Ao lado das grandes histórias de ação, terror e fantasia, o bom e velho drama intimista marcou presença na lista de destaques de 2025. É só olhar para a mais nova meditação do norueguês Joachim Trier em Valor Sentimental. Com uma história sobre traumas intergeracionais, relações parentais conturbadas e a força da arte para lidar com ambas as dores, Trier parece trilhar um caminho robusto até as maiores conderações da indústria cinematográfica americana, sendo cotado para categorias importantes de roteiro e direção no Oscar 2026.
Junto dele, outros longas dramáticos como Hamnet: A Vida Antes de Hamlet aguardam estreias no Brasil, mas já fizeram suas turnês por festivais dentro e fora do território nacional, recebendo elogios de todos os lados. Um título específico, porém, saiu despercebido do radar do público, apesar dos inúmeros prêmios recebidos ao longo do ano.
O longa de estreia da atriz e roteirista Eva Victor, a dramédia Sorry, Baby, traz uma abordagem sensível e aguçada para um tema difícil e já conhecido, principalmente, do cinema contemporâneo: os traumas que persistem após um assédio sexual. Dividido em capítulos, a trama acompanha a vida de Agnes antes e depois da violência com um olhar mais preocupado com os efeitos do evento em sua protagonista do que com a exposição dos pormenores do crime.
Sorry, Baby equilibra sensibilidade e humor diante de assunto espinhoso
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É pela amizade com a colega de curso Lydie, pela vida acadêmica e pelo carinho que nutre por um gato abandonado que Agnes tenta processar o que lhe ocorreu. Ao longo da narrativa, a personagem passa de uma promissora aluna de pós-graduação em Letras e Literatura para uma admirada professora universitária na mesma faculdade onde se formou. Ao mesmo tempo, a jovem parece estagnada e solitária.
Sua postura sóbria, senso de humor afiado e jeito calmo logo são acompanhados de olhares vazios, atitudes arredias, ataques de pânico, culpa, raiva e até uma piedade confusa pelo agressor. Esse turbilhão de sentimentos complexos e paradoxais é justamente o foco do roteiro singelo e potente da diretora Eva Victor cuja participação no filme também se estende para o papel principal.
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Victor dosa muito bem o tom cômico e dramático diante do tema espinhoso, conduzindo a história para uma conclusão tão humana e repleta de nuances quanto seus personagens. Sem tentar simplificar, rotular ou universalizar a experiência de Agnes, Sorry, Baby compreende que a vida de fato continua mesmo na companhia de uma dor debilitante. É como decidimos enfrentar essa dor, cuidar dos nossos dias e cultivar afetos que torna a dureza da vida mais suportável e até bonita.
Premiado no Festival de Sundance e indicado a melhor roteiro original no Critics Choice Awards, Sorry, Baby foi baseado num abuso sofrido por Eva Victor no passado. Agora, a cineasta está indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz, tendo o filme ainda na lista de melhores do ano do New York Times, além de qautro indicações ao 41º Film Independent Spirit Awards em melhor filme, direção, roteiro e atriz coadjuvante.
Sorry, Baby está em cartaz nos cinemas brasileiros desde o dia 11/12.