 'ação'", disse a atriz.

    Meirelles também foi só elogios ao trabalho de Foster, disse até que o vê em um "top 5 atores de Hollywood" em alguns anos.

    Rachel Weisz e Jude Law

    "A Rachel quase não fez o filme. Ela me ligou e disse que não poderia. Ele estava separando do marido, o filho tava fazendo a adaptação na nova escola, tava com a vida muito confusa e achava que não era a hora de sair de Nova York. Mas eu fiz uma bela chantagem emocional, disse que eram só cinco dias de filmagens e ela acabou topando", disse o diretor, que já havia dirigido Weisz em O Jardineiro Fiel, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. "Eu gosto dela porque ela gosta muito de improvisar e é muito inteligente. Mas é uma mulher complicada, no bom sentido. Ela é tumultuada. Muito insegura, sempre acha que não vai dar certo a cena. Dá um pouco de trabalho", completou.

    "O Jude é um lorde inglês. Super seguro, sabe o que quer, o que precisa e vai lá e faz. E ele adora baladas", revelou Fernando. O diretor, no entanto, garantiu que isso nunca atrapalhou o trabalho do ator. "Ele ia dormir às 5h da manhã, mas às 7h ele tava inteirão", brincou.

    Menos personagens

    O cineasta revelou que se fosse começar o longa de novo que provavelmente cortaria um ou dois personagens. "O problema de muitos personagens é que você não tem tempo para desenvolver", disse.

    Sobre a existência de brasilidade no filme

    Fernando disse que isso acontece naturalmente, pode estar num jeito de contornar um problema técnico ou até mesmo a capacidade de lidar com o improviso numa cena. Ele disse, por exemplo, que a cena com Juliano e Rachel Weisz seria bem mais curta no roteiro, mas ela rendeu e ficou. A flexibilidade, para ele, é a marca registrada.

    Rio, Eu Te Amo

    Perguntado como a experiência com 360 iria ajudar no projeto Rio, Eu Te Amo, já que é um filme com várias histórias, contou ter sido convidado para rodar o projeto em 2010, mas está totalmente parado.

    Corte de uma bela cena

    Meirelles, disse que a primeira cena do AA com Hopkins durou sete minutos e a equipe entrou em pânico porque eles não tinham rolos grandes. Ele disse que o público vê então parte dessa porque teve que cortar o resto: "Foi uma pena porque a cena é muito bonita".

    Sobre a trilha

    Embora seja sua estreia como responsável pela trilha sonora, Ciça Meirelles disse que essa rotina não era nova para ela, que isso já tinha acontecido desde Cidade de Deus. Ela contou mexe com música há muitos anos e essa tinha sido a primeira vez que tinha sido oficialmente contratada. E com o acesso ao roteiro, algo que não tinha acontecido antes, a pesquisa fluiu naturalmente porque para ela ao ter contato com a cena (escrita ou filmada) as canções iam preenchendo. Sobre o curioso ringtone de um dos personagens, ela disse para o pessoal que era o seu toque de telefone.

    Robert Altman e Xingu

    Incitado sobre o formato coral dos filmes, perguntaram se ele já tinha alguma ligação com o gênero. Ele revelou ser fã de Roberto Altman que fez quase tudo nesse formato. "É uma referência, mas ele faz filmes mais loucos", lembrando que seu filme tinha uma um gancho, uma linha, ao contrário do cineasta que mostra o universo através das pessoas, como fez com a moda em Paris ou o mundo country etc.

    Sobre Xingu, disse que a declaração (sobre realizar filmes no Brasil) foi feita na época da estreia, que foi fraca. "Xingu acabou melhorando. Está chegando nos 400 mil e isso no Brasil não é fraco. É menos do que a gente imaginava, mas não é um desastre", e completou dizendo que o filme foi cortado em quatro episódios e vai virar série para a TV Globo e "ter o público que merece".

    Filmes no Brasil

    Disse que vai rodar um filme no Brasil, não vai ser Grande Sertão Veredas porque seria mais complicado, muito caro demandaria um esforço emocional, de tempo, dinheiro, e "o público brasileiro não estaria interessado em ver filme de jagunço".

    Blockbusters

    O diretor admitiu que já recebeu vários convites para grandes produções de Hollywood, mas que até hoje não aceitou. "Não dá pra dizer que eu não aceitaria, mas os que me propuseram eu não topei. Prefiro continuar nas produções independentes, em que o produtor é seu parceiro e não seu patrão."

    Nemesis

    Na coletiva no Rio de Janeiro, Meirelles falou também sobre seu próximo projeto. "Estou começando a preparar o Nemesis, sobre a vida do Aristóteles Onassis, que eu devo rodar em novembro. O elenco deve ser anunciado agora no Festival de Toronto", revelou. Nos últimos dias, surgiu a informação de que Javier Bardem, Robert Downey Jr.Charlize Theron estariam cotados para o filme. O diretor, no entanto, disse que não poderia falar mais nada sobre o projeto.

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