“Contar uma história na periferia é mostrar a complexidade de pessoas que são sempre tratadas como uma estatística”: Regina Casé, Humberto Carrão e Digão Ribeiro estrelam suspense carioca
Beatriz Costa
Beatriz Costa
A maior fã de Shrek que você vai conhecer. Apaixonada por universos de fantasia e capaz de defender um grande vilão só por achar que ele é gente boa.

Com direção de Angelo Defanti, o longa Um Rio de Janeiro adapta o livro “Vento Sudoeste” de Luiz Alfredo Garcia-Roza, mas a partir de uma nova perspectiva.

Um Rio de Janeiro é o novo filme de Angelo Defanti, conhecido por seu trabalho em O Clube dos Anjos. Estrelado por Regina Casé, Humberto Carrão e Digão Ribeiro, que faz sua estreia como protagonista, o longa-metragem é uma adaptação do livro Vento Sudoestre de Luiz Alfredo Garcia-Roza. Nós visitamos o set de filmagem e conversamos com o elenco e o diretor sobre a produção.

Na trama, Gabriel (Digão Ribeiro) procura a polícia para confessar um crime que ainda não aconteceu, mas ele acredita estar destinado a assassinar alguém em 6 meses. “Assim, ele se vê condenado a contar uma história que não quer.”, comentou o protagonista. Durante a visita, acompanhamos a gravação de uma cena intensa entre Digão e Carrão, ambientada na delegacia, quando Gabriel confessa um crime que não cometeu na tentativa de que seja preso e, assim, impedido de concluir sua profecia.

“O personagem é muito mais crivado de dúvidas do que de certezas de que algo vai acontecer. Isso serve como metáfora entre como o Brasil olha a sua própria história e como o indivíduo pode analisar como será o seu futuro ou como alguém pode reservar um futuro para outro.” , comentou o diretor Angelo Defanti sobre a trama.

Enquanto o livro é totalmente ambientado na Zona Sul do Rio de Janeiro, o filme irá trazer essa história para uma região periférica, o bairro Bangu. Quando questionado sobre a importância de explorar outras áreas da cidade maravilhosa no cinema, Digão disse: “Quando a gente pensa no Rio de Janeiro no audiovisual vem muito Copacabana e estereótipos do Rio de Janeiro que já foram muito exportados, mas que não mostram a nossa realidade. Então, quando o filme se propõe a pegar esse protagonista e botar em Bangu, ele vem justamente para trazer esse contraponto, mostrar esses dois lados da cidade e mostrar o quanto a gente é rico e diverso.”.

No filme, Regina Casé vive Alzira, mãe de Gabriel e apaixonada pelo Rio de Janeiro, enquanto todos duvidam da profecia, ela crê que tudo está conectado e que existe uma razão para todos aqueles eventos. A atriz citou que muitas pessoas veem suas personagens como iguais apenas por serem mulheres pobres e reforçou a importância de trazer diversidade para as telas: “É muito fácil você achar que cada mulher rica tem uma história de vida e que as mulheres que por exemplo eu interpreto que quase sempre são pobres são iguais. Então, você passar uma história na periferia é você criar uma dramaturgia e mostrar a riqueza e a complexidade de pessoas que são sempre tratadas como um número, uma estatística.”.

Humberto Carrão também integra o elenco como Welber, um policial civil que está retornando para a delegacia após ter sido alvejado no ombro e, agora, questiona sua própria capacidade. Ele é destinado a cuidar do caso curioso de Gabriel e acaba se envolvendo a fundo com essa história.

O roteiro chamou a atenção do ator desde o primeiro momento e foi o estilo único de Angelo Defanti que o atraiu para o projeto: “Eu acho que a estranheza sempre vence, é bom que seja estranho. Tem maluquice, tem leveza, mas ao mesmo tempo tem algo muito violento sendo dito ali para um homem negro, que é: você está condenado a matar alguém. E eu acho poderoso que ele diga: não!”.

“Como o Nelson Rodrigues dizia, acontece uma tragédia e o carioca faz uma chanchada no segundo seguinte. Isso é uma forma de sobrevivência, quase que uma tecnologia muito brasileira e inteligente de tentar superar o que os arredores tentam dizer o contrário.”, disse o diretor Angelo Defanti, fã do livro de Garcia-Roza, que buscou trazer diferentes gêneros para a obra a fim de retratar um mundo mais real, no qual mesmo em situações dramáticas ainda é possível rir.

Além de Digão Ribeiro, Regina Casé e Humberto Carrão, o elenco também traz Drica Moraes, Enrique Diaz e Pedro Ottoni. A equipe contou com quatro semanas de ensaio sob preparação de Nina Kopko, que para o diretor foi essencial para construir as relações entre os personagens: “É muito bom trabalhar com bons atores porque eles entendem isso. Eles criam uma camaradagem que emula o que tá dentro e fora da tela. Essas várias dinâmicas são muito difíceis de coordenar e a única resposta é com preparação e ensaio e depois que preparou, prepara mais um pouco.”.

“Regina Casé com filho negão, a primeira vitória foi essa!”, brincou Digão e acrescentou: “Eu, Regina e Pedro, a gente se olhou com muito carinho e pensou na história que a gente ia contar, nesses atravessamentos que os personagens traziam enquanto seres humanos de ver uma família sendo atravessada por uma questão tão absurda. Nós lapidamos, construímos de forma bem artesanal com a Nina e o Ângelo. Essa relação que preenche o filme.”.

Quando questionada sobre a relação com Digão Ribeiro e Pedro Ottoni, Regina demonstrou muito orgulho da parceria: “Fiquei encantada pelos dois, no segundo dia já achava que era filho de verdade. É uma oportunidade maravilhosa de estar com dois atores novos que eu nunca tinha contracenado. O Pedro muito preparado, técnico, focado… E o Digão, não menos, mas principalmente com uma vida, aquilo que a gente fala de verdade interior.”.

O Clube dos Anjos
O Clube dos Anjos
Data de lançamento 3 de novembro de 2022 | 1h 41min
Criador(es): Angelo Defanti
Com Otávio Müller, Matheus Nachtergaele, Paulo Miklos
Usuários
3,2
Adorocinema
3,5
Assista agora em Telecine

As gravações de Um Rio de Janeiro já foram finalizadas, mas o filme ainda não tem previsão de estreia.

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